Resumo Monografia 1-Francine Flabio

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Universidade Lúrio

Faculdade de Engenharia

Departamento de engenharia Geológica

Campus Universitário de Pemba – Bairro Eduardo Mondlane

Resumo de Monografia I

Caracterização Geoquímica E Geotécnica De Argilas Do Distrito De Namuno,


Para Aplicação Em Fluidos De Perfuração E Completação De Poços De
Petróleo E Gás

Discentes:

Francine da Silva Flábio

Docente: Isac Abdulgani, MSc.

Pemba, Maio de 2024


Índice

1. CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

1.1. Contextualização .......................................................................................................... 1

1.2. Problematização............................................................................................................ 2

1.3. Justificativa ................................................................................................................... 2

1.4. Hipóteses ...................................................................................................................... 2

2. CAPíTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................. 3

2.1. Geoquímica ................................................................................................................... 3

2.1.1. Terminologias e constituintes dos minerais argilosos ........................................... 4

2.1.2. Classificação de minerais de argila ....................................................................... 5

2.1.3. Mecanismo de troca catiônica e hidratação de argilas .......................................... 8

2.1.4. Métodos de caracterização geoquímica e geotécnica de argilas ........................... 8

2.2. Fluido de perfuração e completação de poços de petróleo e gás ................................ 12

2.2.1. Minerais industriais usados como aditivos nos fluidos de perfuração ................ 13

3. CAPÍTULO III: CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................. 16

3.1. Enquadramento Geografico ........................................................................................ 16

3.2. Pedologia .................................................................................................................... 16

3.3. Enquadramento Geológico ......................................................................................... 17

i
3.3.1. Geologia regional ................................................................................................ 17

3.3.2. Geologia local ..................................................................................................... 17

4. CAPITULO IV: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO .............................................. 18

4.1. Caracterização da pesquisa/Tipo de pesquisa ............................................................. 18

4.3. Local e Sujeitos do Estudo ......................................................................................... 20

4.4. Etapas de realização do trabalho ................................................................................ 21

4.4.1. Preparação do trabalho de campo........................................................................ 22

4.4.2. Trabalho de campo .............................................................................................. 22

4.4.3. Critérios de amostragem e coordenadas .............................................................. 22

4.4.4. Procedimentos Analíticos.................................................................................... 23

4.5. Materiais e softwares usados ...................................................................................... 25

4.5.1. Equipamento para a caracterização química-UEM ............................................. 25

4.5.2. Materiais para a caracterização física.................................................................. 25

4.5.3. Materiais para amostragem ................................................................................. 25

4.5.4. Softwares ............................................................................................................. 26

5. CAPÍTULO V: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 26

5.1. Análise Geoquímica ................................................................................................... 26

5.2. Óxido de Silício (SiO2) .......................................................................................... 27

ii
5.2.1. Óxido de Alumínio (Al2O3) ............................................................................... 27

5.2.2. Óxido de Ferro (Fe2O3) ...................................................................................... 28

5.2.3. Óxido de Titânio (TiO2) ..................................................................................... 28

5.2.4. Óxido de Potássio (K2O) e Oxido de Sódio (Na2O) .......................................... 29

5.2.5. Óxido de Cálcio (CaO) ........................................................................................ 29

5.3. Análise Granulométrica .............................................................................................. 30

5.4. Limites de consistência (Atterberg) ............................................................................ 35

5.5. Possibilidade de uso de argilas do Distrito de Namuno em fluidos de perfuração de


poços de 36

5.5.1. Verificação de hipóteses...................................................................................... 36

5.5.2. Resposta às questões derivadas ........................................................................... 37

5.5.3. Resposta à pergunta de partida ............................................................................ 38

6. CAPíTULO VI: CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E LIMITAÇÕES .................... 38

6.1. Conclusão ................................................................................................................... 38

6.2. Recomendações .......................................................................................................... 39

6.2.1. O apelo ao Estado e aos empresários da indústria extrativa em Moçambique inclui:


39

6.2.2. As orientações para as comunidades locais incluem:.......................................... 39

6.2.3. Proposta para investigações futuras .................................................................... 39

iii
7. Referencias Bibliográficas ................................................................................................. 41

iv
1. CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

A indústria petrolífera, em constante crescimento, busca novas reservas em regiões mais


profundas e complexas. Os fluidos de perfuração desempenham um papel crucial nesse processo,
facilitando a perfuração e estabilizando as paredes do poço. No entanto, eles enfrentam desafios
como temperaturas extremas e a diversificação de camadas sedimentares. Avanços tecnológicos
na formulação de fluidos são essenciais para superar esses desafios, garantindo eficiência,
segurança e sustentabilidade ambiental nas operações de perfuração.

De acordo com Baltar (2003, p.7) citado por Batista, (2022) considera importante a composição
dos fluidos de perfuração e completação de poços de petróleo e gás para o sucesso da perfuração,
tanto técnica quanto economicamente. Os insumos minerais, como aditivos, desempenham um
papel crucial nesse processo, influenciado pelas características individuais de cada poço. O
objetivo do estudo sobre a caracterização geoquímica das argilas do Distrito de Namuno é fornecer
informações úteis para tomadas de decisão na indústria petrolífera, eliminando a necessidade de
futuras pesquisas mais detalhadas sobre o assunto.

1.1.Contextualização

A diversidade geológica de Moçambique, principalmente o norte do país, especialmente a


Província de Cabo Delgado, tem sido alvo de novas descobertas de hidrocarbonetos, aumentando
a demanda por insumos minerais industriais. O objetivo do trabalho proposto é caracterizar as
argilas do Distrito de Namuno para sua aplicação em fluidos de perfuração e completação de poços
de petróleo e gás, visando resolver a falta de informações técnicas no setor de petróleo e gás em
Moçambique. (Batista, 2022)

A pesquisa em caracterização de insumos minerais, como argilas, pode influenciar políticas e


práticas na indústria petrolífera, valorizando recursos nacionais e beneficiando comunidades
locais. Essa pesquisa também pode impactar decisões em futuros projetos de perfuração de poços
de petróleo e gás, contribuindo para o desenvolvimento do país. É fundamental garantir que esses
recursos atendam às necessidades atuais, considerando o conjunto global.

1
1.2.Problematização

A importância do conhecimento sobre os recursos minerais locais em Moçambique para promover


o desenvolvimento econômico e social. Nesse caso Propõe-se a formulação de modelos de
intervenção pública que integrem a caracterização de recursos minerais industriais, como as argilas
do Distrito de Namuno, para uso em fluidos de perfuração na indústria petrolífera. O objetivo é
impulsionar o crescimento econômico e conscientizar a população sobre o potencial dos recursos
minerais para reduzir a pobreza e melhorar a qualidade de vida das comunidades locais. As
questões levantadas no estudo visam caracterizar as argilas do Distrito de Namuno, avaliar sua
aplicabilidade em fluidos de perfuração e completar poços de petróleo e gás, e entender a relação
entre suas propriedades geoquímicas e geotécnicas e os parâmetros normativos para aditivos de
fluidos de perfuração. (Batista, 2022)

1.3.Justificativa

O tema do estudo surgiu da necessidade de usar recursos locais em Moçambique para impulsionar
mudanças. Isso é esclarecido pela proposta de lei do conteúdo local e pela Lei de Minas,
incentivando a preferência por bens e serviços locais. A pesquisa visa caracterizar argilas do
Distrito de Namuno para uso em fluidos de perfuração, crucial para o sucesso na indústria
petrolífera. Isso não apenas promove o desenvolvimento social das comunidades locais, mas
também fortalece a integração entre a sociedade e a indústria, impulsionando o desenvolvimento
local e a cidadania. (Batista, 2022).

O objetivo principal deste estudo seria avaliar se as argilas do Distrito de Namuno possuem as
propriedades necessárias para serem usadas como parte dos fluidos de perfuração e completação.
Isso inclui verificar as propriedades química e as propriedades física e mecânicas das argilas em
condições de operação de campo.

1.4.Hipóteses

Hipótese Alternativa (H1): as argilas do Distrito de Namuno são adequadas para esse propósito.

2
Hipótese Nula (H0): as argilas do Distrito de Namuno não são viabilidade para esse fim.

2. CAPíTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


2.1.Geoquímica

A definição da geoquímica sofre variações simultâneas, de acordo com cada abordagem, em


consequência do foco dado por cada pesquisador sem se esquecer da evolução temporal e
tecnológica.

Nos dias atuais (Século XXI), a geoquímica lida essencialmente com os processos e consequências
da distribuição de elementos em minerais e rochas em diferentes ambientes físicos e químicos e,
como tal, ela permeia todos ramos de geologia em vários graus (Misra, 2012) citado por (Batista,
2022).

Um conjunto muito significativo de definições assume a geoquímica como um processo interativo


entre a geologia e química, estudando assim a origem, evolução e distribuição dos elementos
químicos na terra, que estão contidos nos minerais formadores de rochas e nos seus produtos
derivados, bem como nos seres vivos, água e atmosfera. Ou seja, a geoquímica faz o uso da
química para entender vários processos na terra e outros planetas. Isto é, aplica os princípios da
química para resolver os problemas geológicos.

2.2.Argila

De acordo com Gomes (1986) citado por Ferreira (2010, p.27), o termo "argila" tem várias
definições que variam significativamente entre diferentes campos do conhecimento a saber:

Cerâmica: A argila é vista como um material natural que, quando misturado com água, forma
uma pasta plástica, essencial para a fabricação de objetos cerâmicos.

Sedimentologia: Define argila baseando-se no tamanho das partículas, especificamente aquelas


com diâmetro ≤ 2μm, focando em aspectos relacionados à classificação e deposição de sedimentos.

3
Petrologia: Para petrologistas, a argila é considerada uma rocha composta por partículas
minerais muito finas, frequentemente friáveis.

Mineralogia: Na mineralogia, argila é definida como um mineral ou uma mistura de minerais


dominada por argilominerais, que são silicatos hidratados com catiões como alumínio e magnésio.

Pedologia: Na ciência do solo, argila refere-se às partículas menores que 0,1μm, destacando sua
importância na retenção de nutrientes e na fertilidade do solo.

Percepção Popular: No entendimento leigo, argila é simplesmente o barro pegajoso e


escorregadio encontrado na natureza.

O conceito de argila pode variar amplamente, dependendo do contexto disciplinar.

2.1.1. Terminologias e constituintes dos minerais argilosos

A complexidade dos minerais encontrados na fração argilosa do solo, destacando a presença de


uma grande variedade de minerais com diferentes estruturas cristalinas. Esses minerais são
predominantemente silicatos ou óxidos, categorizados como "argilas de silicato" e "argilas de
óxido". Além disso, o termo "mineral de argila" é especificamente utilizado para descrever
aluminossilicatos de tamanho de argila, diferenciando-os dos óxidos de tamanho de argila, como
os minerais limoníticos e bauxíticos.

Há uma confusão terminológica entre "mineral de argila" e "colóide", este último referindo-se a
qualquer complexo de partículas finamente granuladas, independente de seu estado de dispersão.
Coloides são sistemas heterogêneos compostos por duas fases (dispersante e disperso) e possuem
partículas entre 1 nm e 1 μm, implicando que nem todas as argilas se enquadram estritamente como
coloidais, embora algumas possam exibir propriedades coloidais.

Gomes (1986), conforme citado em Fabris (2006), explica que os elementos mais comuns nos
minerais argilosos incluem silício, oxigênio, alumínio, ferro, magnésio, potássio e sódio. Existem
cerca de 50 espécies de minerais argilosos reconhecidos, muitos dos quais são o resultado de
substituição atômica isomórfica, onde íons como Al³⁺ podem substituir Si⁴⁺, e Mg²⁺ pode substituir
4
Fe²⁺ e Al³⁺. As principais condições que permitem essa substituição iônica incluem a semelhança
de raios iônicos, cargas elétricas e números de coordenação.

2.1.2. Classificação de minerais de argila

Os principais grupos de minerais de argila presentes no solo incluem silicatos de camada, silicatos de
cadeia, sesquióxidos e outros minerais inorgânicos.

2.1.2.1.Camada de silicatos

As camadas de silicatos em argilominerais são categorizadas com base na estrutura das folhas de
silicatos que compõem cada camada. Estas são divididas em três tipos principais, determinados
pelo número e arranjo das folhas tetraédricas (onde o silício é cercado por oxigênios) e octaédricas
(tipicamente alumínio entre oxigênios). Os argilominerais são classificados em três tipos com base
na disposição das camadas de silicato:

Argilominerais do tipo 1:1 - Possuem uma folha tetraédrica e uma octaédrica.


Argilominerais do tipo 2:1 - Consistem em duas folhas tetraédricas para cada folha octaédrica.
Argilominerais do tipo 2 1:1 - Uma variação mais complexa que pode envolver combinações
adicionais dessas camadas.

Nos argilominerais do tipo 1:1, como a caulinite e a haloisite, cada camada é formada por uma
folha tetraédrica de silício e uma folha octaédrica de alumínio, ligadas por iões de oxigênio. A
caulinite possui uma composição química estável, sem expansão entre as camadas, o que restringe
a absorção de água apenas à superfície das partículas. Já a haloisite, similar à caulinite na estrutura
básica, possui uma camada de moléculas de água entre as camadas de silicato, permitindo um
espaçamento intercamadas maior.

5
Argilominerais do tipo 2:1, esses tipos de minerais de argila consistem em uma camada
octaédrica imprensada entre duas camadas tetraédricas. Eles são ainda caracterizados em duas
categorias (Kumari & Mohan, op.cit) citado por (Batista, 2022):
i. Minerais de argila expansíveis; e

ii. Minerais de argila não expansíveis.

i. Minerais de argila expansíveis

Os minerais de argila expansíveis incluem principalmente as esmectitas e vermiculitas.

➢ Esmectitas

Existem esmectitas dioctaédricas (com alumínio nas camadas octaédricas) e trioctaédricas (com
magnésio na folha octaédrica). Cristais de esmectita, como a montmorilonita, consistem em
camadas de sílica e alumínio em uma estrutura expansível, permitindo a entrada de água e íons
trocáveis entre as camadas.

Sua fórmula estrutural geral é (Na,Ca)0,33(Al,Mg)2Si4O10(OH)2∗n(H2O), onde "n" representa a


água interlamelar. As esmectitas, como a montmorilonita, consistem em camadas de sílica e
alumínio unidas por íons, permitindo a entrada de água e íons trocáveis, resultando em expansão
interlamelar.

Outro membro importante da família Esmectite é a Bentonite.

➢ Bentonita

A bentonita é composta principalmente por minerais do grupo das esmectitas, principalmente


montmorilonita, em concentrações que variam de 60% a 95%. É uma argila cristalina formada pela
desvitrificação de material ígneo ou vítreo, como tufo vulcânico, e pode conter outros componentes
como caulinita e ilita. A bentonita, composta principalmente por montmorilonita, é formada a
partir de material vulcânico desvitrificado e pode conter outros minerais como caulinita e ilita.

➢ Vermiculita
6
Sua composição química inclui catiões de troca, como Mg, em uma estrutura semelhante à da
esmectita. Quando aquecida a altas temperaturas, a água entre as camadas é convertida em vapor,
causando expansão e esfoliação da estrutura. vermiculita possui uma estrutura semelhante à
esmectita, com a capacidade de expandir-se quando aquecida, causando esfoliação.

Esses minerais têm a capacidade de expandir suas camadas devido à entrada de água e íons, o
que pode variar sua espessura interlamelar de 9,6 Å a 40 Å.

ii. Minerais de argila não expansíveis


➢ Grupo da Ílite

Os minerais de argila não expansíveis incluem o grupo da ilita, que possui camadas estruturais
do tipo 2:1 (compostas por uma camada octaédrica intercalada por duas camadas tetraédricas).
Eles são os mais comuns nas argilas e têm características intermediárias entre caulinita e
montmorilonita. A ilita se diferencia da montmorilonita por ter baixa capacidade de troca catiônica
e ausência de expansibilidade intercristalina. Sua fórmula química geral é (K, H3O)(Al, Mg,
Fe)2(Si, Al)4O10(OH)2·H2O.

Argilominerais do tipo 2: 1: 1 os argilominerais do tipo 2:1:1, como a clorita, consistem em


camadas de silicato de 2:1 alternando com uma camada tri-octaédrica dominada por magnésio.
Enquanto são comuns em rochas metamórficas, ígneas e sedimentares, e nos solos resultantes
delas, esses minerais não absorvem água entre suas camadas, o que os torna não expansíveis.

2.1.2.2.Sesquióxidos

As argilas sesquióxidas são formadas quando chuvas intensas lixiviam a sílica e a alumina das
argilas de sílica, deixando para trás óxido de ferro (Fe2O3), hidróxido de ferro (Fe(OH)3) e
hidróxido de alumínio (Al(OH)3). Esses sesquióxidos desempenham um papel importante na
formação do solo e, em especial, os óxidos de ferro e manganês contribuem para as características
de cor do solo. Além disso, os sesquióxidos não sofrem expansão na presença de água.

7
2.1.3. Mecanismo de troca catiônica e hidratação de argilas

Quando átomos de silício na folha tetraédrica de silicato são substituídos por catiões trivalentes
de alumínio ou ferro, e na folha octaédrica de alumina, o alumínio é substituído por catiões
bivalentes de ferro ou magnésio, cria-se uma carga negativa na superfície da bentonita. Essa carga
é neutralizada pela adsorção de catiões nos espaços entre as camadas das folhas, como cálcio,
magnésio ou sódio. Quando a argila é hidratada, moléculas de água são adsorvidas na superfície
das camadas tetraédricas de sílica, separando-as umas das outras.

A expansão das argilas, como as montmoriloníticas, varia conforme o tipo de catião adsorvido e a
quantidade de água disponível. A presença de sódio pode causar uma expansão de até 40 Å em
solução aquosa, enquanto o cálcio permite uma expansão de até 18 Å na presença de água.
(Amorim, 2003 & Alvez, 2015) citado por (Batista, 2022).

Segundo Lumus e Azar (1986, citados em Suehara, 2013), A argila sódica tende a expandir mais
do que a cálcica devido à menor força de atração do íon sódio, permitindo a penetração de mais
água entre as folhas. No entanto, se a expansão ultrapassar 40 Å, não haverá mais força de atração
entre as camadas e elas se dispersarão na água.

2.1.4. Métodos de caracterização geoquímica e geotécnica de argilas

Nesta secção será apresentada a revisão bibliográfica atinente aos métodos mais utilizados para
caracterização geoquímica e geotécnica de argilas, abordando principalmente os objetivos, os
procedimentos, e as normas de cada um deles.

2.1.4.1.Análise química por Fluorescência de Raios-X (FRX)

A análise por Fluorescência de Raios-X, conforme descrito por Filho (1999) e Skoog (2002)
citados por (Batista, 2022), é um método que utiliza a medida das intensidades dos raios X
característicos emitidos pelos elementos presentes na amostra para identificação e quantificação
relativa desses elementos. Esse fenômeno baseia-se na produção e deteção de raios X, que são
radiações eletromagnéticas de alta frequência. Quando um átomo é irradiado por uma fonte de

8
raios X, os elétrons das camadas internas podem ser excitados, levando à emissão de radiação
característica para cada elemento presente na amostra, conhecida como efeito fotoelétrico.

No processo de produção de fotoelétrons, as transições entre as camadas eletrônicas geram


emissões de raios X característicos com nomes específicos. Quando os átomos são irradiados por
raios-X, ocorrem transições entre camadas eletrônicas, produzindo emissões de raios X
característicos, como Kα, Kβ, Lα e Lβ. Essas emissões são distintas para cada elemento e são
designadas por letras gregas para indicar sua intensidade.

Assim, de modo resumido, a análise por fluorescência de raios X consiste em três fases:
i. Excitação dos elementos que constituem a amostra;

ii. Dispersão dos raios X característicos emitidos pela amostra e;

iii. Deteção desses raios X.

Os resultados são apresentados em dados de percentagem relativa, fornecendo teores dos


elementos de traços até a totalidade e estes servindo para caracterizar quimicamente as argilas,
assim como servindo para inferir cada tipo de argila presente.

2.1.4.2.Análise granulométrica do solo

A análise granulométrica mede o tamanho das partículas de um solo, classificando-as por


percentagem do peso total seco. Utiliza-se o ensaio de peneiramento para partículas maiores que
0,075 mm e o ensaio de sedimentação para partículas menores que 0,075 mm. A granulação fina
do solo amplifica as forças elétricas sobre suas propriedades, como estrutura e plasticidade.

2.1.4.3.Consistência do solo (Limites de Atterberg)

Segundo Pinto (2006), Das (2007) e Caputo (1988) citados por (Batista,2022), a análise
granulométrica por si só não basta para descrever completamente o comportamento dos solos,
especialmente aqueles ricos em partículas finas. Por isso, passou-se a utilizar índices e ensaios de
Atterberg, que foram aprimorados por Arthur Casagrande, para melhor estudar a influência das
partículas argilosas no solo.
9
2.1.4.4.Limite de Liquidez (LL), Limite de Plasticidade (LP) e Limite de Contração (LC)

Almeida (2005) e Meleu (2017) citados por (Batista,2022) destacam que os limites de Atterberg
são essenciais para entender o comportamento das partículas argilosas em diferentes condições de
umidade. O Limite de Liquidez (LL) indica a umidade acima da qual a argila se comporta como
um líquido, enquanto o Limite de Plasticidade (LP) marca a umidade mínima na qual a argila ainda
se comporta de forma plástica.

Nos ensaios, conforme as normas da AASHTO em Moçambique, utilizam-se amostras secas e


desagregadas, peneiradas com abertura de 0,425 mm. O LL é determinado quando são necessários
25 golpes no aparelho de Casagrande para que as bordas de um sulco na massa de solo colapsem,
e o LP é determinado quando um cilindro de solo com 3 mm de diâmetro e 10 mm de comprimento
começa a apresentar fissuras ou se desfazer.

A diferença entre o LL e o LP é conhecida como Índice de Plasticidade (IP), que ajuda a calcular
o índice de atividade das argilas, indicando a faixa de umidade onde o solo mantém características
plásticas.

IP = LL – LP

O Índice de Plasticidade (IP) é afetado pela presença de matéria orgânica nos solos finos, embora
haja divergências entre especialistas sobre como essa influência se manifesta. Segundo Fiori e
Carmignani (2001) citados por (Batista,2022), a matéria orgânica pode aumentar o Limite de
Plasticidade dos solos sem necessariamente elevar o Limite de Liquidez. Este índice, calculado
pela diferença entre o Limite de Liquidez e o Limite de Plasticidade, permite uma classificação
qualitativa dos solos, oferecendo uma perspetiva sobre as propriedades físicas do solo relacionadas
à sua capacidade de reter água e moldar-se.

10
Tabela 1-Classificao dos solos quanto ao índice de plasticidade. Fonte: Burmister (1949, citado em Das 2007 p, 57 ) ].
citado por( Batista, 2022)

A medida que a humidade é gradualmente perdida, o solo se contrai. Com a continuação da perda da
humidade, um estágio de equilíbrio é atingido no qual mais perda de humidade não resultará em perda
de volume. O teor de humidade cujo volume da massa para de mudar é definido como Limite de
Contração (LC).

Atividade de argilas

O índice de atividade das argilas é definido segundo a Equação:

Onde:
A = índice de atividade
IP = índice de plasticidade
% menor que 0,002mm = fração argilosa.

De acordo com a Tabela 6 a seguir, é possível classificar as argilas, quanto à sua atividade, em
três grupos: pouco ativas, normais, e muito ativas.

11
Tabela 2- Classificação dos minerais de argila quanto à sua atividade. Fonte: Fernandes, 2006 p.14; Caputo, 1988, p.23].
citado por Batista, (2022).

2.2.Fluido de perfuração e completação de poços de petróleo e gás

Fluido de perfuração, conforme descrito por diversas fontes, é um componente essencial nas
operações de perfuração de poços de petróleo e gás, tanto terrestres quanto marítimos. Segundo a
API (1991) citado por (Batita, 2022), trata-se de um fluido circulante que facilita o processo de
perfuração. Fam e Dusseault (1998), citados por Maxwell, e Thomas (2001) destacam que os
fluidos são misturas complexas que incorporam sólidos, líquidos e gases, além de produtos
químicos, para desempenhar múltiplas funções. Estas incluem suporte às paredes do poço,
limpeza, controle de pressão, prevenção de danos à formação e mitigação da invasão do filtrado.
Amorim (2003) e Assis (2011) citados por (Batita, 2022), concordam que esses fluidos,
frequentemente baseados em água ou óleo, são cruciais para melhorar o desempenho e a eficiência
do processo de perfuração.

Assim, pode-se definir o fluido de perfuração como toda substância que escoa ou que se
movimenta (seja líquida, seja gasosa), a qual é utlizada no processo de perfuração de poços de
petróleo e gás, com o objetivo de melhorar o seu desempenho.

Lake (2006) citado por (Batita, 2022) diz que o sistema de fluido de perfuração, frequentemente
referido como "sistema de lama", é um componente crucial em operações de perfuração por ser o
único que mantém contato contínuo com o poço durante todo o processo.

Segundo Thomas (2001) citado por (Batita, 2022) as características desejáveis para um fluido de
perfuração eficaz, incluindo estabilidade química para estabilizar as paredes do poço, capacidade
de facilitar a separação de cascalhos na superfície, manter sólidos em suspensão em estado de
12
repouso, e ser inerte para evitar danos às rochas produtoras. Outras características importantes
incluem a capacidade de receber tratamentos físicos e químicos, ser bombeável, apresentar baixa
corrosão e abrasão aos equipamentos, auxiliar na interpretação geológica dos materiais extraídos,
e ser economicamente viável para as operações.

2.2.1. Minerais industriais usados como aditivos nos fluidos de perfuração

Na elaboração de fluidos de perfuração, a escolha de minerais como aditivos é essencial para


adaptar as propriedades do fluido às exigências específicas de cada tipo de poço, conforme
argumenta Amorim (2003). Essa seleção é influenciada pelas condições geológicas do local de
perfuração, que determinam a composição mais adequada do fluido. Fluidos baseados em água
com baixa concentração de argila, por exemplo, são adequados para operações de perfuração
menos complexas e superficiais. No entanto, poços que exigem perfurações mais profundas e
complexas demandam fluidos mais sofisticados e com uma variedade maior de aditivos para
suportar os desafios do processo. Estes aditivos minerais podem ser utilizados tanto em sua forma
natural quanto beneficiados, como em nanopartículas, para melhorar a eficiência e desempenho do
fluido de perfuração.

A Tabela a seguir apresenta os aditivos mais usados para cada função.

Categoria Funcional Função Produtos Químicos Típicos

Materiais de ponderação Aumentar a densidade (peso) Barite, Hematite, Calcite,


da lama, equilibrando a Dolomite, Ilmenite, Galena,
pressão da formação, evitando Magnetite, Siderite.
uma explosão.
Viscosificantes Aumentar a viscosidade da Argila Bentonite ou
lama para suspender os Atapulgite, Goma xantana,
cascalhos e o agente de Carboximetilcelulose e outros
ponderação na lama. polímeros.

13
Diluentes, dispersantes e Desflocular argilas para Taninos, polifosfatos de
agentes de estabilidade de optimizar a Viscosidade sódio, Lignite,
temperatura (Reduzir a viscosidade) e Ligrossulfonatos.
força de gel da lama.

Floculantes Aumente a viscosidade e a Sais inorgânicos, cal


resistência do gel de argilas ou hidratada, gesso, carbonato e
clarifique ou remova a água de bicarbonato de sódio, tetra
lamas com baixo teor de fosfato de sódio, polímeros à
sólidos. base de acrilamida

Redutores de filtrado Diminuir a perda de fluido Argila Bentonite, Lenhite


para a formação através da /Lignite ,
torta de filtro na parede do Nacarboximetilcelulose,
poço. poliacrilato, amido pré-
gelatinizado.

Alcalinidade, aditivos de Optimizar o pH e a Cal (CaO), soda cáustica


controle de Ph alcalinidade da lama, (NaOH), carbonato de sódio
controlando as propriedades (Na2CO3), bicarbonato de
da lama. sódio (NaHCO3), e outros
ácidos e bases.

Materiais de circulação Tampar os vazamentos na Cascas de nozes, materiais


perdidos parede do poço, evitando a fibrosos naturais, sólidos
perda de toda a lama de inorgânicos, Micas e outros
perfuração para a formação. sólidos insolúveis inertes.

14
Lubrificantes Reduzir o torque e arraste na Óleos, líquidos sintéticos,
coluna de perfuração. grafite, tensoativos, glicóis,
glicerina.

Materiais de controle de Controlar a hidratação de Sais solúveis de cálcio e


xisto folhelhos que causa inchaço e potássio, outros sais
dispersão de folhelho, inorgânicos e orgânicos, como
colapsando a parede do poço. glicóis.
Inibidores de corrosão Prevenir a corrosão da coluna Aminas, fosfatos, misturas
de perfuração por ácidos de especiai
formação e gases ácidos.

Emulsionantes e tensoativos Facilitar a formação de Detergentes aniônicos,


dispersão estável de líquidos catiônicos ou não iônicos,
insolúveis na fase aquosa da sabões, ácidos orgânicos e
lama. detergentes à base de água.
Bactericidas Prevenir a biodegradação de Glutaraldeído e outros
aditivos orgânicos. aldeídos.

Antiespumantes Reduzir a formação de Álcoois, silicones, estearato


espuma de lama. de alumínio, fosfatos de
alquila
Agentes de liberação de Impedir que o tubo grude na Detergentes, sabões, óleos,
tubos parede do poço ou tubo preso surfactante
livre.

Tabela 3- Categorias funcionais de materiais usados no em fluidos de perfuração, suas funções e exemplos de produtos químicos
típicos em cada categoria. Fonte: Adaptado a partir da tabela de Wiley Critical Content (2007, p. 279) e Neff
(2005, p.7) citado por (Batista, 2022).

15
3. CAPÍTULO III: CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
3.1.Enquadramento Geografico

Namuno é um distrito da província de Cabo Delgado, em Moçambique, com sede na vila de


Namuno e uma superfície de 5.982 km2. Tem limites, a Norte com o Distrito de Montepuez, a
Oeste com o Distrito de Balama, a Sul com os Distritos de Lalaua, Mecubúri e Eráti, da Província
de Nampula; e a Leste com o Distrito de Chiúre (Ministério da Administração Estatal, 2005) citado
por (Batista, 2022)

Figura 1- Mapa de Localização Geográfica do distrito de Namuno. [Fonte:Batista, 2021].

3.2. Pedologia

De acordo com as informações do Ministério da Administração Estatal (2005) citado por (Batista,
2022), o Distrito de Namuno é dominada pela alternância de solos que variam de cor e texturas,
desde solos com núcleos pardo-acastanhado a castanho-amarelados com textura argilosa, solos
aluvionares (Fluvisols) escuros de textura média, arenosos sobre argilas e estratificados de cor
escura. Os topos e encostas superiores dos interflúvios são dominados por complexos de solos
vermelhos e alaranjados (RhodicFerralsols, ChromicLuvisols), e amarelos (HaplicLixisols e
HaplicFerralsols)

16
3.3.Enquadramento Geológico
3.3.1. Geologia regional

A Norconsult (2007) fez um mapeamento geológico na região Norte de Moçambique, tendo dado
uma enorme revisão da geologia proposta por Pinna et al. (1993) citado por (Batista, 2022).
E por sua vez, Boyd et al. (2010) dividiram o Norte de Moçambique em unidades tectono-
estratigráficas a baixo:
✓ Complexo Paleoproterozóico de Ponta Messuli, no extremo Noroeste de Moçambique,
na margem do Lago Niassa, que é considerado como parte do sistema Ubendian - Usagaran
da Orógenia Este Africana, que é mais representado no território tanzaniano;

✓ Complexos Mesoproterozóicos de Unango, Marrupa, Nairoto e Meluco, que representam


a crosta calco-alcalina juvenil que evoluiu entre 1,06 e 0,95 Ga. Esta crosta possivelmente
tenha se formado em arco continental e assentada na margem Sudeste do Cratão Congo-
Tanzânia durante a Orogenia Irumide; e

✓ Complexos Neoproterozóicos de Xixano, Muaquia, M´Sawize, Lalamo e Montepuez, que


são juvenis e cobrem a crosta Mesoproterozóica.

3.3.2. Geologia local

Segundo a divisão tectono-estratigráfica de Boyd et al (op.cit.) citado por (Batista, 2022), a área
de estudo enquadra-se no complexo de Xixano, que é um dos vários complexos supercrustais
Neoproterozóicos, incluindo os complexos Muaquia, M'Sawize, Lalamo e Montepuez,
sobrepondo-se ao soco cristalino Mesoproterozóico com contactos tectónicos interpretados como
nappes.

De acordo com a Norconsult Consortium (op.cit), a maior parte deste complexo é constituída por
rochas metasupracrustais, envolvendo predominantemente rochas máficas ígneas e granulíticas,
que formam o núcleo de um sinforme regional com orientação Norte-nordeste – Sul-sudoeste.

17
Os paragnaisses incluem vários tipos de mica-gnaisses e xistos, gnaisse feldspático, metagrés,
quartzito e mármore. Ocorrem ainda ortognaisses félsicos juntamente com os paragnaisses,
principalmente ao norte e leste do complexo em alusão.

4. CAPITULO IV: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

Aqui, são descritos os materiais e métodos utilizados ao longo da estruturação deste trabalho, desde
a pesquisa bibliográfica, investigação de campo, ensaios laboratóriais, materiais e softwares
usados.

4.1.Caracterização da pesquisa/Tipo de pesquisa

a) Quanto à abordagem

Trata-se de um estudo qualitativo e quantitativo.


Os aspectos qualitativos de um estudo estão focados em explorar e entender a natureza profunda
de fenômenos, geralmente através de dados não numéricos. Este tipo de análise procura
compreender como e por que determinadas condições ou realidades existem. (Menezes, 2001,
p.22) citado por (Batista, 2022)

Já a abordagem quantitativa busca transformar informações e opiniões em dados numéricos para


que possam ser classificadas e analisadas, ou seja, os aspectos quantitativos de um estudo focam
na quantificação dos dados, possibilitando uma análise estatística. (Menezes, 2001, p.22) citado
por (Batista, 2022)

Assim, o trabalho limita-se a quantificar e qualificar os elementos maiores, menores e traços presentes
nas argilas do Distrito de Namuno, levando em consideração a sua aplicabilidade como aditivos de
fluidos de perfuração.

b) Quanto aos objectivos

A pesquisa é descritiva e exploratória.

18
Descritiva, porque visa descrever as características de determinada população e/ou fenômeno ou
o estabelecimento de relações entre variáveis (Menezes, 2001, p.22) citado por (Batista, 2022).
Pelo que, neste trabalho descreveu-se as características geoquímicas e geotécnicas das argilas do
Distrito de Namuno.
É exploratória é utilizada quando o tema ainda não foi muito explorado ou é pouco compreendido
e, portanto, necessita de um primeiro reconhecimento mais amplo. Ela é particularmente útil para
ganhar novas ideias sobre o assunto que podem, por sua vez, auxiliar na formulação de novas
perguntas de pesquisa ou hipóteses para estudos futuros.
Exploratória visto que se propõe a fornecer uma visão geral do tema pesquisado, podendo facilitar
a formulação de novos problemas e hipóteses em pesquisas futuras.

a) Quanto à natureza

Segundo Gil (2010, p. 27) citado por (Batista, 2022), a pesquisa aplicada “é voltada à aquisição de
conhecimentos com vista à aplicação numa situação específica”.

A pesquisa sobre as argilas do Distrito de Namuno é classificada como pesquisa aplicada. Porque
o estudo foi concebido com o objetivo de resolver problemas práticos e atender a necessidades
concretas nas áreas de mineração e petróleo, especialmente no que se refere à perfuração e
completação de poços.

Na visão de Vergara (1998, p. 45) citado por (Batista, 2022), a pesquisa aplicada é
fundamentalmente motivada pela necessidade de resolver problemas concretos, mais imediatos,
ou não. Tem, portanto, finalidade prática, ao contrário da pesquisa pura, motivada basicamente
pela curiosidade intelectual do pesquisador e situada sobretudo no nível da especulação.

4.2. Quanto aos procedimentos técnicos ou à técnica de coleta de dados

19
As técnicas de coleta de dados são um conjunto de regras ou processos utilizados por uma ciência;
ou seja, corresponde à parte prática da coleta de dados (Lakatos & Marconi, 2001) citado por
(Batista, 2022). Durante a coleta de dados, diferentes técnicas foram empregadas, sendo elas a
pesquisa bibliográfica e o estudo de caso.
Gil (2010, p.29) citado por (Batista, 2022) conceitua a pesquisa bibliográfica como sendo aquela
que é elaborada com base em material já publicado. Nessa vertente, ela consistiu principalmente
em leitura de jornais, materiais cartográficos, livros, monografias, dissertações, teses e artigos
científicos sobre a caracterização geoquímica e geotécnica das argilas, para aplicar como aditivos
em fluidos de perfuração. E através desse procedimento teve-se o embasamento teórico deste
trabalho.

4.3.Local e Sujeitos do Estudo

Relativamente ao local, a pesquisa foi realizada no Distrito de Namuno, Província de Cabo


Delgado.
No que tange a população ou universo, o estudo envolve as argilas de Namuno, passíveis de
exploração pela indústria extrativa.
Quanto à amostra, a quantidade de cada amostra primária foi de 3 kg, retirados em três pontos
diferentes, totalizando assim 9 kg (Batista, 2022).

20
4.4.Etapas de realização do trabalho

Figura 2- Fluxograma metodológico com indicação das principais etapas para elaboração do projeto. [
(Batista, 2022)]

Além da pesquisa bibliográfica que ia ocorrendo paralelamente a outras atividades, o trabalho


dividiu-se em três momentos diferentes, cada um com objetivos específicos:
(i) A preparação do trabalho de campo;

(ii) O trabalho de campo propriamente dito; e

(iii) Os procedimentos analíticos das amostras de argila colhidas durante o trabalho de


campo, juntamente com a elaboração do relatório final.

21
4.4.1. Preparação do trabalho de campo

Para efeitos de preparação do trabalho de campo, foram reservadas cinco (5) semanas (1 de agosto
à 5 de setembro de 2021). Esta fase consistiu na montagem de banco de dados com o objetivo de
agregar o maior número de informações possíveis sobre a área de estudo, o que incluiu a preparação
do mapa de localização do Distrito de Namuno e as respetivas rotas de trânsito (Batista, 2022).

4.4.2. Trabalho de campo

De acordo com (Batista, 2022) trabalho de campo foi realizado no mês de setembro de 2021 e teve
a duração de 2 dias. Primeiramente, ele consistiu no reconhecimento das diferentes áreas de
ocorrência de argilas com várias colorações, desde as vermelhas, amarelas, entre outras, seguido
da definição dos pontos de amostragem. Depois disso, efetuou-se o trabalho de campo
propriamente dito, com vista a coleta de três (3) amostras de argilas nas localidades de Muatage,
Psulupo e Sanjane, conforme ilustrado na figura 28 acima.

4.4.3. Critérios de amostragem e coordenadas

As argilas de estudo correspondem a um material sedimentar residual, coletadas deformadas e


receberam os nomes de acordo com sua aparência (amarela à vermelha). Além do nome
relacionado à cor das argilas, as mesmas receberam a numeração e codificação dos nomes 01, 02
e 04, sendo argila ARA01, ARP02 e ARV04 respetivamente.
As coordenadas e as respetivas designações das amostras coletadas em cada ponto são
apresentadas na figura 22 a seguir:

22
Figura 3- Designações das amostras coletadas e coordenadas. [Fonte: (Batista, 2022).]

As amostras foram encaminhadas para os Laboratórios da ANE e da UEM, onde se efetuou a


análise dos dados quantitativos e qualitativos físico-químicos das referidas amostras, conforme
descrito nas secções a seguir.

4.4.4. Procedimentos Analíticos


4.4.4.1.Ensaios de caracterização geoquímica
4.4.4.1.1. Análises por fluorescência de raios-X

Após serem preparadas as amostras de argilas naturais, foram submetidas à análise química de
qualificação e quantificação dos elementos maiores, menores e traços pela técnica de
fluorescência de raios- X desenvolvidas no Departamento de Química da UEM.
A referida análise serviu para a determinação dos seguintes óxidos: SiO2 (%), Al2O3 (%), Fe2O3
(%), CaO (%), TiO (%), K2O (%) e outros óxidos (%) (Batista, 2022).

23
4.4.4.1.2. Preparação das amostras

Das três (3) amostras de 3kg representativas a cada ponto, 1,5 kg de cada foi separado para os
ensaios de caracterização química, onde a preparação da mesma se deu no Laboratório da
Universidade Eduardo Mondlane (UEM), no Departamento de Química, e a restante foi enviada
para o Laboratório da Administração Nacional de Estradas (ANE), onde fez-se a caracterização
geotécnica e preparação da mesma (Batista, 2022).

4.4.4.2.Ensaios de Caracterização Geotécnica

Conforme (Batista, 2022) para as análises de caracterização física das amostras, fez-se a análise
das respetivas amostras, no Laboratório da Administração Nacional de Estradas (ANE), com base
nos seguintes ensaios:
➢ Granulometria; e
➢ Limites de consistência.

4.4.4.2.1. Ensaio de determinação granulométrica

Foram feitas análises granulométricas das amostras naturais de argila, utilizando a metodologia
proposta pelo sistema AASHTO (Vide os procedimentos no Apêndice 3), para quantificar e
qualificar três (3) frações granulométricas de acordo com seus diâmetros esféricos médios (Φ)
(Batista, 2022).:

➢ Argila: Φ< 0,075 mm;


➢ Areia Fina: 0,075mm < Φ< 0,425 mm;
➢ Areia Grossa: 0,425 mm < Φ <2 mm; e
➢ Cascalho: Φ > 2mm.

4.4.4.2.2. Ensaio de determinação dos limites de consistência (Atterberg)

(Batista, 2022) para a determinação dos limites de consistência, também recorreu-se a metodologia
proposta pelo Sistema AASHTO, que é a usada no Laboratório da ANE em Cabo Delgado.

24
Deste ensaio foi possível determinar: O limite de liquidez, limite de plasticidade e o índice de
plasticidade das argilas.

4.5.Materiais e softwares usados

Nesta secção apresenta-se os materiais e softwares utilizados para a execução do Trabalho. A


relação de materiais inclui os equipamentos para coleta de dado, os aparelhos usados para
caracterização das argilas, assim como softwares usados (Batista, 2022).

4.5.1. Equipamento para a caracterização química-UEM

➢ Espectrômetro de Fluorescência de Raios- X.

4.5.2. Materiais para a caracterização física


4.5.2.1.Ensaios de determinação da granulometria e limites de Atterberg- ANE

➢ Peneiras;
➢ Cápsula de porcelana;
➢ Espátula;
➢ Aparelho de Casagrande;
➢ Balanças que permitem pesar nominalmente 300g e 6200g;
➢ Estufa;
➢ Borrifador 1000ml;
➢ Forma de alumínio; e
➢ Cinzel.

4.5.3. Materiais para amostragem

➢ DGPS Solution (Differential GPS Solution);


➢ Fita métrica;
➢ Régua;
➢ Máquina fotográfica;
➢ Sacolas de tecido para colecta de amostras;
25
➢ Marcador permanente;
➢ Lápis; e
➢ Caderneta de anotações.

4.5.4. Softwares

➢ Quantum Gis;
➢ Arcmap;
➢ Google Earth; e
➢ Microsoft Excel.

5. CAPÍTULO V: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


5.1.Análise Geoquímica

A análise geoquímica das argilas, com base no método de Fluorescência de Raios-x (FRX),
permitiu identificar a composição química das três (3) amostras de argila e as respetivas
percentagens relativas a cada elemento químico que compõe o mineral. Esses resultados são
apresentados e organizados na Tabela.
Os óxidos de SiO2 e Al2O3 são componentes predominantes em todas as amostras de argila,
constituindo mais de 80% das amostras, seguido pelo Fe2O3, cujos teores são maiores nas
amostras que apresentam sua coloração mais avermelhada e amarelada, como nas amostras ARV
04 e ARA 01, respetivamente. Também, foi encontrado Potássio e Titânio em boas proporções.
Outros elementos encontrados, como ZrO2, V2O5, MnO, SrO, CuO, Rb2O, NiO, Cr2O3, IrO, ZnO,
Y2O3, PbO2 e ThO2 apresentaram percentagens abaixo de meio porcento, o que significa que não
causam alterações significativas nas propriedades das argilas requeridas em fluidos de perfuração,
razão pela qual não constam na descrição detalhada da sua aplicabilidade como aditivo de fluidos de
perfuração. (Batista, 2022).

26
5.2.Óxido de Silício (SiO2)

De acordo (Batista, 2022) o resultados obtidos podemos dizer que a presença de sílica/óxido de
silício (SiO2) em amostras de argilas, observando uma variação de 55,2% a 73,12% nas amostras
estudadas. De acordo com, Klein, Dutrow (2012) e Agista et al., (2018) citado por (Batista, 2022) a
sílica, encontrada nas formas de silicatos, quartzo, opala, ágata, calcedônia e ácidos silícicos
amorfos, reduz a plasticidade das argilas e é resistente ao intemperismo devido à sua inércia
química e alta dureza. Embora a sílica possua boa estabilidade térmica, sua presença em fluidos
de perfuração é problemática porque é um material abrasivo que pode causar desgaste significativo
aos equipamentos de perfuração.
A amostra ARP02, com 73,12% de SiO2, apresenta uma concentração que excede o limite usual
em argilas usadas em fluidos de perfuração, tornando-a inadequada para uso direto como aditivo
sem tratamentos de redução de sílica. Em contraste, as amostras ARA01 e ARV04, com
aproximadamente 55,3% de SiO2, estão dentro do intervalo aceitável e podem ser consideradas
apropriadas para uso em fluidos de perfuração. Portanto, enquanto algumas amostras atendem às
especificações para aditivos em fluidos de perfuração, outras exigem tratamento prévio para ajustar
sua composição de sílica.

5.2.1. Óxido de Alumínio (Al2O3)

A concentração de óxido de alumínio (Al2O3) nas argilas, encontrando valores entre 16,368% e
29,813%. A maior parte desse óxido de alumínio provém de argilas cauliníticas, já que a
percentagem máxima encontrada nas amostras é inferior ao teor teórico de Al2O3 na caulinite pura
(39,8%). Amostras com percentuais de 28,14% e 29,81% (ARA01 e ARV04) indicam potencial
uso como aditivos de ponderação em fluidos de perfuração, melhorando a densidade e estabilidade
térmica dos fluidos, especialmente em condições de alta temperatura, devido à alta condutividade
térmica do óxido de alumínio (Batista, 2022).

Em contraste, a amostra ARP02, com 16,36% de Al2O3, tem um teor significativamente menor,
o que a torna menos adequada para essas aplicações específicas. Portanto, as amostras ARA01 e
ARV04 mostram-se promissoras para uso industrial em perfuração de poços, contribuindo para a

27
dissipação do calor e estabilização térmica dos fluidos de perfuração, enquanto a amostra ARP02
não atende aos mesmos critérios de desempenho

5.2.2. Óxido de Ferro (Fe2O3)

A concentração de óxido de ferro (Fe2O3) nas argilas, encontrando teores entre 4,6868% e
12,4860%. As diferentes colorações das amostras (amarelada em ARA01 e avermelhada em
ARV04) sugerem a presença de diferentes fases minerais de ferro, como goethite e hematite. A
hematite, devido à sua densidade elevada e inércia química, é especialmente útil como agente
modificador de densidade em fluidos de perfuração.
Estudos indicam que minerais de ferro como a hematite, com densidade específica entre 4,9 e 5,3,
atendem às especificações API para materiais de ponderação, superando a barite tradicional
(densidade de 4,5). Assim, as amostras ARA01 (12,48% de Fe2O3) e ARV04 (10,14% de Fe2O3)
mostram-se promissoras como alternativas à barite, podendo melhorar e controlar a densidade dos
fluidos de perfuração, essencial para manter a pressão hidrostática adequada e prevenir "kicks"
durante a perfuração.
Entretanto, a amostra ARP02, com apenas 4,68% de Fe2O3, não é considerada adequada para essa
aplicação específica devido ao seu baixo teor de óxido de ferro.

5.2.3. Óxido de Titânio (TiO2)

As amostras de argila apresentaram teores de óxido de titânio (TiO2) entre 1,8885% e 2,0775%.
Os minerais comuns associados a esse óxido incluem rutilo, anastásio e ilmenite, além de caulinite
que pode incorporar TiO2. O óxido de titânio influencia a cor das argilas, tornando-as mais
avermelhadas e menos plásticas quanto maior for sua concentração.
Apesar da amostra ARP02 ter o maior teor de TiO2 (2,0775%), sua cor não é a mais avermelhada,
devido à maior presença de óxido de ferro em outras amostras (ARA01 e ARV04). O TiO2 também
contribui para a redução da plasticidade das argilas, conforme observado na amostra ARP02.
TiO2 pode atuar como um aditivo em fluidos de perfuração, aumentando sua densidade,
semelhante ao papel do óxido de alumínio (Al2O3). As concentrações significativas de TiO2 em
todas as amostras indicam que elas podem ser eficazes como agentes de densificação em fluidos

28
de perfuração. Estudos destacam que minerais como ilmenite, que contém TiO2, são promissores
para essa aplicação, devido à sua capacidade de aumentar a densidade dos fluidos de perfuração.
Portanto, as amostras ARA01, ARP02 e ARV04 são consideradas adequadas para melhorar a
densidade dos fluidos de perfuração se usadas como aditivos.

5.2.4. Óxido de Potássio (K2O) e Oxido de Sódio (Na2O)

As amostras de argilas apresentaram teores de óxido de potássio (K2O) variando entre 0,8664% e
2,2291%. Este potássio provém principalmente de feldspatos, micas e catiões trocáveis. A
presença de potássio, em vez de sódio, indica a resistência dos minerais micáceos ao intemperismo,
ao contrário dos plagioclásios sódicos.

O sódio nas argilas permite expansão e dilatação, características úteis em lamas de perfuração para
criar barreiras auto vedantes. No entanto, o potássio não promove a mesma expansão. Devido ao
seu diâmetro iônico, o potássio se fixa na cavidade da folha tetraédrica das argilas, reduzindo a
distância interplanar e resultando em uma estrutura menos expansiva, similar à das micas.

Amostras com altos teores de K2O, como ARP02 (2,22%), dificultam a passagem de água entre
camadas, diminuindo a plasticidade. Segue-se a amostra ARV04 com 1,97% e ARA01 com 0,86%
de K2O. A presença de potássio estabiliza as argilas, tornando-as adequadas para controlar a
expansão em formações sensíveis à água, sendo útil em fluidos de perfuração e completação de
poços de petróleo e gás.

Portanto, as amostras com altos teores de potássio são ótimas para estabilizar formações ativas,
prevenindo a expansão significativa das argilas na presença de água.

5.2.5. Óxido de Cálcio (CaO)

As amostras de argila do Distrito de Namuno apresentaram teores de óxido de cálcio (CaO) de


0,215% em ARA01 e 0,8808% em ARP02, enquanto a amostra ARV04 não continha CaO. A
ausência de óxido de magnésio (MgO) nas amostras indica que o cálcio não provém de dolomites.

29
Segundo Santos (1989) citado por (Batista, 2022)o cálcio em argilas montmoriloníticas geralmente
aparece como catião trocável, exceto quando presente em minerais como calcita, dolomita ou
gipsita.

O cálcio oferece propriedades de modificação de densidade para fluidos de perfuração e atua como
inibidor químico em formações com sal, argila ou folhelho. Sua presença impede a erosão da
parede do poço ao formar agregações das camadas de argila devido à sua ação floculante. Isso é
devido ao cálcio ser bivalente e ter um raio hidratado menor, resultando em uma força de atração
eletrostática significativamente maior em comparação com cátions monovalentes.

Os baixos teores de CaO nas amostras ARA01 e ARP02 refletem a quase ausência de minerais
carbonatados, sendo possível que o cálcio venha de cátions trocáveis, anortites ou micas como a
margarite. No entanto, a concentração de CaO em ARA01 (0,215%) é muito pequena para causar
mudanças significativas nas propriedades dos fluidos de perfuração. Em contraste, a amostra
ARP02 (0,8808%) pode causar alterações significativas, potencialmente desempenhando o papel
de inibidor químico eficaz.

Portanto, a amostra ARP02, com maior teor de CaO, poderia ser mais útil na modificação e
estabilização de fluidos de perfuração em comparação com a amostra ARA01.

5.3.Análise Granulométrica

A distribuição do tamanho das partículas nas argilas é crucial para determinar sua aplicabilidade,
especialmente na formulação de fluidos de perfuração para poços de petróleo e gás. Partículas mais
finas aumentam a influência das forças elétricas, resultando em maior plasticidade e tixotropia.
Estudos mostram que partículas menores aumentam as propriedades reológicas, como viscosidade
e força gel, essenciais para fluidos de perfuração. Argilas com granulometria muito fina têm
índices de plasticidade elevados, favorecendo seu uso em fluidos que exigem alta viscosidade e
propriedades tixotrópicas.

30
A classificação utilizada no trabalho, baseada nos sistemas Unificado e AASHTO, define frações
finas (argila e silte) com partículas menores que 0,075 mm, areia fina entre 0,075 e 0,425 mm,
areia grossa entre 0,425 e 2 mm, e cascalhos com partículas maiores que 2 mm.

Os resultados da análise granulométrica por peneiração a fino estão sintetizados na tabela abaixo.

Tabela 4-Parâmetros granulométricos das amostras analisadas[Fonte: Batista, 2022].

De acordo com o Sistema Unificado de Classificação (U.S.C.) e o sistema AASHTO, as amostras


ARA01 e ARV04 são classificadas como solos finos (siltosos e/ou argilosos), pois mais de 50% e
35% de suas partículas, respetivamente, passam na peneira #200. A amostra ARP02 não se
enquadra nessa categoria, pois tem menos de 50% e 35% das partículas passando na peneira #200,
sendo classificada como solo de granulometria grossa, especificamente areia fina.

Os gráficos mostram as curvas de distribuição de tamanho de partícula, realizadas através do


peneiramento a fino.

31
Figura 4-Curva de distribuição de tamanho de partícula da fração total da Amostra ARA01 [Fonte: Batista, (2022)].

No gráfico, o ponto correspondente a 0,075 mm mostra que aproximadamente 60% das partículas
passam. Isso significa que há cerca de 60% de finos.
Se o material contém mais de 50% de finos (partículas menores que 0,075 mm), ele é classificado
como um solo fino. Caso contrário, é classificado como um solo granular.
Neste caso, como temos aproximadamente 60% de finos, o solo é considerado um solo fino.

32
Figura 5-Curva de distribuição de tamanho de partícula da fração total da Amostra ARP02. [Fonte: Batista,(2022) ].

Neste gráfico o ponto 0,075 mm, que corresponde ao peneiro 200, mostra que aproximadamente
25% das partículas são menores que 0,075 mm, ou seja, 25% das partículas passam. Isso significa
que há cerca de 25% de finos. Neste caso como temos aproximadamente 25% de finos, o solo é
classificado como um solo granular ou grosso, podemos considerar como um solo não fino, porque
o material não contém mais de 50% de finos

33
Figura 6-Curva de distribuição de tamanho de partícula da fração total da Amostra ARV04. [Fonte: Batista(2022) ].

O mesmo ocorre neste gráfico, Neste gráfico o ponto 0,075 mm, que corresponde ao peneiro 200,
mostra que aproximadamente 54% das partículas são menores que 0,075 mm, ou seja, 54% das
partículas passam. Isso significa que há cerca de 54% de finos. Neste caso como temos
aproximadamente 54% de finos, o solo é classificado como um solo fino, porque o material contém
mais de 50% de finos

Os gráficos granulométricos mostram que as amostras ARA01 e ARV04 possuem granulometria


fina, o que é ideal para uso como aditivos em fluidos de perfuração, devido às suas propriedades
de plasticidade, viscosidade e tixotropia. Por outro lado, a amostra ARP02 apresenta granulometria
mais grosseira, típica de areias finas, tornando-a inadequada para essa aplicação.

Além disso, a ARP02 tem um alto índice de óxido de silício, sugerindo uma grande quantidade
de sílica livre (quartzo), que é indesejável em fluidos de perfuração. A granulometria fina das
amostras ARA01 e ARV04 indica que elas exibem comportamentos plásticos favoráveis,
conforme os limites de consistência que serão discutidos posteriormente.

34
5.4.Limites de consistência (Atterberg)

Os ensaios granulométricos e os limites de consistência foram determinados no laboratório da


ANE e apresentados na Tabela. Esses dados complementam a análise granulométrica, permitindo
inferir os comportamentos esperados das argilas se aplicadas como aditivos em fluidos de
perfuração.

Tabela 5-Resultados dos limites de consistência.[Fonte: Batista, 2022]

Os resultados da Tabela 5 indicam que os limites de liquidez das amostras variaram entre 6,38% e
40,551%, enquanto os limites de plasticidade ficaram entre 20,125% e 27,588%, com índices de
plasticidade variando de 0 a 14,299%.
A amostra ARP02 apresentou um limite de plasticidade maior que o limite de liquidez,
classificando-a como não plástica (NP) segundo Bretreger (2015) e Arora (1987) citadaos por
(Batista, 2022). Esse fenômeno pode ocorrer devido à presença de solos micáceos, matéria
orgânica, materiais grosseiros como areias, e elementos químicos que desfavorecem a plasticidade,
como óxidos de silício, ferro, titânio e potássio.

Todas as amostras naturais foram classificadas como CL (Clay, Low compressibility) pelo Sistema
Unificado de Classificação (U.S.C.), exceto a amostra ARP02, que foi classificada como SF
(Sandy, Fine), indicando areias siltosas finas e não plásticas. ARA01 e ARV04 foram classificadas
como argilas de baixa compressibilidade, com limites de liquidez inferiores a 50%, de acordo com
Almeida (2005) citado por (Batista,2022). Pelo Sistema AASHTO, ARA01 e ARV04 se
enquadram nos subgrupos A-7 e A-6 (materiais argilosos com alta plasticidade), enquanto ARP02
está no subgrupo A-3 (materiais arenosos finos).
35
Segundo Adeley et al. (2013) citado por (Batista,2022) as argilas são reativas em fluidos de
perfuração devido à sua plasticidade quando hidratadas. Assim, ARA01 e ARV04 são mais
adequadas para fluidos de perfuração devido à maior reatividade e viscosidade, ao contrário de
ARP02, que não apresenta plasticidade. Os valores dos limites de contração entre 1,67 e 9 sugerem
a presença de argilominerais montmoriloníticos em ARA01 e ARV04, que são importantes para a
expansão e viscosidade dos fluidos de perfuração.

5.5.Possibilidade de uso de argilas do Distrito de Namuno em fluidos de perfuração de poços


de petróleo e gás
5.5.1. Verificação de hipóteses

Hipótese H1 – "As características geoquímicas das argilas do Distrito de Namuno estão dentro dos
parâmetros normativos, permitindo sua aplicação em fluidos de perfuração e completação de poços
de petróleo e gás" – é confirmada pela análise geoquímica e geotécnica das argilas naturais locais. A
maioria dos valores das massas argilosas estudadas estão dentro dos parâmetros da literatura, com
destaque para as amostras ARA01 e ARV04, que apresentaram melhores composições químicas e
comportamentos geotécnicos. Assim, conclui-se que as argilas do distrito de Namuno têm potencial
para serem exploradas e utilizadas como aditivos minerais em fluidos de perfuração de poços de
petróleo e gás.

Hipótese (H0): "As características geoquímicas das argilas do Distrito de Namuno não estão dentro
dos parâmetros normativos, e por isso, não são adequadas para aplicação em fluidos de perfuração e
completação de poços de petróleo e gás."

Essa hipótese foi anulada com base na confirmação da hipótese alternativa (H1). As análises
geoquímicas e geotécnicas das argilas do Distrito de Namuno indicam que suas características estão
dentro dos parâmetros normativos. Assim, essas argilas são adequadas para serem usadas em fluidos
de perfuração e completação de poços de petróleo e gás, especialmente as amostras ARA01 e ARV04,
que apresentam boas composições químicas e comportamentos geotécnicos favoráveis.

36
5.5.2. Resposta às questões derivadas

No que tange à primeira questão derivada, “Qual é a composição química de argilas do Distrito
de Namuno? ”, apurámos que as argilas do Distrito de Namuno são compostas por:

➢ Elementos Maiores: Óxidos de silício (SiO2), alumínio (Al2O3), ferro (Fe2O3), potássio
(K2O) e cálcio (CaO).
➢ Elementos Menores: Óxido de titânio (TiO2) e óxido de manganês (MnO).
➢ Elementos Traço: Óxido de zircónio (ZrO2), vanádio (V), estrôncio (Sr), cobre (Cu),
irídio (Ir), zinco (Zn), ítrio (Y) e chumbo (Pb).

Quanto à segunda questão derivada,"Qual é a relação existente entre a composição química e


as propriedades geotécnicas das argilas do Distrito de Namuno e os parâmetros normativos
(padrão) de uma argila aplicada como fluido de perfuração?", verificou-se que:

➢ A composição química influencia diretamente o comportamento geotécnico das argilas.


➢ Exemplo, a amostra ARP02, apesar de ter alta percentagem de sílica, potássio, cálcio e
titânio (que poderiam ser vantajosos), apresenta textura arenosa e ausência de plasticidade,
indicando baixo potencial como aditivo para fluidos de perfuração.
➢ Apenas a análise geoquímica não é suficiente; é necessário complementar com ensaios
geotécnicos (granulometria e limites de consistência) para avaliar a qualidade das argilas.

No que diz respeito à terceira questão derivada, "É possível fazer-se o uso das argilas de Namuno
como fluidos de perfuração e completação de poços?", constatou-se que:

➢ Duas das três amostras (ARA01 e ARV04) apresentam composições químicas e


propriedades geotécnicas adequadas para serem utilizadas em fluidos de perfuração e
completação de poços de petróleo e gás.
➢ Essas amostras podem atuar como aditivos modificadores da densidade e selantes.

37
As análises indicam que as argilas do Distrito de Namuno têm potencial para serem exploradas
para a produção de aditivos minerais, especialmente para fluidos de perfuração na indústria de
petróleo e gás.

5.5.3. Resposta à pergunta de partida

As argilas do Distrito de Namuno apresentam características geoquímicas que sugerem a presença


de minerais como argilomineirais íliticos, cauliníticos, micáceos e montimoriloníticos, os quais
são bons selantes e modificadores de densidade.
Além disso, os teores de óxidos de ferro e titânio indicam a presença de minerais que influenciam
na formação de reboco. As características geotécnicas das amostras ARA01 e ARV04, com textura
silto/argilosa e comportamento plástico moderado, corroboram esses resultados, sugerindo a
aplicabilidade dessas argilas em fluidos de perfuração e completação de poços de petróleo e gás
como aditivos não corrosivos e de fácil bombeamento.

6. CAPíTULO VI: CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E LIMITAÇÕES


6.1.Conclusão

A análise das argilas do Distrito de Namuno revelou diferentes composições geoquímicas e


características geotécnicas. Enquanto as amostras ARP02 mostraram quantidades elevadas de
sílica e presença de quartzo, além de uma textura arenosa e plasticidade nula, tornando-as
inadequadas para uso em fluidos de perfuração devido ao risco de corrosão dos equipamentos. Por
outro lado, as amostras ARA01 e ARV04 apresentaram composições dentro dos padrões
normativos, com predominância de minerais como caulinita e minerais de ferro, sugerindo sua
aplicabilidade como aditivos em fluidos de perfuração e completação de poços de petróleo e gás.
Embora a ARP02 tenha potencial com melhorias adicionais, seu alto teor de areia pode tornar sua
exploração financeiramente inviável.

38
6.2.Recomendações
6.2.1. O apelo ao Estado e aos empresários da indústria extrativa em Moçambique inclui:

1. Proteger e explorar as argilas do Distrito de Namuno devido às suas qualidades para uso
em fluidos de perfuração de poços de petróleo e gás.
2. Incentivar o uso de recursos locais para promover o desenvolvimento das comunidades e a
economia nacional.
3. Conceder apoio financeiro para pesquisa adicional, dado que a falta de fundos tem
prejudicado os estudos científicos necessários para orientar as políticas públicas.
4. Fornecer tecnologia adequada para a exploração das argilas de Namuno.
5. Capacitar e empregar a mão-de-obra local na atividade de extração das argilas.
6. Garantir compensação justa e reassentamento adequado das populações afetadas pela
extração das argilas de Namuno.

6.2.2. As orientações para as comunidades locais incluem:

1. Estar preparadas para conviver com novos projetos da indústria extrativa, especialmente a
exploração das argilas de Namuno.
2. Buscar capacitação técnico-profissional para competir no mercado de emprego gerado pela
exploração local do material.
3. Estar prontas para eventualmente deixar as áreas afetadas pelo projeto de extração de
argilas, com base em planos de reassentamento e compensação justa.
4. Proteger os recursos naturais e utilizar de forma racional os benefícios econômicos
provenientes da exploração local, como os 20% destinados às comunidades.
5. Zelar pelas melhorias sociais proporcionadas pelas empresas locais em virtude da
exploração dos recursos naturais ou minerais.

6.2.3. Proposta para investigações futuras

Neste trabalho que investigou a caracterização geoquímica das argilas do Distrito de Namuno para
uso em fluidos de perfuração e completação de poços de petróleo e gás, recomenda-se a realização

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de estudos futuros complementares para aprofundar o conhecimento sobre estas argilas. As
recomendações específicas incluem:

1. Usar a técnica de Difração de Raios-X (DRX) e teste de Azul de Metileno para estudar a
mineralogia e a capacidade de troca catiónica das amostras de argila, permitindo uma
identificação precisa dos minerais presentes e dos catiões trocáveis.
2. Caracterizar as cores das argilas usando o sistema de Münsell ou um aparelho de
colorimetria, para relacionar as variações de cor com as mineralogias detectadas.
3. Avaliar a reologia das argilas como fluidos de perfuração, analisando propriedades como
viscosidade, força gel, densidade dos fluidos e a capacidade de formação de filtro ou torta
de lama, através de simulações práticas do seu comportamento.

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7. Referencias Bibliográficas

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Namuno, para Aplicação em Fluidos de Perfuração e Completação de Poços de Petróleo e Gás.
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