Experiências Emocionais em Situações de Consumo
Experiências Emocionais em Situações de Consumo
Experiências Emocionais em Situações de Consumo
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
Oscar Wilde
iii
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Walter Nique, pelo apoio irrestrito a todas as decisões que
tomei durante esses dois anos de mestrado, estivessem elas certas ou não. Não tenho palavras
para agradecer a confiança no meu trabalho, o incentivo à carreira acadêmica, os empurrões
(foram tantos), o suporte aos meus primeiros passos, a sacudida nas horas certas, enfim... O
que terei para falar então da sinceridade, amizade e admiração que ficam?
Ao Prof. Fernando Bins Luce, pelo exemplo de conduta, pelas aulas em que tanto
aprendi, pela confiança e incentivo que recebi desde a graduação até os dias de hoje e pelas
oportunidades durante o mestrado.
Ao Prof. Carlos Alberto Vargas Rossi, por compartilhar seus conhecimentos quase
poéticos sobre o comportamento do consumidor e sua visão fenomenal sobre estratégia
empresarial.
Ao Prof. Luis Antônio Slongo, pelo incentivo aos alunos do mestrado a fazer pesquisa
e escrever artigos e por estar sempre disposto a ajudar (e fazê-lo com gosto).
A esses quatro professores e ao Prof. Luiz Carlos Ritter Lund, pela minha formação na
graduação e no mestrado, uma gratidão que não pode se resumir a este momento, mas deve
perpetuar-se ao longo da minha vida.
Aos meus colegas do mestrado da turma de 2002, que já estão guardados junto com as
minhas melhores memórias: Andres, André, Guilherme, Gabriel, Patrícia, Marta, Cláudio,
Maurício, Daniel... Em especial, às girls, Tatiana, Karen, Letícia e Doriana, e aos nossos
memoráveis happy hours!! E também, é claro, aos amigos de outras turmas que fiz: Natalia,
Vinícius, Dilney, Karine, Fabiano, Rubens, Leonardo e Carla, Stefânia, Juliano, Fabiane.
Às minhas amigas queridas, que estão sempre bem ao meu lado nos momentos de
risadas e choros, conquistas e dificuldades, comemorações e formalidades, praias e artigos,
mesmo estando espalhadas pelo mundo: Ana, Leca, Natalia, Renata, Manuela, Fernanda,
Adriana, Camila, Luciane, Carla, Lívia, Tatiana. Sem vocês não teria a mesma graça! :)
À minha família, Ivan, Irene, Cristina, Renan e Viviane, a quem dedico essa
dissertação. A estrutura que vocês me forneceram foi indispensável para passar por esta etapa
da minha vida com (relativa) tranqüilidade. Muito obrigada! Eu diria que vocês são um pouco
mestres também (principalmente o Renan, que participou de vááárias pesquisas!)
v
RESUMO
ABSTRACT
This master thesis examines the formation of emotions in consumtion experiences and
how these emotions influence consumer attitude and behavioral intention. After considering
theoretical evidence on the influence of emotions on post-consumption judgements, we expect
to understand the formation of emotions in consumption contexts by testing the effect of two
cognitive appraisals: goal congruence and goal relevance. Goal congruence is the extent to
which an event is congruent or incongruent with an individual’s plans or desires; goal
relevance is the extent to which an event is personally important and helps achieve personal
goals. Stemming from these considerations, we developed a theoretical model that includes
two appraisals (goal congruence and goal relevance), positive and negative emotions, and two
post-consumption judgements (attitude and behavioral intention). The hypotheses of the
model were tested from a full factorial experimental design (2x2) using scenarios simulating a
consumption experience. Results show that goal congruence is an antecedent of positive and
negative emotions and that emotions influence attitude. This, in turn, mediates the relationship
between emotions and behavioral intention. Additionally, results shed light on the moderator
role of goal relevance, showing that the relationship between positive emotions and attitude,
and the relationship between attitude and behavioral intention are likely to be stronger when
relevance is high.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................................X
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. XI
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................12
1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ................................................... 13
1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ............................................................................................ 17
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 20
1.3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 20
1.3.2 Objetivos Específicos........................................................................................... 20
2 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................................21
2.1 EMOÇÕES....................................................................................................................... 21
2.1.1 Definições: Afeto, Estado de Humor e Emoção .................................................. 21
2.1.2 Origem das Emoções: O Modelo Cognitivo-afetivo versus a Hipótese da
Independência................................................................................................................... 27
2.1.3 A Teoria Cognitiva das Emoções ........................................................................ 30
2.1.3.1 Congruência com os objetivos.............................................................. 34
2.1.3.2 Relevância para os objetivos ............................................................... 36
2.1.3.3 Atribuição ............................................................................................. 37
2.1.3.4 Potencial de lidar com a situação.......................................................... 38
2.1.3.5 Probabilidade e novidade...................................................................... 38
2.2 JULGAMENTOS PÓS-CONSUMO ...................................................................................... 39
2.2.1 Atitude.................................................................................................................. 41
2.2.1.1 Conceitualização................................................................................... 41
2.2.1.2 Formação de atitude.............................................................................. 43
2.2.2 Intenção de Comportamento ............................................................................... 46
3 HIPÓTESES E MODELO TEÓRICO .....................................................................................49
viii
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
Esta visão estritamente cognitiva, ainda que explique, por si só, uma parte significativa
do comportamento, não é capaz de fornecer esclarecimentos referentes a outras ações tomadas
comumente por consumidores. A disciplina de comportamento do consumidor trata do
comportamento humano, seus sentimentos e motivações, o que torna difícil, se não
impossível, negligenciar o lado emocional. A partir desta constatação, pesquisadores de
marketing passaram a considerar, também, o estudo das emoções e suas implicações aplicadas
a situações de compra e consumo (HOLBROOK e HIRSCHMAN, 1982). Portanto, a
existência de trabalhos cuja linha segue uma abordagem cognitiva-afetiva mostra os rumos da
evolução da disciplina. O enriquecimento da teoria permitiu a incorporação de estados
afetivos a modelos de base cognitiva, aumentando a sua força explicativa e predizendo o
comportamento dos consumidores de maneira mais consistente e confiável (OLIVER, 1998).
Pode-se afirmar que não existe um padrão que defina a predominância do sistema
cognitivo ou afetivo nos processos de comportamento do consumidor, mas nota-se que
respostas afetivas têm sido mostradas como sendo hábeis em influenciar processos tais como
avaliações, memória e julgamentos, além de influenciar também o comportamento
(GARDNER, 1985). Assim, torna-se irrefutável a necessidade de compreender a natureza das
relações entre cognição e emoção em processos de julgamentos pós-consumo (ALLEN,
MACHLEIT e KLEINE, 1992; PHAM et al., 2001).
13
A teoria cognitiva das emoções insere-se neste campo de estudo e é uma proposta de
que as emoções são conseqüências de avaliações que as pessoas fazem em relação à
significância de determinado evento para o seu bem-estar. Após o desenvolvimento desta
teoria, a psicologia cognitiva passou a entender que determinados padrões de avaliação
poderiam prever quais emoções seriam sentidas. Em seguida, pesquisadores da área de
comportamento do consumidor trouxeram seus fundamentos para estudos realizados em
marketing (KUMAR e OLIVER, 1997).
Segundo Clore et al. (apud BAGOZZI, GOPINATH e NYER, 1999), as pessoas usam
os sentimentos como informação no processo decisório quando a situação é afetiva por
natureza (como ir ao cinema com os amigos), quando há falta ou excessiva complexidade nas
informações e quando há restrições de tempo. Entre as razões para basear a decisão nos
1
Ramanathan e Shiv (2001) fornecem uma revisão da influência de emoções no processo decisório do
consumidor.
15
sentimentos está o fato de que a maioria das pessoas dispensa apenas o esforço necessário
para tomar uma decisão satisfatória, não se importando se esta é ou não a melhor opção
(GARBARINO e EDELL, 1997). Desta forma, se torna mais fácil para o consumidor
escolher, sem muito “esforço”, um produto que lhe agrada, ao invés de avaliar e raciocinar a
cada decisão de compra.
alegria e tristeza. Consumidores podem sentir-se felizes quando compram o carro dos seus
sonhos, arrependidos quando descobrem que o produto escolhido não atende suas
necessidades, raivosos quando recebem um serviço de péssima qualidade em um restaurante,
satisfeitos quando o produto atende suas expectativas, entre muitas outras emoções possíveis
de serem sentidas em contextos de consumo.
produtos, nas quais o consumidor final experimenta algum tipo de emoção. Especificamente,
busca-se entender a formação desses sentimentos, com base na teoria cognitiva das emoções,
e o impacto dessa “experiência emocional” na atitude e intenção de comportamento dos
consumidores. Isto é, que situações incitam o sentimento de emoção? Essas emoções
influenciam a opinião dos consumidores sobre o produto dessa situação?
O foco proposto para a execução deste trabalho está nas emoções incitadas a partir de
experiências de consumo e como este estado afetivo influencia os julgamentos de atitude e
intenção de comportamento. As motivações que instigam o desenvolvimento da pesquisa
proposta abrangem aspectos teóricos, metodológicos e práticos, conforme será descrito em
seguida.
Estudos recentes sugerem que processos afetivos constituem uma fonte de motivação
(MELLERS, SCHWARTZ e RITOV; 1999; BAGOZZI, 2000), uma influência no
processamento de informação (FRANKEL e RAY, 2000) e nos processos de decisão
(SIMONSON et al., 2001). Como resultado, há um crescente interesse nos processos que
envolvem estados afetivos e na sua influência sobre variáveis de marketing.
Uma linha de pesquisa que pode ser identificada no campo teórico em estudo consiste
no desenvolvimento de modelos híbridos a partir da incorporação de emoções e estados
afetivos em modelos de base cognitiva. Estudos demonstram que as variáveis emocionais
aumentam a força explanatória dos modelos cognitivos, contribuindo para o entendimento de
processos psicológicos dos consumidores (WESTBROOK e OLIVER, 1991; MANO e
OLIVER, 1993). Apesar deste esforço, Oliver (1998) afirma que as inter-relações entre afeto
e cognição ainda carecem de pesquisa mais profunda e, conseqüentemente, de suporte
conceitual e empírico. Em psicologia, há uma crescente ênfase no papel das emoções e outros
aspectos “quentes” (CACIOPPO e GARDNER, 1999) e esta tendência é crescente também no
marketing (SIMONSON et al., 2001).
1.3 OBJETIVOS
2.1 EMOÇÕES
Nesta seção será revisada a teoria relacionada a emoções. Num primeiro momento,
serão discutidas as definições de alguns termos encontrados na literatura, os quais auxiliam na
delimitação do conceito a ser trabalhado nesta dissertação. Segue-se a estas definições a
apresentação de duas correntes teóricas concorrentes atinentes à origem e formação das
emoções humanas. O item seguinte versa sobre a teoria cognitiva das emoções, que será
abordada com mais profundidade devido a sua centralidade ao modelo teórico proposto.
De acordo com Eysenck e Keane (1994, p.408), afeto pode ser compreendido como
um termo amplo que freqüentemente é utilizado para “cobrir uma variedade de experiências,
22
tais como emoções, afetos e preferências” e descreve experiências menos intensas que
emoções, porém mais prolongadas.
Oliver (1997) refere-se a afeto como o lado sentimental da consciência, sendo uma
oposição ao raciocínio. Bagozzi, Gopinath e Nyer (1999) consideram afeto um termo amplo
para definir um conjunto de processos mentais mais específicos que incluem emoções, humor
e (possivelmente) atitudes, já que estas também são consideradas estados emocionais. Assim,
afeto pode ser uma categoria geral para processos mentais de sentimento e não um processo
psicológico per se.
Em consonância com a definição acima, Gardner (1985) define afeto como uma classe
de fenômenos mentais caracterizados pela experiência consciente, estado de sentimento
subjetivo e geralmente acompanhados de emoções e humores. Segundo Westbrook (1987),
essa é uma definição comumente utilizada na área de marketing.
Estado de humor, segundo Oliver (1997), pode ser definido como um estado
temporário de prazer ou desprazer que pode apresentar muitas variações, tais como
irritabilidade ou aborrecimento. Bagozzi, Gopinath e Nyer (1999) caracterizam o humor como
sendo mais duradouro e menos intenso que as emoções, já que ocorrem quando o sistema
cognitivo é mantido sob um estado emocional por um certo período de tempo. Além disso, o
estado de humor não está, necessariamente, relacionado a um evento ou objeto específico, e
pode não ser expresso fisicamente.
De acordo com Bagozzi, Gopinath e Nyer (1999), o fator diferenciador entre emoções,
atitudes e humor é a forma como as emoções surgem. As emoções, supostamente, têm um
referencial, um fato que as causa (por exemplo, um consumidor pode sentir raiva pelo
atendimento ruim prestado em uma loja). Assim, as emoções são incitadas como respostas a
avaliações cognitivas sobre o evento e à sua interpretação.
Descrever o que é emoção não é uma tarefa fácil. Mesmo para estudiosos das áreas de
psicologia e neurologia, nas quais o conceito em questão é mais estudado, a quantidade de
definições existente na literatura e a subjetividade inerente ao tema desafiam a escolha
categórica de uma única definição. Izard (1977) sugere que uma definição completa de
emoção deve apresentar três considerações: a experiência ou sentimento consciente de
emoção, os processos que ocorrem no cérebro ou no sistema nervoso e os padrões de
expressão.
Entre os poucos pontos em acordo parece estar o fato de que emoções são
acompanhadas de mudanças fisiológicas. A literatura sobre neurologia das emoções descreve
que mudanças biológicas acompanham e provêem o substrato de diferentes emoções. Entre
essas mudanças, estão a dilatação da pupila, o aumento na transpiração, o aumento na pressão
arterial, no ritmo dos batimentos cardíacos e na rapidez da respiração (HAWKINS, BEST e
CONEY, 1989; ROSS, 1997). Em grande parte das vezes, essas mudanças são expressas
externamente, de maneira que as emoções podem ser percebidas pela mudança na expressão
facial das pessoas.
Por outro lado, uma visão habitualmente aceita é de que as emoções, além de serem
despertadas por eventos ambientais (externos), também podem ser incitadas a partir de
processos internos, como através da criação de imagens na mente (os atletas freqüentemente
fazem uso dessa técnica para colocar-se no estado emocional desejado) (HAWKINS, BEST e
CONEY, 1989). Por isso, assume-se que há um certo grau de controle sobre as emoções.
Grande parte da literatura sustenta que as emoções humanas são descritas em termos
de duas dimensões: uma contendo emoções positivas e outra contendo emoções negativas
(BAGOZZI, GOPINATH e NYER, 1999; IZARD, 1977; MANO e OLIVER, 1993; OLIVER,
1992; WATSON, CLARK e TELLEGEN, 1988; WESTBROOK, 1987). A própria definição
de emoção de Ortony, Clore e Collins (1988) a separa em dois pólos: uma emoção
caracteriza-se como uma reação positiva ou negativa à percepção de eventos, agentes ou
objetos. Izard (1977), quando apresenta o conjunto de emoções básicas que determina todas as
outras, separa-o em sentimentos positivos (interesse, alegria) e negativos (raiva, desgosto,
desprezo, angústia, medo, vergonha, culpa), além do elemento neutro surpresa.
As emoções positivas são aquelas que o ser humano sente-se compelido a buscar. Se
lhe é agradável assistir a um filme, a tendência é que o indivíduo continue buscando essa
situação no decorrer da sua vida. Já as emoções negativas são aquelas que levam a pessoa a
sentir um tipo de repulsão e que a afasta do estímulo que está causando aquele sentimento
ruim. O medo, por exemplo, é considerado negativo porque ele transcreve uma idéia de
afastamento, enquanto que o prazer sugere aproximação.
Visando explicar como diferentes emoções são sentidas, a teoria cognitiva das
emoções oferece definições que incluem (a) tendência à ação, (b) reação a um evento do
ambiente e (c) avaliação cognitiva deste evento ou situação (FRIJDA, KUIPERS e TER
SCHURE, 1989; LAZARUS, 1991a;b; ROSEMAN, WIEST e SWARTZ, 1994). As
definições propostas por seguidores da teoria cognitiva (FRIJDA, KUIPERS e TER
SCHURE, 1989; LAZARUS, 1991a;b; ORTONY, CLORE e COLLINS, 1988; ROSEMAN
et al., 1990; 1994; SCHERER, 1988; entre outros) serão a base deste trabalho, por se estar
assumindo e propondo verificar duas das avaliações cognitivas sugeridas por elas. Em geral, o
marketing adota esta perspectiva e apresenta definições próprias, adaptadas ao contexto de
consumo, algumas das quais são apresentadas a seguir.
prazer, angústia). Nota-se que, para Oliver (1997), ao contrário de Bagozzi, Gopinath e Nyer
(1999), emoção é um grupo maior do qual o afeto faz parte.
Segundo Lazarus (1991a), embora seja difícil apresentar uma diferenciação entre
emoção e cognição - e um dos motivos é o fato de serem conceitos interdependentes - cada
um constitui-se em um conjunto de conteúdo indispensável para o entendimento da adaptação
e emoção humanas. Emoção sem cognição seria um simples estado de ativação, sem os
impulsos que distinguem e direcionam as emoções, diferenciando, por exemplo, medo de
raiva. Segundo esta hipótese, os pensamentos, por si só, são capazes de produzir emoções, e
emoções não podem ocorrer sem que ocorra algum pensamento. Por isso, diz-se que os
pensamentos são necessários e suficientes para a ocorrência de emoções.
O efeito ficou conhecido como “efeito de mera exposição” (mere exposure effect), cuja
premissa é que o organismo desenvolve afeto positivo por aqueles produtos com os quais têm
experiência (ZAJONC e MARKUS, 1982). O surgimento deste “afeto” pós-exposição,
segundo Zajonc, ocorreria sem cognição, já que, uma vez que os respondentes não
29
Apesar da hipótese da formação direta ser uma das primeiras explicações para o efeito
de mera exposição (LEE, 1994), atualmente, entre as explicações para o efeito mais
freqüentemente encontradas na literatura, admite-se que existem fatores cognitivos
intermediários entre a exposição ao objeto e a resposta afetiva. Entre eles, estão a redução da
incerteza e a facilidade no processamento e percepção do objeto2. De acordo com essas
correntes teóricas, a explicação para o aparente efeito direto da exposição sobre o “afeto
positivo” é que, muitas vezes, os processos cognitivos subjacentes podem ocorrer em um
nível pré-consciente, de forma que o indivíduo não se dá conta de que o processo está
ocorrendo e “pensa” que gosta mais do objeto ao qual foi previamente exposto
(JANISZEWSKI e MEYVIS, 2001).
2
Revisões sobre o assunto consistem nos trabalhos de Bornsteim (1989), Bornstein e D´Agostino
(1992) e Lee (1994).
30
Visto que se propõe trabalhar os antecedentes cognitivos das emoções e sua influência
indireta em julgamentos pós-consumo, esta perspectiva teórica será abordada mais
profundamente no próximo item.
Conhecendo-se estes cinco fatores, pode-se prever a emoção que será sentida,
conforme ilustra a figura 1. Por exemplo, arrependimento ocorre quando o indivíduo avalia
sua própria ação (atribuição da causa a si mesmo), a situação é inconsistente com as suas
motivações, e o potencial de enfrentar a situação é alto. O arrependimento pode ocorrer com
eventos certos ou incertos e a situação pode ser tanto recompensadora (tendo o indivíduo
obtido alguma recompensa), quanto não punitiva (tendo o sujeito evitado uma punição).
Usando este mesmo raciocínio, outras emoções podem ser identificadas de acordo com
diferentes combinações de avaliações cognitivas. Se, por exemplo, a situação descrita acima
se diferenciasse somente em relação ao potencial de lidar com a situação, sendo este baixo, o
indivíduo, ao invés de sentir-se arrependido, sentiria culpa ou vergonha.
Dois antecedentes especialmente relevantes para o estudo das emoções são aqueles
relacionados aos objetivos pessoais, definidos por representações internas de estados
desejados, sendo que estados podem ser resultados, eventos ou processos (BAGOZZI,
GOPINATH e NYER, 1999). Nesta perspectiva, as emoções são vistas como formas de
regulação do sistema cognitivo, indicando se o indivíduo deve ou não continuar a ação que
está levando ao atingimento ou não dos seus objetivos.
Para Lazarus (1991b), o processo através do qual uma pessoa avalia a congruência e a
relevância de um evento em relação aos seus objetivos ou desejos consiste em uma
apreciação primária. É essa avaliação que leva o indivíduo a sentir uma emoção positiva ou
negativa e em determinada intensidade. Ou seja, a congruência e a relevância são as
avaliações cognitivas mais próximas das emoções (SMITH et al., 1993). A apreciação
secundária é o processo através do qual o indivíduo avalia sua habilidade para lidar com a
situação. Outras avaliações também viriam neste nível, cooperando para diferenciar as
emoções sentidas.
Soscia (2002) refere-se ao mesmo tipo de avaliação que Lazarus (1991b), mas o define
como “consistência das conseqüências com as expectativas”, que é a avaliação do indivíduo
em termos do atingimento ou não dos seus objetivos como resultado das conseqüências do
35
evento (SCHERER, 1988). Oliver (1997) trata esse conceito como agradabilidade intrínseca,
sendo a qualidade do estímulo em termos de ser prazeroso ou desprazeroso,
independentemente da relevância do estímulo para a pessoa. Frijda, Kuipers e Ter Schure
(1989) atribuem a esse conceito a valência da situação, que pode ser agradável ou
desagradável. A definição de congruência pode ser resumida com a seguinte questão que o
indivíduo faz para si: “Eu estou sendo prejudicado ou beneficiado com essa situação, agora ou
no futuro, e de que forma?” (EDWARDS, 1998).
As pessoas compram produtos para atingir seus objetivos pessoais e, à medida que este
produto é congruente com estes objetivos, isto é, de alguma maneira auxilia esse processo,
diferentes emoções – neste caso, positivas – são experimentadas. Por outro lado, uma
performance que falha ao atender os objetivos dos consumidores leva a sentimentos
negativos. Assim, situações agradáveis levam a emoções positivas, enquanto que situações
desagradáveis levam a emoções negativas (NYER, 1997b).
36
O fato de algum evento ser relevante para os objetivos pessoais torna-o potencial para
que ocorra uma emoção em relação a ele. Se há a chance de um dado objetivo ser atingido
através do evento em questão, então o que ocorrerá neste evento resultará em uma emoção
cuja intensidade depende, em parte, da importância (LAZARUS, 1991b). Por esta razão, diz-
se que a relevância tem o poder de intensificar os sentimentos de emoção: quanto mais
relevante é a situação para o indivíduo, mais intensa será a conseqüência emocional (NYER,
1997a;b).
emoção, seja medo, raiva, orgulho ou alegria, pode ser observada em maior ou menor
intensidade.
Para facilitar o entendimento dos conceitos sob a perspectiva dos diversos autores
citados, a figura 2 apresenta os termos utilizados pelos pesquisadores nos seus trabalhos que
se referem às definições de congruência e relevância.
2.1.3.3 Atribuição
Smith et al. (1993) sustentam que há uma diferença conceitual entre atribuição e
avaliação cognitiva. Para esses autores, atribuição representa uma análise inferencial que
contribui para a construção de uma representação cognitiva de determinadas circunstâncias, e
avaliação cognitiva representa uma estimativa da importância pessoal dessas circunstâncias.
Segundo eles, as avaliações cognitivas primárias (congruência e relevância) são antecedentes
mais próximos das emoções, sendo que eles hipotetizam, inclusive, que a atribuição é
mediada por avaliações cognitivas primárias quando influenciam emoções. Conforme
demonstraram Smith e Haynes (1996), a atribuição é uma avaliação que diferencia emoções
(no caso raiva e culpa) ao invés de determinar a valência (ambas são negativas).
Scherer (1988) afirma que o potencial de lidar é constituído, entre outras sub-
avaliações, por (a) controle, que denota o grau em que o evento e suas conseqüências são
controláveis, (b) poder, que significa o grau em que o indivíduo consegue influenciar a
ocorrência do evento e (c) potencial de ajustamento, que abrange o grau em que o indivíduo
consegue adaptar-se, mudando aspectos internos (seus objetivos, por exemplo) ao invés de
aspectos externos.
Novidade (SCHERER, 1988) é definida como o grau em que o estímulo desvia do que
é esperado, sendo constituído pela surpresa com que ocorre, pelo grau de familiaridade com o
evento e pelo grau de previsibilidade do acontecimento. Izard (1977) e Oliver (1997) tratam
dessa avaliação como um evento inesperado e também fazem alusão ao grau de certeza/
incerteza e surpresa do evento.
Lazarus (1991b) apresenta uma analogia da surpresa com o susto, sendo que ambos
consistiriam em reações automáticas e de reflexo (pré-emoção). Assim, o susto e a surpresa
seriam reações preparatórias do organismo para uma avaliação e posterior emoção (por
exemplo, uma pessoa pode assustar-se com um rugido, interpretar a situação como perigosa e
sentir medo).
Até chegar à compra, o consumidor passa pela percepção de que uma necessidade ou
desejo precisa ser satisfeito, pela busca de informações sobre as possibilidades existentes para
que o seu problema seja resolvido e pela avaliação de todas essas possibilidades, incluindo um
40
conjunto de várias alternativas de marcas, produtos, lojas, etc. Após a efetivação da compra, o
próximo passo é o consumo.
Nessa dissertação será abordada a avaliação do produto com base nas emoções
experimentadas na situação de consumo e como essas emoções influenciam os julgamentos
pós-consumo, a saber, a atitude e a intenção de comportamento. A seguir serão revisados os
principais conceitos atinentes ao tema, fornecendo sustentação para o estudo.
2.2.1 Atitude
2.2.1.1 Conceitualização
“Atitude é essencialmente uma associação entre um dado objeto e uma dada avaliação.
Essa avaliação pode variar entre um afeto ‘quente’, associado com uma forte resposta
emocional, e um julgamento ‘frio’ baseado na cognição em relação a favorabilidade ao
objeto” (FAZIO, 1986).
As pessoas expressam suas atitudes com frases como: “Para mim Coca-cola é
simplesmente a melhor, muito melhor do que Pepsi; eu sempre vou comprar Coca-cola”. Ou
então: “O serviço nesse restaurante é absolutamente incompetente; eles certamente não me
verão mais aqui”. As frases evidenciam atitudes positiva e negativa, respectivamente.
Para Bagozzi, Gopinath e Nyer (1999), as atitudes até podem ser consideradas como
afeto, já que, segundo os autores, em muitos trabalhos os mesmos indicadores são utilizados
para mensurar emoções e atitudes (como, por exemplo, agradável-desagradável ou feliz-
triste). Entretanto, uma corrente paralela de pesquisa (COHEN e ARENI apud BAGOZZI,
GOPINATH e NYER, 1999; MANO e OLIVER, 1993) define atitudes como julgamentos de
avaliação, ao invés de estados emocionais.
43
Visto que o presente trabalho visa avaliar a influência das emoções nas atitudes, é
importante que estes termos sejam diferenciados. Com base nas definições revisadas,
considera-se atitude e emoção como conceitos distintos, a exemplo de Allen, Machleit e
Kleine (1992), Bagozzi, Gopinath e Nyer (1999), Pham et al. (1998, 2001) e Bodur, Brinberg
e Coupey (2000). Emoção inclui a necessidade de estado de ativação e conta com uma
resposta fisiológica geralmente demonstrada externamente. As atitudes referem-se a um
julgamento de avaliação, que é o posicionamento de determinado objeto em um continuum de
avaliação e de afeto. Mesmo que a atitude seja essencialmente afetiva, ela não é o sentimento
em si, mas sim uma avaliação deste sentimento.
Crenças são julgamentos subjetivos sobre a relação entre dois ou mais objetos e são
baseadas no conhecimento dos atributos e características do produto. O que o consumidor
aprendeu sobre o produto determina suas crenças sobre aquele produto. De acordo com
modelos de atitude multiatributos (FISHBEIN e AJZEN, 1975), as crenças em relação ao
produto determinam a favorabilidade da atitude.
3
De acordo com outros trabalhos (Miniard, Bhatla e Sirdeshmukh, 1992; Bless, Mackie e Schwarz,
1992), existe a influência do estado de humor na resposta afetiva. Entretanto, não foi o objeto de avaliação do
trabalho de Pham (1998), assim como não é do escopo desse trabalho.
47
Na maioria das vezes, as pessoas realmente fazem o que pretendem fazer. É por esta
razão que a intenção de comportamento é tão importante no contexto de marketing. Segundo
Blackwell, Miniard e Engel (2001, p.282), “uma das mais importantes habilidades que uma
empresa pode possuir é a habilidade de predizer qual será o comportamento das pessoas como
consumidores”.
4
Teste para verificar o efeito de uma variável dependente após terem sido descontados o(s) efeito(s) de
outra(s) variável(is) dependente(s) (HAIR, Jr. et al., 1998).
48
Intenção de
Avaliações
Emoções
Cognitivas Comportamento
De acordo com Bagozzi e Dholakia (1999), as pessoas agem porque buscam atingir
seus objetivos. Quando as pessoas imaginam o resultado de um evento em relação aos seus
objetivos, elas sentem emoções positivas ou negativas, em concordância com o resultado
imaginado (ou efetivo). Quanto mais fortes forem essas emoções, maior será a tendência à
ação (BAGOZZI, 2000).
A revisão teórica apresentou os conceitos dos constructos que farão parte do modelo
teórico. Assim, buscou-se apresentar congruência com os objetivos, relevância para os
objetivos, emoções positivas e negativas, atitudes e intenção de comportamento dentro dos
seus respectivos contextos teóricos. Após esse primeiro passo, serão apresentadas as hipóteses
da pesquisa.
3 HIPÓTESES E MODELO TEÓRICO
Um modelo pode ser definido como “uma versão simplificada de algum problema ou
situação da vida real destinado a ilustrar certos aspectos do problema sem levar em conta
todos os detalhes” (STEVENSON, 2001, p.5). Desta forma, todo modelo é, de alguma forma,
incompleto, pois versa apenas sobre parte do problema em questão. Entretanto, esse é
exatamente o objetivo e a principal vantagem da utilização de modelos teóricos: focar e
analisar com precisão apenas uma parte do problema. Além disso, modelos têm como função
comunicar uma idéia, conceito ou processo (STEVENSON, 2001).
Smith et al. (1993) afirmam que emoções positivas resultam da avaliação de um tipo
específico de benefício, e emoções negativas resultam da avaliação de um tipo particular de
dano. Nyer (1997a; 1997b) encontrou em seus resultados que situações congruentes levam a
emoções positivas e situações incongruentes levam a emoções negativas. Roseman et al.
(1990; 1994) afirmam que, em situações em que o estado motivacional é recompensador,
emoções positivas serão experimentadas, e em situações em que o estado motivacional é de
punição, emoções negativas serão experimentadas. Frijda, Kuipers e Ter Schure (1989)
consideram a situação congruente como agradável ou desagradável, também levando a
emoções positivas e negativas, respectivamente. Todos os trabalhos citados acima
apresentaram evidências empíricas a favor das relações a que se propuseram investigar, e
todos se referem à mesma idéia de congruência com os objetivos conforme proposto por
Lazarus (1991b).
Holbrook e Batra (1987) verificaram que muitas categorias afetivas estão relacionadas
à formação de atitudes. Num contexto de propaganda, os autores apresentam um modelo no
qual as emoções mediam os efeitos da propaganda na formação de atitude em relação ao
51
anúncio e à marca. A relação direta entre emoções e atitude em relação à marca foi encontrada
e manteve-se forte e significativa mesmo após a inclusão da atitude em relação ao anúncio.
Pham e colegas (1998; 2001) testaram a teoria HDIF, que trata de um processo
heurístico pelo qual o consumidor utiliza o afeto como fonte de informação em julgamentos
de avaliação. Os autores alegam que as pesquisas realizadas para mensurar atitudes
freqüentemente não especificam o processo através do qual o componente afetivo das atitudes
influencia julgamentos de avaliação, isto é, se o processo ocorre através de associações
espontâneas ou processos inferenciais conscientes. Os trabalhos também não especificam se
esses dados afetivos são sentimentos em relação ao objeto ou apenas crenças afetivas em
relação ao objeto. A teoria HDIF, no entanto, avalia sentimentos verdadeiros (emoções),
advindos de experiências vivenciadas no momento de avaliação do objeto. O estudo (PHAM
et al., 2001) consiste na avaliação de emoções incitadas por fotos. Baseado na teoria HDIF,
Pham (1998, p.144) afirma que “sentimentos positivos levariam a avaliações favoráveis do
episódio, enquanto que sentimentos negativos levariam a uma avaliação desfavorável”.
Albarracín e Kumkale (2003) suportaram essa teoria (HDIF) em um contexto de propaganda,
isto é, os autores descobriram que os consumidores consideram os sentimentos incitados por
uma propaganda como informação na formação de atitude.
Testando a teoria HDIF, Pham (1998) encontrou que o estado de humor (manipulado
como conseqüência do evento de consumo) influencia a intenção de comportamento em
situações de alta relevância, mas o efeito não foi significativo em situações de baixa
relevância. Cabe lembrar que a premissa da teoria HDIF é a avaliação do estímulo com base
nos sentimentos suscitados por ele.
Nyer (1997b) testou a mediação das emoções na relação entre as avaliações cognitivas
e intenção de comportamento e suporta e mediação total das emoções, o que significa que as
emoções têm impacto direto na intenção de comportamento. Segundo Hanoch (2002), as
emoções funcionam como uma informação utilizada na decisão de continuar ou interromper a
ação. Similarmente, Frankel e Ray (2000) afirmam que as emoções são “sinais” que denotam
a produção de comportamentos adequados, coerentes à situação. Por isso, diz-se que a
tendência é que a intenção de comportamento siga a direção da valência da emoção sentida
(FRANKEL e RAY, 2000).
O constructo atitude, por si só, parece não captar toda a experiência emocional, mas
estudos sobre o assunto comprovam sua influência no comportamento (ALLEN, MACHLEIT
e KLEINE, 1992). Por isso, supõe-se que a atitude media a relação entre emoções e intenção
de comportamento.
Muitos outros estudos, mesmo sem considerar emoções nos modelos testados,
comprovam a relação direta entre atitude e intenção (BAGOZZI, 1982; BURNKRANT e
PAGE, JR., 1982; BAGOZZI, 2000). Bagozzi et al. (1989) desenvolveram estudos para
avaliar esta relação e, em geral, os resultados suportam a mediação da intenção em todos os
efeitos das atitudes sobre os comportamentos, evidenciando o impacto direto das atitudes na
intenção de comportamento. Em uma meta-análise sobre a teoria reasoned action, Sheppard,
Hartwick e Warshaw (1988) encontraram uma correlação de 0,66 entre atitudes e intenção.
Assim, supõe-se que a intenção de compra deve ser conseqüência direta das atitudes,
levando à seguinte hipótese:
O afeto é visto como uma heurística que influencia os julgamentos, especialmente sob
condições de baixa elaboração cognitiva (EAGLY e CHAIKEN apud DARKE,
CHATTOPADHYAY e ASHWORTH, 2002). O mecanismo de processamento heurístico é
consistente com a teoria da independência das emoções (ZAJONC e MARKUS, 1982), bem
como com a teoria HDIF de Schwarz (apud PHAM, 1998). A idéia de que o afeto influencia
os julgamentos sob condições de baixo envolvimento é suportada por diversos estudos em
marketing (SHIV e FEDORIKHIN, 1999).
envolvimento, já que o sentimento compele o sujeito a agir em consonância com o que ele
está sentindo. Considerando-se a semelhança entre os conceitos de envolvimento e relevância,
abrigada por formulações teóricas de outros autores (NYER, 1997a; PHAM, 1998), supõe-se
que os sentimentos influenciam os julgamentos tanto em situações de baixa quanto de alta
relevância.
Assim, dado que emoções podem ocorrer em situações de alta e baixa relevância e
com base nas evidências acima, a seguinte hipótese pode ser lançada:
Relevância
H8
Emoções H3
Atitude
Positivas + +
H1
+ H5
Congruência + H7
-
H4
H2
Emoções - - Intenção de
Negativas
H6 Comportamento
Este capítulo traz a descrição das etapas de execução da pesquisa proposta. O estudo
foi dividido em duas etapas distintas e complementares: uma exploratória, de natureza
qualitativa, e outra experimental, de natureza quantitativa.
(b) Desenvolver e ajustar o modelo teórico a ser testado: os resultados das entrevistas
indicaram que o modelo desenvolvido com base na revisão da literatura estava adequado tanto
teoricamente quanto em termos de situações reais. Encontrou-se que emoções em situações de
consumo estão relacionadas à congruência com os objetivos, relevância para os objetivos,
atitude e intenção de comportamento.
(c) Definir o melhor desenho de pesquisa: foi constatado que o melhor desenho de
pesquisa para testar as relações propostas seria o experimental. Utilizando este método, seria
possível manipular as variáveis independentes e analisar estatisticamente os efeitos dessa
manipulação sobre as variáveis dependentes.
(d) Definir as escalas a serem utilizadas no instrumento de coleta de dados: esta etapa
forneceu informações importantes para a construção do questionário para a etapa seguinte da
pesquisa, pois as escalas foram escolhidas com base na literatura e com base nos relatos dos
entrevistados (i.e. foram escolhidas aquelas escalas cujos itens foram bastante citados nas
entrevistas).
Por fim, a definição do método de pesquisa também ocorreu como conseqüência desta
etapa. Para que fosse possível testar o papel moderador da relevância, seria necessário que
houvessem grupos de respondentes com dois níveis de relevância diferentes. Por esta razão, o
58
desenho experimental foi escolhido em detrimento da pesquisa descritiva do tipo survey. Com
o desenho experimental, seria possível manipular as variáveis independentes de forma que
fosse possível obter a variabilidade desejada nos dados.
Além disso, Izard (apud BAGOZZI, GOPINATH e NYER, 1999) lembra que é
virtualmente impossível gerar emoções puras em ambientes de pesquisa, já que a situação
apenas simula a realidade. Entretanto, conforme pode ser visto no trabalho de Nyer (1997a;b)
e Roseman (apud ROSEMAN, SPINDEL e JOSE, 1990), a descrição de cenários no contexto
experimental é capaz de gerar respostas emocionais específicas. As emoções geradas nesse
contexto ainda não são “emoções reais”, mas estão muito mais próximas dessas do que em
outros contextos de pesquisa, nos quais o respondente precisa lembrar o que sentiu, por
exemplo. O fato de o respondente ser exposto a um estímulo que tem como objetivo
manipular uma variável torna as respostas mais próximas da realidade. Novamente, estas
evidências favorecem a escolha do desenho experimental para a realização deste estudo.
O roteiro das entrevistas era composto por questões que visavam identificar os fatores
cognitivos e situacionais que levaram ao sentimento de emoções, além da opinião (atitude) e
dos comportamentos adotados por esses consumidores após a experiência relatada. Quando
necessário, as características de emoções (sentimento consciente, acompanhado de reações
fisiológicas) eram descritas (sem citar uma emoção como exemplo), para certificar-se que o
entrevistado havia entendido o conceito.
59
5
Uma descrição mais detalhada dos resultados dessa etapa, com relatos dos entrevistados, é encontrada
em Espinoza e Nique (2003).
60
6
Designação aleatória é diferente de amostragem aleatória. Para a designação aleatória, os respondentes
podem (e geralmente são) selecionados por conveniência e são atribuídos aos tratamentos experimentais de
forma aleatória. A amostragem aleatória exige que se conheça a população de interesse e, a partir daí, uma
amostra é selecionada com base em um processo aleatório. Para maiores esclarecimentos, ver Keppel (1991,
p.17).
61
Hair Jr. et al. (2000) classificam os desenhos experimentais básicos com um fator em
três grupos: (1) pré-experimentos, (2) experimentos verdadeiros e (3) quasi-experimentos. A
principal diferença entre eles é o grau de controle exercido pelo pesquisador. Além disso, há
também situações em que múltiplos fatores são manipulados ao mesmo tempo. Lehmann,
Gupta e Steckel (1998) referem-se a este tipo de experimento como estudos fatoriais, os quais
são compostos por uma série de experimentos básicos que podem incluir o pré-experimental,
o experimental verdadeiro ou o quasi-experimental.
1) Pré-experimentos
2) Experimentos verdadeiros
3) Quasi-Experimentos
a) Estudo fatorial: Permite que duas ou mais variáveis sejam manipuladas ao mesmo
tempo, sendo que o experimento deve incluir todas as combinações possíveis entre
os níveis das variáveis independentes. Neste tipo de estudo, as variáveis
independentes são manipuladas de forma que cada manipulação é independente da
outra, de maneira que os efeitos associados às variáveis também são independentes
(KEPPEL, 1991). Os desenhos fatoriais podem ser ditos como aqueles que têm as
variáveis independentes “cruzadas”, o que pode ser pensado em termos de
multiplicação de fatores (KEPPEL, 1991). Por exemplo, nesta pesquisa tem-se
(relevância alta + relevância baixa) e (congruência + incongruência). O desenho
fatorial é dado pela multiplicação desses fatores, obtendo-se 4 tratamentos
distintos. Quando todas as combinações são efetivamente testadas no experimento,
diz-se que é um desenho fatorial completo. Quando a combinação gera muitos
tratamentos, entretanto, pode-se optar por um desenho fatorial parcial.
Com base nessas classificações, decidiu-se que o desenho mais adequado para o
atingimento dos objetivos deste trabalho seria o desenho fatorial com o experimento básico
pré-experimental do tipo somente-depois, por permitir que as variáveis independentes sejam
manipuladas de forma a obter diferentes níveis dessas variáveis nos dados. Com este desenho,
é difícil estabelecer o efeito efetivo da(s) variável(is) independente(s), já que não há uma
medida anterior ao tratamento que sirva como padrão de comparação. Entretanto, para estimar
relações entre as variáveis e testar o modelo proposto, este desenho mostra-se suficiente.
Experimentos mais complexos, como os experimentos verdadeiros, seriam úteis para testar
64
efeitos diretos do estímulo manipulado (por exemplo, o efeito de uma substância química
versus um placebo, como utilizado nas pesquisas farmacêuticas). Porém, para testar relações
múltiplas entre variáveis, como no caso desta pesquisa, a variabilidade nos dados
proporcionada pelo estudo fatorial permite que os grupos sejam comparados de acordo com o
tratamento recebido e todas as hipóteses do estudo sejam testadas.
Num estudo deste tipo, os fatores devem ser bem distintos pois, se forem semelhantes
(se estiverem medindo a mesma variável), poderão ocorrer problemas na análise. Este
desenho permite avaliar o efeito de cada nível de cada variável, bem como se há interação
entre eles. Diz-se que ocorre interação quando o efeito simultâneo de duas ou mais variáveis é
65
O método a ser utilizado neste estudo – exposição dos respondentes a cenários escritos
- foi utilizado por Roseman (1983 apud ROSEMAN, SPINDEL e JOSE, 1990) e aplicado no
contexto de marketing por Bagozzi e Gopinath (apud KUMAR e OLIVER, 1997). Soscia
(2002) também empregou um procedimento semelhante, e Smith, Bolton e Wagner (1999) e
Smith e Bolton (2002) usaram esta abordagem numa situação que envolvia emoções e falhas
em serviços. Smith et al. (1993) utilizaram cenários para analisar a relação entre vários tipos
de avaliações cognitivas e emoções específicas.
De acordo com a teoria (PHAM, 1998), para que as respostas afetivas influenciem os
julgamentos elas precisam ser representativas do estímulo, ou seja, a influência dos
sentimentos nos julgamentos depende da percepção e atribuição das emoções sentidas ao
66
objeto do estímulo. Como este estudo examina emoções em situações de consumo, a unidade
de análise é a experiência de consumo descrita no cenário, e não o respondente (HAVLENA e
HOLBROOK, 1986). Assim, as emoções serão mensuradas quanto à intensidade sentida a
partir da situação lida no cenário.
A congruência foi mensurada com dois itens sugeridos por Nyer (1997b) referindo-se
ao desempenho do computador descrito no cenário. Em uma escala do tipo diferencial
semântico de 7 postos, o primeiro item variava de “muito indesejável” a “muito desejável” e o
outro variava de “muito ruim” a “muito bom”. Foram utilizados, também, itens de outros
scholars da teoria cognitiva das emoções, como Scherer (1988) e Frijda, Kuipers e Ter Schure
(1989). Do questionário desenvolvido pelo GERG (2003) foi adaptado o item “incongruente
com o que eu queria/congruente com o que eu queria”, que também foi mensurado com uma
escala diferencial semântico de 7 pontos. A congruência foi mensurada com um total de 5
itens.
Além disso, muitos estudos sobre emoções, sobretudo na área de marketing, atestam
que as emoções dividem-se em duas dimensões ortogonais (i.e. independentes) ou apenas
“modestamente” correlacionadas (BAGOZZI, GOPINATH e NYER, 1999; IZARD, 1977;
OLIVER, 1994; WATSON, CLARK e TELLEGEN, 1988; WESTBROOK, 1987). São
estudos que confirmam a bidimensionalidade da escala de Izard (1977): Mano e Oliver
(1993), Westbrook (1987) e Oliver (1992).
Com base nestas informações, uma possível escolha seria a escala de Izard (1977).
Soma-se a isso o fato de esta escala já ter passado pelo processo de tradução reversa e
aplicação no Brasil (LARÁN, 2003). Este mesmo estudo, entretanto, indicou uma fragilidade
da escala já discutida na literatura. A DES é constituída por 7 emoções negativas (raiva,
69
Dessa forma, optou-se por testar a escala de emoções de Watson, Clark e Tellegen
(1998), a PANAS (Positive Affect Negative Affect Scales). A escala foi utilizada de forma
adaptada anteriormente por Mano e Oliver (1993), quando apresentou bons índices de
confiabilidade. A PANAS foi utilizada no Brasil por Costa (2002) no contexto de compra por
impulso. Nesta situação, também apresentou bons índices de confiabilidade, validade
convergente e validade discriminante entre afeto positivo e afeto negativo. Esta escala foi
avaliada e testada no pré-teste quantitativo, a ser detalhado posteriormente. Esta decisão
permitiu uma melhor apreensão das emoções sentidas nas situações descritas na pesquisa, já
que a PANAS eliminou o problema da fragilidade da escala de Izard (1977).
A PANAS foi desenvolvida por Watson, Clark e Tellegen (1998) com o objetivo de
apresentar uma escala confiável, válida e fácil de administrar e que divide as emoções em
afeto positivo e afeto negativo. Os autores partem do princípio de que afeto positivo e
negativo não são opostos (isto é, negativamente correlacionados), mas são, na verdade,
dimensões distintas e ortogonais. Seguindo esse raciocínio, alto afeto positivo é um estado de
alta energia, concentração total e prazer, enquanto que baixo afeto positivo é caracterizado por
tristeza e apatia. Alto afeto negativo, por sua vez, é um estado de angústia e desprazer, e baixo
afeto negativo é caracterizado por calma e serenidade.
Os autores revisaram diversos estudos anteriores para elaborar uma “lista de afetos”
composta por 60 emoções e, em seguida, empregaram diferentes critérios estatísticos (carga
fatorial, por exemplo) para selecionar as emoções consideradas mais representativas até que
ambas as escalas fossem formadas por 10 emoções cada. Em seguida, a PANAS foi testada
em diversos estudos subseqüentes. A confiabilidade das escalas mostrou-se geralmente alta
70
(acima de 0,80) e a correlação entre afeto positivo e negativo ora mostrava-se não
significante, ora fracamente significante, corroborando a noção de independência das
dimensões. Testes confirmaram a validade das escalas o que, por fim, torna aceitável o
conjunto de 20 emoções, divididas em 2 fatores (emoções positivas e emoções negativas). A
PANAS original é apresentada no anexo C, bem como todas as escalas originais utilizadas
nesse estudo.
Como uma medida cautelosa, decidiu-se por realizar tradução paralela em todas as
escalas por dois motivos: (a) a pesquisadora não concordou com a tradução para o português
de alguns itens da escala PANAS contida em Costa (2002), o único trabalho brasileiro
encontrado que utilizou esta escala; e (b) outras escalas selecionadas estavam sendo aplicadas
pela primeira vez no Brasil. Dessa forma, os itens em inglês foram traduzidos com a ajuda de
dois profissionais fluentes em ambos os idiomas e depois novamente traduzidos para o
português para maximizar a precisão da tradução e identificar eventuais erros, seguindo
procedimento sugerido por Malhotra (2001). As traduções foram comparadas até que se
chegou a um consenso sobre o termo em português mais adequado para cada item e obteve-se
questionários considerados equivalentes.
em trabalhos anteriores uma ida ao cinema (PHAM, 1998), um teste de aptidão (NYER,
1997a; 1997b), mensagens instituindo ou não exames obrigatórios em uma escola
(ALBARRACIN e KUMKALE, 2003), uma situação de estudo com colegas para uma prova
(SMITH et al., 1993), falha na transmissão do carro (BAGOZZI e GOPINATH apud
KUMAR e OLIVER, 1997) e falhas em serviços de um hotel e de um restaurante (SMITH e
BOLTON, 2002). O produto/serviço a ser utilizado no cenário deveria ser manipulável de
forma que os respondentes pudessem considerá-lo de alta ou baixa relevância e deveria ser do
conhecimento da amostra selecionada, no caso, de estudantes.
De acordo com Pham (1998), uma forma indireta de manipular a relevância seria
através da percepção do motivo que leva ao consumo. O motivo “consumatório” é
intrinsecamente recompensador, enquanto que o motivo “instrumental” é raramente
recompensador por si próprio e geralmente é um meio de se atingir outras metas. Quando os
motivos são “consumatórios”, as considerações afetivas devem ter um impacto maior na
atitude e intenção de comportamento do que quanto os motivos são “instrumentais”, isto é, a
relevância é maior quando os motivos de consumo são “consumatórios”.
Para a elaboração dos cenários foram utilizados os já citados trabalhos anteriores que
empregaram este método e as entrevistas em profundidade para adequar a linguagem das
vinhetas à linguagem dos respondentes. Por exemplo, em relatos cujas experiências referiam-
se a produtos que se caracterizavam como sendo de alta relevância, os entrevistados
afirmaram que “há muito tempo” queriam comprar o produto ao qual se referiam. Assim
sendo, essa frase foi inserida no cenário de alta relevância com o objetivo de trazer mais
72
Inicialmente, estava ocorrendo que aqueles que eram solicitados a responder o cenário
de baixa relevância estavam indicando o computador do cenário como altamente relevante,
aparentemente não se diferenciando daqueles que respondiam ao cenário de alta relevância.
Aos entrevistados foi então solicitado que eles mostrassem/ indicassem quais seriam as
modificações necessárias para que eles considerassem aquele computador de baixa relevância
para eles. Outros eram questionados “porque um computador seria de baixa relevância para
você?” ou “o que faria com que você considerasse um computador de baixa relevância?”. As
sugestões foram sistematicamente incluídas nos cenários, e o próximo entrevistado já avaliava
o cenário alterado. Isso permitiu que melhorias fossem implementadas a cada entrevista do
pré-teste. Ao mesmo tempo, as questões e os itens da escala eram avaliados quanto ao seu
entendimento e padrão de resposta.
As histórias dos cenários eram modificadas não apenas de acordo com o entendimento
e clareza para os entrevistados, mas também de acordo com suas respostas aos itens da escala.
Dependendo da forma como os cenários eram descritos, as respostas tendiam muito para um
73
lado, chegando a, muitas vezes, ficar próximas dos extremos. Assim, as histórias também
foram sendo adequadas de forma que as respostas não permanecessem nos pólos das escalas.
Foi feita uma coleta de dados, entre 21 de julho e 6 de agosto de 2003, nos moldes da
coleta prevista para o estudo final. Em salas de aula da Escola de Administração da UFRGS,
os estudantes (todos de graduação) foram solicitados a ler o questionário. Ali, eles
encontravam todas as instruções para seguir o experimento, isto é: eles deveriam ler o cenário,
imaginar que a situação estava realmente acontecendo com eles e responder às questões com
base nessa suposição. Foram coletados 100 questionários, distribuídos entre os 4 cenários da
pesquisa.
componentes daquele constructo (isto é, para relevância foi calculada a média de todos os
itens da seção 1 e para congruência foi calculada a média de todos os itens da seção 2 do
questionário). Os resultados da ANOVA indicaram diferença significativa na média de
relevância entre os cenários de alta e baixa relevância (MA=5,55; MB=4,18; p=0,00), e
diferença significativa na média de congruência entre os cenários de congruência e
incongruência (MC=6,00; MI=2,06; p=0,00). Assim, as manipulações mostraram-se eficazes e
no sentido previsto, apesar de a diferença na média entre alta e baixa relevância não ter sido
tão elevada quanto a diferença entre congruência e incongruência.
Geralmente, o pesquisador tem que escolher entre maior validade externa ou maior validade
interna. Seria conveniente dispor de um plano experimental em que tanto uma quanto a outra
estivessem presentes; entretanto, segundo Malhotra (2001), em pesquisas de marketing é
freqüente a necessidade de se abdicar de uma delas.
A etapa de exame preliminar dos dados e preparação da base de dados envolve uma
tarefa longa e laboriosa, porém necessária. Uma análise cuidadosa nesta etapa leva a
resultados mais acurados, conseqüência da maior familiaridade com as características dos
dados e relações entre as variáveis, o que permite a eliminação de alguns “ruídos” presentes
nos dados brutos (HAIR, Jr. et al., 1998). Além disso, certifica-se que os dados atendem aos
pressuspostos básicos da análise multivariada de dados (KLINE, 1998).
Kline (1998) divide a análise preliminar dos dados em duas grandes categorias: (1)
aquelas relacionadas a casos específicos, que incluem tópicos como a precisão dos dados
inseridos no banco de dados, valores omissos e outliers; e (2) aquelas relacionadas à
distribuição/relações entre as variáveis, incluindo a avaliação da normalidade, linearidade,
homocedasticidade e multicolinearidade. Dessa forma, as análises preliminares realizadas
foram divididas conforme essa classificação ampla e realizadas seguindo as sugestões de
Kline (1998), Hair, Jr. et al. (1998) e Tabachnick e Fidell (2001). Já que para a análise do
modelo o banco de dados foi dividido em dois grupos de uma mesma variável (alta e baixa
relevância), as análises preliminares foram realizadas para cada um desses dois grupos
separadamente (KLINE, 1998; TABACHNICK e FIDELL, 2001).
79
Para diminuir o risco e o tempo de digitação, os dados foram digitados por uma
empresa especializada. Ao final do processo o banco de dados foi duplamente verificado:
primeiramente pela empresa e, em seguida, pela pesquisadora. A conferência consistiu em
escolher aleatoriamente alguns questionários (5% do total de questionários preenchidos) e
verificar as entradas de dados na base digitada. Seguindo sugestão de Kline (1998), valores
fora dos limites dos valores das escalas ou codificados erroneamente foram procurados,
porém nenhum foi encontrado.
Na maior parte das vezes os valores omissos não são desejados pelo pesquisador.
Entretanto, fatos que fogem ao seu controle tornam a sua existência praticamente inevitável.
Para lidar com isso, o pesquisador deve primeiramente avaliar quantitativamente o montante e
distribuição dos valores omissos e, logo em seguida, decidir como proceder.
Cohen e Cohen (apud KLINE, 1998) sugerem que 5% ou mesmo 10% de valores
ausentes não são valores elevados, podendo-se seguir com a análise sem grandes perdas. O
mais importante, talvez, seja verificar se o padrão de valores omissos é sistemático, isto é, se
o padrão de resposta daqueles indivíduos com valores omissos difere daqueles que
responderam essas questões. Para saber se o padrão de valores omissos é aleatório ou
sistemático, é preciso analisar se a quantidade de valores omissos não depende de alguma
variável (HAIR, Jr. et al., 1998).
A análise dos dados indicou que a variável com maior número de casos ausentes no
banco de dados com respondentes do cenário de relevância alta é a questão 12 da seção 4 do
questionário (referente à intenção de comportamento), com 3,1% de valores ausentes. Na base
com respondentes do cenário de relevância baixa o maior percentual de valores ausentes foi
de 2,8%, nas questões 6 e 11 da seção 1 (relevância) e 12 e 14 da seção 4 (intenção). Observa-
80
se que o percentual de valores ausentes está dentro do limiar mais conservador (5%)
estabelecido por Cohen e Cohen (apud KLINE, 1998).
Assim, a substituição dos valores omissos foi escolhida. A substituição desses valores
pode ser realizada com o cálculo da média das respostas para dada variável, por um valor
calculado a partir de uma regressão, ou por um método de emparelhamento de perfis (KLINE,
1998). Este último consiste na substituição do valor ausente por um valor de um respondente
que possui um padrão de resposta semelhante nas outras variáveis. Como os dados da
pesquisa foram obtidos com base em cenários manipulados, a substituição pela média ou pela
regressão não era adequada, uma vez que naturalmente deveria haver uma variância alta entre
as respostas dos diferentes grupos. O emparelhamento de perfis, portanto, mostrou-se mais
apropriado para este caso.
Outliers são casos com respostas muito diferentes do restante das respostas. Os
outliers não podem ser previamente classificados como benéficos ou problemáticos, mas
devem ser analisados no seu contexto e à luz das informações que eles provêem (HAIR, Jr. et
al., 1998). Um outlier univariado possui um valor extremo (acima de três desvios-padrão) em
apenas uma variável e é facilmente identificado através da inspeção da distribuição de
freqüência dos valores z. Os outliers univariados foram ignorados pois, ao lidar com cenários,
muitas respostas posicionaram-se próximas dos extremos das escalas.
Seguindo a sugestão de Kline (1998), uma análise foi efetuada com uma base
contendo os outliers multivariados e outra eliminando-os. Ambas as bases passaram pelo
mesmo tratamento de valores ausentes anteriormente à análise de outliers. O modelo estimado
com a base 1 (com outliers e 445 casos) apresentou bons índices de ajuste, segundo os
critérios de análise de modelos com equações estruturais definidos no item referente a
procedimentos de análise de dados (χ2/gl=2,71; GFI=0,86; AGFI=0,84; IFI=0,96; TLI=0,96;
CFI=0,96; RMSEA=0,06).
O modelo 2 (sem outliers) era idêntico ao modelo 1, porém estimado com a base 2
(sem os 100 casos de outliers multivariados), isto é, com 345 casos. Os índices foram
considerados bons (χ2/gl=2,50; GFI=0,84; AGFI=0,81; IFI=0,97; TLI=0,96; CFI=0,96;
RMSEA=0,07). Entretanto, a diferença é muito pequena e o modelo 1 é um pouco melhor, o
que conduz à decisão de manter os outliers multivariados, inclusive para garantir um número
adequado de casos para a análise multi-grupo realizada posteriormente (pelo menos 200 casos
82
por grupo). A decisão baseou-se na sugestão de Hair, Jr. et al (1998) que aconselha a
manutenção dos outliers, a não ser que eles sejam realmente muito extremos.
A análise das medidas de simetria e curtose indicam que a distribuição dos dados está
próxima da normal, já que os valores dessas medidas estão abaixo do indicado na literatura
como valor máximo dentro dos limites da normalidade da distribuição. A maior medida de
simetria foi –1,266, na variável 7 da seção 1 (REL7), indicando uma leve inclinação para a
esquerda. A maior medida de curtose foi de –1,677 na variável 1 da seção 2 (CONG1).
Efetuada a coleta junto à amostra, os dados foram analisados com o auxílio dos
pacotes estatísticos SPSS 10.0 (Statistical Package forSocial Sciences) e Amos 4.0. O
84
modelo teórico proposto foi testado através da técnica de modelagem de equações estruturais
(MEE), realizada com a utilização do software Amos 4.0, apropriado para a condução deste
tipo de análise.
A técnica traz muitas vantagens para a pesquisa do consumidor; entre elas cita-se a
consideração do erro de mensuração, a possibilidade de testar estruturas teóricas mais
complexas e a conveniência de permitir testes robustos de confiabilidade e validade de
constructo (BAGOZZI, 1981; MACKENZIE, 2001). O uso mais freqüente da modelagem de
equações estruturais é o teste de teoria, isto é, de hipóteses previamente desenvolvidas. Assim
sendo, a MEE é uma técnica confirmatória (TABACHNICK e FIDELL, 2001). O uso de
MEE em experimentos é defendido por Bagozzi e Yi (1989) e Tabachnick e Fidell (2001,
p.659), já que efeitos de mediação podem ser testados e informações a respeito da adequação
das manipulações podem ser incluídas na análise.
fase o modelo estrutural pode ser analisado tanto simultaneamente com o modelo de medidas
(modelo híbrido) (ANDERSON e GERBING, 1988) quanto com análise de caminhos
(somente o modelo estrutural, com os constructos transformados em variáveis somadas)
(GRAPENTINE, 2000; KLINE, 1998).
Uma vez que a seleção da matriz de entrada de dados, do método de estimação e das
medidas de ajuste têm impacto nas análises seguintes, estes foram previamente selecionados.
A MEE não utiliza como entrada para a análise os dados componentes do banco de dados
como as outras técnicas multivariadas. Apesar da possibilidade existente de conectar o banco
de dados ao software estatístico que efetua a análise por equações estruturais, é necessário que
se escolha a matriz de entrada – correlação ou covariância – sobre a qual o modelo será
estimado, pois o software utiliza esta matriz para estimar os índices.
7
A base de dados foi dividida em dois grupos com pouco mais de 200 casos cada.
86
Segundo Hair, Jr et al. (1998), o pesquisador deve buscar um número elevado de graus
de liberdade, pois dessa forma atinge-se parsimônia (melhor ajuste do modelo para cada
coeficiente estimado). Quanto melhor o ajuste com menor quantidade de coeficientes, melhor
o teste do modelo e mais confiáveis são os resultados.
Foram utilizados índices de adequação de três tipos: medidas de ajuste absoluto, que
medem o ajuste global do modelo; medidas de ajuste incremental, que comparam o modelo
proposto a outro modelo especificado pelo pesquisador; e medidas de ajuste parcimonioso,
que adequa as medidas ao número de graus de liberdade de modo a identificar o “quanto” de
ajuste foi atingido por cada coeficiente estimado (HAIR, Jr et al., 1998).
Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA): é uma medida que pretende
corrigir a tendência que o teste de Qui-Quadrado apresenta em rejeitar modelos especificados
quando estimados com grandes amostras. De acordo com Hair, Jr et al. (1998), valores entre
0,05 e 0,08 são considerados aceitáveis.
Comparative Fit Index (CFI): é uma medida comparativa global entre o modelo
estimado e o modelo nulo, cujos valores variam entre 0 e 1. Segundo Hair, Jr et al. (1998), é
uma medida adequada quando se está desenvolvendo um modelo. Embora Hair, Jr et al.
(1998, p.657) apenas sugiram que “valores elevados indicam um melhor ajuste”, adotou-se o
limiar de 0,8.
Seguindo essas definições, a análise foi dividida em quatro momentos: (a) análises
descritivas e eficácia das manipulações, (b) estimação do modelo de mensuração e validação
dos constructos, (c) estimação do modelo estrutural e (d) análise multi-grupo do modelo
estrutural para os dois níveis de relevância.
A confiabilidade é uma condição necessária mas não suficiente para validade. Uma
medida não pode ser válida se ela não é confiável, mas sendo confiável esta não é
necessariamente válida para a proposta que o pesquisador tem em mente (PEDHAZUR e
SCHMELKIN, 1991). A confiabilidade diz respeito ao grau que uma escala está livre de erros
não-sistemáticos e, conseqüentemente, mensura consistentemente o constructo que ela deve
medir (PETER, 1979). Para aferir a confiabilidade dos indicadores das variáveis latentes deste
estudo foram utilizadas as medidas de confiabilidade composta e variância extraída, ambas
sugeridas por Fornell e Larcker (1981), cujas fórmulas incluem o parâmetro da relação entre o
indicador e o constructo e o erro de mensuração do indicador. A confiabilidade composta
deve ter valores superiores a 0,7. A variância extraída deve ser maior do que 0,5, já que,
sendo ela menor, significa que a variância advinda do erro de mensuração é maior do que a
variância capturada pelo constructo, tornando a validade do constructo questionável
(FORNELL e LARCKER, 1981).
foram utilizados dois critérios: (a) para cada par de constructo, o qui-quadrado para o modelo
de mensuração que fixa a correlação entre os constructos em 1 deve ser significativamente
maior que o qui-quadrado do modelo que deixa a correlação “livre” (ANDERSON e
GERBING, 1988); e (b) para cada par de constructo, a correlação múltipla ao quadrado
(variância compartilhada) entre os dois constructos deve ser menor do que a variância extraída
para cada um deles (FORNELL e LARCKER, 1981).
Segundo Kline (1998, p.27), quando duas variáveis independentes apresentam efeito
de interação sobre uma variável dependente, elas não podem ser analisadas com modelagem
de equações estruturais, pois o efeito indica que a relação entre as variáveis não é linear,
suposição básica que deve ser atendida na estimação de modelos estruturais. No caso do
presente estudo, a variável congruência tem um efeito direto nas variáveis dependentes, e a
variável relevância supostamente interage com a congruência, modificando a relação dessa
com as variáveis dependentes. Por isso, diz-se que a relevância é uma variável moderadora e,
assim, sendo, ela não é analisada diretamente no modelo, mas em forma de grupos com
diferentes níveis de variáveis, cujos coeficientes são estimados separadamente e comparados.
Sob tais condições, a significância do efeito de interação indica que a relevância é uma
moderadora da relação e pode ser analisada com equações estruturais. A análise de variáveis
moderadoras em modelos de equações estruturais será sustentada por Baron e Kenny (1986),
90
James e Brett (1984), Ping (1995), Sauer e Dick (1993) e Sharma, Durand e Gur-Arie (1981)
e será realizada com a análise multi-grupo disponível no software Amos 4.0.
Por outro lado, Baron e Kenny (1986) definem uma variável moderadora como uma
variável categórica ou contínua que afeta a direção e/ou a força da relação entre uma variável
independente e uma dependente. Isto é, se Z é uma função de X (Z=f(X)) e Y é uma variável
moderadora, então para diferentes valores de Y a forma, força ou sinal da relação entre Z e X
varia, dependendo dos valores de Y (JAMES e BRETT 1984; SHARMA, DURAND e GUR-
ARIE 1981).
ocupação), mas as variáveis moderadoras podem ser tanto categóricas quando contínuas.
James e Brett (1984) e Sauer e Dick (1993) sugerem que quando a variável é contínua, que ela
seja transformada em categórica, pois a análise torna-se mais simples. Uma maneira de se
obter variáveis discretas é através da transformação em variáveis dummy, representando
diferentes níveis da mesma variável (por exemplo, separar a escala de relevância em alta e
baixa e atribuir uma categoria para cada nível). Em ambos os casos, utiliza-se a análise multi-
grupo para aferir o efeito da variável moderadora (BARON e KENNY, 1986; ARBUCKLE e
WOTHKE, 1999), que foi o processo adotado neste trabalho.
Dessa maneira, para analisar o efeito moderador da relevância, dois modelos foram
testados e comparados: um para baixa e outro para alta relevância. Para a realização desta
comparação, foi empregada análise multi-grupo, disponível no software Amos. Ao invés de
comparar os grupos de alta e baixa relevância através de análises separadas, é feita uma única
análise que estima os parâmetros e testa as hipóteses dos dois grupos de uma só vez
(ARBUCKLE e WOTHKE, 1999). Este método apresenta duas vantagens sobre o método
alternativo, de realizar análises separadas para os dois grupos. Primeiro, ele proporciona um
teste de significância para quaisquer diferenças existentes entre os grupos. Segundo, a análise
multi-grupo proporciona estimativas dos parâmetros mais eficientes do que a análise
separada, e pode-se concluir que não há diferença ou que a diferença se reduz a apenas alguns
parâmetros (ARBUCKLE e WOTHKE, 1999).
Este tipo de análise exige que certas regras sejam atendidas, antes de se proceder com
a análise: (a) os grupos devem apresentar estrutura idêntica do diagrama de caminhos; (b) os
parâmetros não definidos/ nomeados podem assumir valores diferentes para os diferentes
grupos; (c) parâmetros em diferentes grupos podem ser fixados com o mesmo valor (basta que
eles possuam o mesmo nome) (ARBUCKLE e WOTHKE, 1999). A hipótese nula geral
testada em análise multi-grupos é que os dados de cada grupo pertencem à mesma população.
5.1.1 Sexo
Na figura 7 pode-se ver a divisão da amostra por sexo. A maior parte dos respondentes
(61,7%) são homens, enquanto que 38,3% são mulheres.
Feminino
38,3%
Masculino
61,7%
5.1.2 Idade
A grande maioria dos respondentes (85%) é jovem, estando na faixa até os 30 anos.
Esse resultado era esperado, já que foram entrevistados alunos de graduação. Treze porcento
dos entrevistados estão na faixa entre 31 e 45 anos e 1,8% têm acima de 46 anos. Os
resultados podem ser melhor visualizados na figura 8.
80
68
60
40
20
Percentual
17
13
0
Até 20 De 31 a 45
De 21 a 30 Acima de 46
Idade
Quanto ao estado civil, 74,3% dos respondentes é solteiro. Uma parcela considerável
(23,7%) é casada, enquanto que 1,6% são divorciados e 0,5% são viúvos. Os resultados são
apresentados na figura 9.
Divorciado
1,6%
Viúvo
Casado
,5%
23,7%
Solteiro
74,3%
30 31
20 21
19
17
10 12
Percentual
0
Até 5 De 5 a 10 De 10 a 15 De 15 a 20 Mais de 20
Renda
,5%
PUC
58,6%
Outros
5,8%
Análise de Sistemas
12,4%
Comércio Exterior
7,4%
Administração
74,4%
Uma vez tendo-se garantida a qualidade dos tratamentos procedeu-se com a análise do
modelo de mensuração e validação dos constructos individualmente. Visto que o objetivo das
manipulações era criar suficiente variabilidade nos dados para que o efeito moderador da
relevância pudesse ser examinado, as análises descritas a seguir foram efetuadas com o
agrupamento dos dados relativos a todos os cenários. Nesta etapa, as medidas das variáveis
latentes serão avaliadas para, então, partir-se para o teste das hipóteses da pesquisa.
8
Observado durante o pré-teste. Foram necessárias inúmeras modificações no cenário até se obter um
grau de relevância satisfatório.
100
foi significante (p<0,001) em todos os modelos de mensuração. Cabe lembrar, também, que o
RMSEA é uma medida que visa corrigir esta tendência à significância do qui-quadrado.
As cargas fatoriais de todos os itens foram fortes e significativas, o que indica que os
itens capturam bem o conceito que eles se propõem medir. O menor valor t foi de 27,08,
significativo ao nível de 0,01, o que fornece uma idéia sobre a significância das cargas
padronizadas.
Além disso, com base nos índices de modificação sugeridos, foram adicionadas duas
covariâncias: entre as variáveis EP1 (entusiasmado) e EP2 (interessado) e entre EP2
(interessado) e EP3 (determinado). Dada a semelhança conceitual entre essas emoções, as
covariâncias sugeridas foram aceitas.
Como pode ser visto na tabela 8, as cargas do modelo reespecificado foram altas e
significativas, sugerindo que os indicadores utilizados refletem bem o constructo emoções
positivas. O menor valor t foi de 14,30, com uma carga padronizada associada de 0,63 e
significância menor que 0,01. Os valores de confiabilidade composta e variância extraída
também estão acima do sugerido para atender a esses requisitos.
105
O modelo apresentou índices insatisfatórios (tabela 9), o que levou a uma inspeção
mais acurada para buscar possíveis problemas a serem sanados com a reespecificação. A
partir dessa inspeção observou-se que três variáveis (EN1, EN5 e EN10) possuíam resíduos
padronizados associados elevados e eram as variáveis com cargas mais baixas, embora
significativas, tanto na análise fatorial confirmatória (0,703; 0,584 e 0,701 respectivamente),
quanto na análise fatorial exploratória.
Em relação à análise dos resíduos padronizados, o mais elevado encontrado foi igual a
1,05, entre as variáveis EN2 (angustiado) e EN6 (nervoso). Portanto, pode-se afirmar que se
trata de um constructo unidimensional, cujos indicadores mensuram o conceito em questão e
apenas este.
O constructo atitude, mensurado com uma escala proposta por Bagozzi (1986) e
adaptada para o português, apresentou índices satisfatórios para o modelo de mensuração na
primeira tentativa de estimação. Os resultados são apresentados na tabela 11. Todas as cargas
fatoriais foram altas e significativas neste modelo, e nenhum resíduo padronizado encontrava-
se acima de |2,58|.
Os resíduos padronizados estavam todos muito abaixo do limite máximo, sendo que o
maior valor encontrado foi entre as variáveis ATIT3 (não prazeroso-prazeroso) e ATIT5
(negativa-positiva) e teve valor igual a 0,33. Esse resultado demonstra a unidimensionalidade
do constructo atitude.
alta significância (p<0,01), demonstram a adequação dessa escala para medir a atitude do
consumidor frente a um produto.
obtiveram elevada carga no fator denominado “relevância” dessa escala. Na tabela 15 pode-se
observar que os índices de ajuste da escala completa com 12 itens não foram satisfatórios.
Foram encontrados resíduos padronizados elevados entre as variáveis REL11 (não/ tem valor
pra mim) e REL12 (não/ importa pra mim) (3,408) e entre as variáveis REL2 (a compra desse
computador trará conseqüências importantes) e REL3 (este computador é relevante) (2,807).
Por outro lado, todas as cargas foram significativas e nenhuma menor do que 0,7. Optou-se
pela eliminação das variáveis REL2 e REL3, que eram itens adaptados de pesquisas
anteriores, e pela eliminação da variável REL1 (o quão importante é esse computador). A
variável REL1 possuía resíduos padronizados próximos do valor de |2,58| e também fazia
parte do conjunto de 3 itens adicionados à escala de Zaichkowsky. Assim, a nova escala
testada passou a possuir itens provenientes da mesma fonte.
A tabela 15 mostra que os índices de ajuste da escala com 9 itens também não foram
muito satisfatórios, mas já obtiverem uma melhora. Dessa forma, foram acrescentadas
covariâncias entre as variáveis REL4 (desnecessário/ necessário) e REL5 (inútil/ útil); REL5 e
REL7 (não benéfico/ benéfico); REL6 (supérfluo/ fundamental) e REL8 (não essencial/
essencial); e REL11 (não tem valor pra mim/ tem valor pra mim) e REL12 (não importa pra
mim/ importa pra mim). Como se pode ver, os itens descrevem conceitos semelhantes, sendo
natural que exista covariância entre eles.
Houve melhora na maior parte dos índices após esta reespecificação. O χ2/GL e o
RMSEA ainda mostravam-se um pouco acima do indicado, mas os outros índices já refletem
a moderada adequação da escala. Além disso, o teste de diferença de qui-quadrado indicou
uma melhoria significativa com a inclusão das covariâncias no modelo.
Percebe-se que ambos apresentam índices muito bons, estando apenas o qui-quadrado
fora dos padrões aceitos. Um teste de diferença qui-quadrado foi efetuado para verificar-se se
houve melhoria significativa com a consideração das covariâncias. O qui-quadrado resultante
(∆χ2=190,51), é significativo para 3 graus de liberdade a um nível de significância de 0,005.
Portanto, o modelo reespecificado é melhor e é o modelo de mensuração aceito.
112
Optou-se por avaliar este item após a estimação do modelo de mensuração completo
para certificar-se da adequação do modelo aos dados antes de se chegar a uma conclusão
precipitada sobre a validade dos constructos. Assim, analisando-se novamente as estatísticas
dos indicadores com base na estimação do modelo completo, pode-se afirmar que as variáveis
latentes presentes neste estudo apresentam validade convergente.
Seguindo a abordagem em duas etapas, nesta fase será estimado o modelo estrutural,
cujo objetivo é analisar a significância das relações hipotetizadas entre os constructos,
confirmando ou não as hipóteses de pesquisa. Segundo Kline (1998), os caminhos estruturais
podem ser estimados tanto por “análise de caminhos”, uma técnica na qual as variáveis
latentes são transformadas em variáveis observáveis, ou pela estimação do modelo híbrido,
que conjuga o modelo de mensuração com o modelo estrutural. Por ser este segundo mais
completo, foi a opção escolhida para analisar as hipóteses. O modelo híbrido estimado é
apresentado na figura 13.
115
η1 = γ11ξ1 + ς1
η2 = γ21ξ1 + ς2
η3 = β31η1 + β32η2 + ς3
Nesta primeira análise, utilizou-se a amostra completa com 445 casos (na próxima
seção, as hipóteses confirmadas serão comparadas quanto à magnitude do coeficiente de
regressão para os grupos de alta e baixa relevância). Foi utilizado o critério de máxima
verossimilhança para estimação do modelo.
9
Notação LISREL®(HAIR, Jr et al., 1998).
117
A H8, que trata da moderação da relevância sobre as relações do modelo, será testada
na próxima seção.
Para testar o papel moderador da relevância sobre as relações propostas foi seguido
um dos dois métodos de análise proposto por Sharma, Durand e Gur-Arie (1981) para
identificar variáveis moderadoras. O método consiste na análise de subgrupos e foi
operacionalizado através da análise multi-grupo disponível no software Amos.
10
Notação LISREL®. O Amos® possui uma opção de se trabalhar diretamente com as matrizes
equivalentes às matrizes produzidas para o LISREL®.
119
modelo foi igual a 1697,85, com 741 graus de liberdade. Considerando o modelo livre, a
diferença no qui-quadrado foi igual a 15,615. Este valor indica que existe uma diferença
significante entre os parâmetros estimados, já que para 7 graus de liberdade o qui-quadrado
deve ser superior a 14,07 para ser significante (p=0,05).
relações seria intensificada. Para ser classificada como tal, entretanto, a relevância não deve
estar relacionada com a congruência ou com a variável dependente.
Uma análise de correlação a partir das variáveis somadas referentes a cada constructo
indica que a relevância está fracamente correlacionada com a congruência (r=0,17) e também
fracamente relacionada com as variáveis dependentes emoções positivas (r=0,29), emoções
negativas (r=-0,097), atitude (r=0,22) e intenção (r=0,20), porém as correlações são
significantes a p<0,05.
Além disso, a relevância não deve ser uma antecedente direta das variáveis
dependentes. A teoria revisada sustenta que a relevância não está diretamente relacionada
com as emoções. Entretanto, uma análise efetuada com MEE considerando a relevância como
uma variável antecedente de emoções revelou que a relevância apresenta impacto direto e
significativo nas emoções positivas, mas não é antecedente direta das emoções negativas.
Mesmo assim, o coeficiente padronizado da relação significativa é considerado fraco (β =
0,198; p<0,05). Se esta relação, eminentemente com base empírica, fosse inserida no modelo
final, a modificação resultante classificaria-se como uma modificação de natureza teórica, já
que é essencial para a teoria subjacente. Assim, a relação não foi inserida no modelo final. A
discussão sobre a natureza da moderação da relevância é apresentada no próximo capítulo.
6. CONCLUSÃO
Dessa forma, buscou-se com esse trabalho unir o impacto dessas emoções sobre a
atitude e intenção de comportamento do consumidor com a formação de emoção em situações
de consumo. O resultado foi um modelo teórico que inclui dois antecedentes de emoções,
quais sejam congruência e relevância para com os objetivos pessoais do indivíduo, emoções
positivas e negativas, atitude frente ao produto e intenção de comportamento, que inclui a
tendência à compra ou recompra do produto.
122
Essas duas escalas – congruência e relevância – foram montadas com itens de diversos
trabalhos especialmente para esta pesquisa. Os testes estatísticos realizados, que apontam para
a confiabilidade e validade dessas escalas, mostram que estas são adequadas para mensurar os
conceitos a que se propõem. Esta é, portanto, a primeira contribuição deste trabalho.
que foram muito bons, e os coeficientes de regressão referentes a cada caminho estrutural do
modelo.
Com base na teoria cognitiva das emoções, a congruência foi identificada como a
avaliação cognitiva que determina o sentimento de emoções positivas, quando a situação é
congruente com os objetivos do indivíduo, ou negativas, quando a situação é incongruente
com os objetivos do indivíduo. As hipóteses H1 e H2, que se referem a essas relações, foram
confirmadas para os dois níveis de relevância. Ambas obtiveram coeficientes elevados e
significativos. A H1 (congruência emoções positivas) obteve β=0,65 para alta relevância e
β=0,61 para baixa relevância; a H2 (congruência emoções negativas) obteve β=0,65 para
alta relevância e β=0,69 para baixa relevância (p<0,05). A variabilidade nesses coeficientes ao
longo dos grupos de relevância não é estatisticamente significativa. Isso confirma que
situações que ajudam o indivíduo a alcançar o seu objetivo levam ao sentimento de emoção,
independentemente do nível de relevância que a pessoa atribui ao produto da situação.
significativos e bastante altos (β=0,78 para alta relevância e β=0,70 para baixa relevância;
p<0,05), denotando uma forte relação entre atitude e intenção de comportamento.
Por fim, a H8, que trata da moderação da relevância nas relações hipotetizadas, foi
analisada com base na comparação entre os coeficientes padronizados para dois grupos de
relevância. O teste de diferença de qui-quadrado acusou diferença entre o modelo estimado
com os parâmetros livres entre os grupos e o modelo estimado com os coeficientes fixados
entre os grupos. Analisando as relações uma a uma, detectou-se diferença nas hipóteses H3
(emoções positivas atitude) e H7 (atitude intenção). Especificamente, os coeficientes da
H3 foram significativamente maiores para alta relevância (β=0,58; p<0,05) do que para baixa
relevância (β=0,40; p<0,05). Da mesma forma ocorre com os coeficientes da H7 (β=0,78 para
alta relevância e β=0,70 para baixa relevância; p<0,05). As hipóteses H1, H2, H4, H5 e H6
obtiveram coeficientes semelhantes entre os grupos.
A primeira questão diz respeito à natureza da formação de emoções. São elas formadas
diretamente, de forma independente do sistema cognitivo? Ou são elas integradas a esse, de
forma a serem influenciadas ou influenciar esse sistema? Enfim, como ocorre a formação de
127
emoções? Para responder a esse questionamento foi necessário buscar diretamente em fontes
de psicologia explicações plausíveis. Foram encontradas perspectivas diversas, muitas vezes
opostas. A visão de Zajonc e Markus (1982, 1985) defende a independência de afeto e
cognição, implicando na formação direta das emoções. A visão de Lazarus (1991a, b) defende
a formação de emoção como uma interpretação de um estado cognitivo antecedente que, por
sua vez, é uma reação a um evento. Pelas razões explicitadas no capítulo de fundamentação
teórica, optou-se pela perspectiva de Lazarus, que naturalmente conduziu para a teoria
cognitiva das emoções. Assim, assumiu-se que as emoções são conseqüências de avaliações
cognitivas e, portanto, o modelo desenvolvido tem uma característica cognitiva-afetiva.
Considerando que o objetivo do estudo era avaliar um modelo que integrasse também
a influência das emoções em outras variáveis, optou-se somente pelas duas avaliações
consideradas mais próximas. Além disso, Smith e Ellsworth (1987) salientam que ainda não
há um padrão consistente no estudo de avaliações cognitivas. Segundo os autores, as
avaliações cognitivas “centrais” à formação de emoção possuem maior suporte empírico,
enquanto outras ainda carecem desse suporte, demonstrando relações instáveis em diferentes
pesquisas.
capacidade de analisar uma variável como antecedente da outra. Em pesquisas do tipo survey,
o máximo de inferência que se pode fazer sobre os resultados é de que há uma correlação
entre as variáveis, não sendo possível fazer nenhuma inferência quanto à causalidade. Não é o
objetivo aqui entrar nesta discussão, até porque esta envolve perspectivas filosóficas e
profundas que fogem ao escopo desse trabalho. O objetivo é mostrar que, com os cenários,
pode-se afirmar que a congruência é antecedente ao sentimento de emoção, uma vez que se
mostrou que a variabilidade do cenário de congruência conduz a uma modificação
padronizada nas medidas de emoção. O resultado obtido provê suporte adicional à idéia de
que a congruência ou discrepância de um fato em relação aos objetivos pessoais gera
emoções, teoria defendida e suportada por autores como Lazarus (1991a, b), Roseman et al.
(1990; 1994) e Smith e Ellsworth (1985; 1987)
Uma explicação para este padrão de relações pode ser encontrada no trabalho de
Hanoch (2002, p.3), que sugere que as emoções operam em conjunto com o pensamento
racional. Segundo ele, as pessoas tem uma habilidade limitada ao lidar com a razão. Os seres
humanos não tem nem os fatos, nem uma estrutura de valores consistente, nem potencial de
raciocínio suficiente ao seu dispor para aplicar, na prática, uma teoria eminentemente racional
como a Teoria da Utilidade Esperada (HANOCH, 2002, p.5). Assim, as emoções funcionam
como um mecanismo de processamento de informação, atuando junto com a racionalidade.
São elas que dizem que objeto vem antes na hierarquia de acordo com os nossos objetivos
(elas dizem o que é importante agora), e por isso elas são tão importantes para o processo
decisório. Isso significa que as emoções restringem a gama de opções contempladas ou
avaliadas e fazem com que o agente foque a sua atenção em aspectos específicos da
informação. Conseqüentemente, ao experimentar fortes emoções em uma situação de
consumo específica, aquela informação obtida na situação (por exemplo, a congruência com o
seu objetivo), torna-se mais proeminente e influencia as avaliações posteriores do produto.
129
Os resultados não suportaram, contudo, o impacto direto das emoções sobre a intenção
de comportamento. Esse resultado surpreende, na medida em que esta relação é suportada
pela teoria. Este padrão de resultado pode, naturalmente, conduzir ao argumento de mediação
das atitudes, que determina que a experiência de emoções positivas ou negativas produz
atitudes mais ou menos positivas e esta, por sua vez, influencia a intenção de comportamento
(ALLEN, MACHLEIT e KLEINE, 1992). Conseqüentemente, sugere-se testes adicionais de
mediação para verificar se este padrão persiste.
Apesar do suporte teórico para esta relação, pode-se supor que o efeito direto das
emoções na intenção pode ser ativado pela intensidade da experiência emocional. Assim, uma
possível explicação para os resultados encontrados pode estar nos sentimentos incitados pela
manipulação através dos cenários. Como as relações foram testadas com base em cenários
artificiais, a experiência emocional pode não apenas ter sido menos intensa, mas também
menos externamente válida do que se a pesquisa tivesse sido conduzida sob outras condições,
quando os sentimentos poderiam atingir níveis semelhantes ao que ocorre em situações de
consumo reais. Dessa forma, isso pode ter causado a não significância das relações diretas
entre emoções e intenção de comportamento.
relevância sobre as emoções, conforme reportado por Nyer (1997b) não foi encontrado.
Logicamente, o resultado encontrado nessa pesquisa deve ser analisado à luz de resultados
anteriormente relatados na literatura, e jamais ser interpretado como “definitivo”.
Uma possível explicação para os resultados encontrados pode estar no relativo alto
nível de relevância atribuído ao produto da situação no grupo de baixa relevância, apesar da
diferença ter sido significativa. Enquanto a média foi de 5,62 para o grupo de alta relevância,
esta média ficou em 3,44 para o grupo de baixa relevância, próximo do ponto central da
escala. Sugere-se uma avaliação com outros cenários para verificar se o problema reside nessa
questão.
Talvez mais importante seja a confirmação de que quanto mais relevante é o produto
para os objetivos pessoais do indivíduo, mais forte é a relação entre a atitude e a intenção de
comportamento. Isso conta para o aumento da validade preditiva da relação entre atitude e
intenção de comportamento quando a relevância é alta.
Outros antecedentes cognitivos das emoções são importantes para a sua ocorrência e
diferenciação e merecem estudos mais aprofundados. Pode-se citar, por exemplo, a atribuição
da causa do evento (LAZARUS, 1991b; ROSEMAN, SPINDEL e JOSE, 1990), o potencial
de lidar com a situação (LAZARUS, 1991b; SCHERER, 1988), ou a probabilidade de
ocorrência do evento (que também envolve surpresa e novidade) (SCHERER, 1988;
ROSEMAN, SPINDEL e JOSE, 1990; SMITH e ELLSWORTH, 1985). Essas avaliações
cognitivas são especialmente importantes para a diferenciação de emoções específicas (como
diferenciar tristeza de raiva). Os trabalhos que analisaram outras avaliações cognitivas como
antecedentes de emoções utilizaram experimentos, manipulando e combinando as avaliações
cognitivas e testando a geração de emoções específicas no contexto de consumo. Exemplos
desses trabalhos consistem em BAGOZZI e GOPINATH (apud KUMAR e OLIVER, 1997),
NYER (1997a,b) e SOSCIA (2002). Neste caso, o mais indicado é trabalhar com emoções
categóricas (alegria, tristeza, arrependimento), ao invés de unificá-las em dois constructos
(emoções positivas e emoções negativas) como foi feito na presente pesquisa.
Além disso, durante as entrevistas surgiram diversos tópicos que podem ser abordados
no contexto teórico de emoções. É o caso de consumidores que consideram a compra ou
consumo de um produto como uma forma de buscar emoções positivas ou como uma fuga de
emoções negativas. Essas situações são diferentes das investigadas neste trabalho, e estão
relacionadas com compra por impulso (ROOK, 1987) ou compra compulsiva (HIRSCHMAN
e STERN, 1999).
Outra sugestão reside na relação entre emoção, expressões faciais provocadas por elas
e a memória do consumidor. A relação positiva entre emoção e memória é amplamente aceita.
132
Além disso, saber da influência das emoções já chama a atenção dos gerentes para a
importância dessas variáveis no contexto mercadológico. Cabe lembrar que quando a
relevância do produto é alta em relação aos objetivos pessoais do consumidor, a relação entre
emoções positivas e atitude e a relação entre atitude e intenção de compra torna-se mais forte.
Gerencialmente, esta é uma informação importante porque os gerentes poderão utilizar
133
6.3 LIMITAÇÕES
Além disso, não foi possível identificar o tipo de variável moderadora que a relevância
é, já que a variável não atendeu aos requisitos propostos por Sharma, Durand e Gur-Arie
(1981) para se inserir na categoria homologizer. Embora fracos, foi encontrada correlação
entre a relevância e outras variáveis, além de um efeito significativo da relevância sobre
emoções positivas. Segundo os critérios de categorização de variáveis moderadoras proposto
por Sharma, Durand e Gur-Arie (1981), esses efeitos não poderiam ocorrer.
Apesar de sustentada pela literatura por ser mais homogênea e prover maior validade
interna, a amostra de estudantes é geralmente considerada uma forte limitação da pesquisa,
pela considerada fraca validade externa. Realmente, a situação do cenário foi idealizada já
considerando que a amostra seria de estudantes e, portanto, o cenário deveria estar de acordo
com seus hábitos de consumo. Entretanto, é fácil de se perceber que as emoções podem estar
presentes em muitas outras situações. Por isso, sugere-se também que o modelo seja re-
136
testado com outras amostras. Similarmente, a montagem do cenário com outros produtos (ou
até mesmo com serviços), traria mais informações à adequação e generalização do modelo.
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151
ANEXOS
152
Dados do Entrevistado:
Nome:_________________________Idade:_______Data:__________
Introdução
Como consumidor (a), você acha que suas opiniões são formadas com base na
racionalidade ou na emoção? Por que?
Questões
Este produto (objeto que causou emoção) é pessoalmente importante para você?
Por quê?
Você acha que este produto o ajuda a alcançar coisas importantes na sua vida? O
quê, por exemplo?
Você saberia me dizer a(s) razão(ões) pela(s) qual(is) você sentiu essa emoção
nesta experiência?
Havlena e Emoções em situações de Classificar emoções Mehriabian-Russel (1974) Alfa de Cronbach; A escala PAD parece capturar mais informação sobre
Holbrook, consumo. relativas a situações de (diferencial semântico, 12 correlação; correlação aspectos emocionais das experiências de consumo descritas.
1986 consumo previamente itens). Plutchik (1980) canônica; análise Mehriabian-Russel (1974)explicou melhor as emoções de
descritas de acordo com (escala de intensidade – discriminante para Plutchik (1980).
as escalas de de nada a muito forte, 24 comparação das
Mehriabian-Russel itens, Alpha de Cronbach escalas.
(1974) e Plutchik (1980). = 0,92).
Holbrook, Happy/unhappy Emoções: Adaptada de Análise de
Chestnut, Pleased/annoyed Mehrabian e Russel componentes principais
Oliva e Satisfied/unsatisfied (1974). Alpha de (rotação oblíqua).
Greenleaf, Contended/melancholic Cronbach = 0,89.
1984 Hopeful/despairing
Relaxed/bored
154
Westbrook, Afeto (emoções), Utilizou duas amostras. Adaptação de Izard Análise fatorial As dimensões de afeto são completamente ortogonais em uma
1987 satisfação, reclamação, (1977). exploratória; alfa de amostra e “apenas modestamente” correlacionadas em outra.
propaganda boca-a-boca Alfas de Cronbach: Cronbach; regressão. As respostas afetivas estão relacionadas com a satisfação com
Afeto Positivo: 0,78 e igual magnitude e direção oposta, de maneira semelhante
0,77 entre as duas categorias de produtos.
Afeto Negativo: 0,73 e
0,76
155
Allen, Atitude, emoções. Survey com 361 doadores Atitude: perspectiva Análise fatorial Primeiramente os autores utilizaram 11 itens de atitudes.
Machleit e de sangue (com isso os unidimensional adaptada de confirmatória (AFC) Como AFC não confirmou que essa era uma escala
Kleine, 1992 autores puderam analisar o Bagozzi (1981) (5 itens) e exploratória (AFE); unidimensional, foi aplicada AFE para identificar os
comportamento efetivo, ao Emoções: Izard (1977). Alpha de Crobach; itens do principal fator, obtendo-se 5 itens. Essa escala
invés de intenção de Alfa de Cronbach entre 0,80 e análise discriminante; de atitude (bom/ruim; bobo/esperto; agradável,
comportamento). 0,90. regressão. desagradável; inseguro/seguro;
punitivo/recompensador) foi confirmada com LISREL.
As emoções influenciam atitudes que, por sua vez,
influenciam o comportamento.
As emoções podem ter uma influência direta no
comportamento que não é explicada pela atitude.
Nyer, 1997 Relevância, desejo do Experimento 2 (alta e baixa Relevância: 2 itens (importância e (M)ANOVA. As emoções mediam a influência das avaliações
JCSDCB resultado, atribuição, relevância) x 2 (alto e relevância do teste) cognitivas no comportamento.
emoções, satisfação, baixo desejo) x 2 Desejo: 2 itens
propaganda boca-a-boca (atribuição interna e (desejável/indesejável e
positiva. externa). bom/ruim)
Emoções: adaptadas de Holbrook
e Batra (1987), Plutchik (1980),
Russel (1980) e Shaver et al.
(1985).
Geneva Novidade, agradabilidade Não se aplica. Escalas desenvolvidas pelos Não se aplica. Não se aplica.
Emotion intrínseca, relevância, membros do grupo de pesquisa
Research potencial de lidar com a Geneva Emotion Research Group
Group, 2002 situação, compatibilidade com base no trabalho de Klaus
com padrões, emoções. Scherer (2001).
Ruth, Brunel Emoções, avaliações Survey com incidente Shaver, Schwartz e O´Connor ANOVA; Análise Os autores mostram que há uma relação sistemática
e Otnes, 2002 cognitivas. crítico (2 estudos). (1987) (cinco categorias básicas discriminante. entre avaliações cognitivas e emoções em situações de
de emoções: alegria, amor, medo, consumo.
raiva e tristeza).
156
Unimportant 1 2 3 4 5 6 7 Important
Useless 1 2 3 4 5 6 7 Useful
Trivial 1 2 3 4 5 6 7 Fundamental
Not beneficial 1 2 3 4 5 6 7 Beneficial
Superflous 1 2 3 4 5 6 7 Vital
Nonessential 1 2 3 4 5 6 7 Essential
Of no concern 1 2 3 4 5 6 7 Of concern to me
Means nothing to me 1 2 3 4 5 6 7 Means a lot to me
Not needed 1 2 3 4 5 6 7 Needed
Fonte: Fonte: Mano e Oliver (1993) e Bruner e Hensel (1998, p.268)
1.
Incongruent to what I 1 2 3 4 5 6 7 Congruent to what I
wanted wanted
Fonte: GERG (2003)
157
This scale consists of a number of words that describe feelings and emotions. Read each item
and then mark the appropriate answer in the space next to the word. Indicate to what extent
[INSERT APPROPRIATE TIME INSTRUCTIONS HERE]. Use the following scale to
record your answers.
1 2 3 4 5
______interested ______irritable
______distressed ______alert
______excited ______ashamed
______upset ______inspired
______strong ______nervous
______guilty ______determined
______scared ______attentive
______hostile ______jittery
______enthusiastic ______active
______proud ______afraid
Bad 1 2 3 4 5 6 7 Good
Unfavorable 1 2 3 4 5 6 7 Favorable
Disagreeable 1 2 3 4 5 6 7 Agreeable
Unpleasant 1 2 3 4 5 6 7 Pleasant
Negative 1 2 3 4 5 6 7 Positive
Dislike 1 2 3 4 5 6 7 Like
Fonte: Bagozzi, 1986; Bruner e Hensel (1998).
Intenção de comportamento:
Unlikely 1 2 3 4 5 6 7 Likely
Non-existant 1 2 3 4 5 6 7 Existant
Improbable 1 2 3 4 5 6 7 Probable
Impossible 1 2 3 4 5 6 7 Possible
Uncertain 1 2 3 4 5 6 7 Certain
Fonte: Bruner e Hensel (1998)
159
Relevância Alta:
Você quer comprar um novo computador para uso próprio na sua casa. Há muito
tempo que você pensa em comprar este computador, pois com ele você poderá entreter-se
com suas atividades favoritas tais como navegar na internet, conversar com seus amigos
através do chat e trocar e-mails. Você também usa o computador para fazer seus trabalhos da
faculdade e trabalhar. O computador, para você, é não apenas uma ferramenta de trabalho,
mas também uma forma de aumentar a sua capacidade e flexibilidade de comunicação.
Relevância Baixa:
Você está pensando em comprar um novo computador. Seu computador atual funciona
bem e atende tudo o que você precisa, mas você está pensando em trocá-lo por outro ao
menos um pouco mais ágil para fazer alguns trabalhos, que necessitam basicamente de
processadores de texto. Você pensa em comprar um computador simples, pois você não quer
gastar muito e tem outras prioridades. Entretanto, os modelos melhores que o seu estão muito
caros e você não sabe quando os preços vão baixar. Você resolve esperar por uma melhor
oportunidade, já que por um bom tempo ainda poderá usar o seu computador atual ou o da
faculdade, caso seja necessário.
Congruência:
Imagine agora que você consegue comprar o computador e, ao usá-lo, descobre que
sua performance é muito boa. O computador que você comprou é demais! Ele é exatamente
aquilo que você queria para realizar suas atividades. Este computador torna mais rápido o
desenvolvimento das tarefas que você queria realizar com ele.
Incongruência:
Imagine agora que você consegue comprar o computador, e, ao usá-lo, descobre que
sua performance não é satisfatória. O computador que você comprou é lento e faz barulho
enquanto ligado. Ele não era como você pensou que ele fosse. Este computador torna mais
lento o desenvolvimento das tarefas que você queria realizar com ele.