Revista KF Edicao 009 Janeiro 2023
Revista KF Edicao 009 Janeiro 2023
Revista KF Edicao 009 Janeiro 2023
2
Desta forma, acreditamos que seja mais fidedigno relacionar
a edição com o mês em que foi lançada, assim como, os
artigos que recheiam tal edição também serão mais
coerentes.
Então, sugiro que você me siga nas redes sociais para não
perder nenhuma novidade, os links estão abaixo.
Erik Souza KF
Siga-me:
3
Quer divulgar a sua academia,
as suas aulas ou o seu evento?
Nós podemos lhe ajudar!
www.eriksouzakf.com [email protected]
4
Índice
2023, o Ano do Coelho.................................................... 6
5
2023, o Ano do Coelho
No dia 22 de janeiro de 2023 iniciará o ano do coelho de
água de acordo com o calendário e horóscopo chinês.
6
Logo, é esperado que o ano do coelho seja calmo, sereno,
racional e próspero para a maioria das pessoas.
7
calma e racionalidade antes de tomar qualquer decisão e
aproveite as boas vibrações do coelho para prosperar.
O Sanda da China
8
Como são feitos os Uniformes de
Kung Fu Wushu?
Se você pratica Kung Fu Wushu e não faz ideia de como o
seu unforme é feito, então, veja este artigo até o final e
descubra como um pedaço de tecido se transforma em
uniformes de Kung Fu Wushu.
9
Para quem não conhece, Lúcia & Paula Costuras é uma das
maiores fabricantes de uniformes de Kung Fu Wushu do
estado de São Paulo e produz uniformes e roupas para
diversas escolas e academias do Brasil.
10
Todas as etapas são feitas aqui na confecção?
11
indicando outro que seja mais adequado para os treinos
e que seja resistente. O processo de confecção também
é afetado, pois alguns tecidos demandam maior atenção
e cuidado na costura.”
12
Só dizemos “não” logo de cara, se for algum pedido fora
do Kung Fu.”
13
Wing Chun
Conheça esta Arte Marcial
O Wing Chun ganhou muito destaque nos últimos anos com
o sucesso da série de filmes Ip Man – O Grande Mestre,
porém, este estilo de Kung Fu Wushu não foi criado tão
recentemente.
14
atenção do grande astro e mestre Bruce Lee que praticou
Wing Chun diretamente com o mestre Ip.
15
sociedade e preservação das tradições chinesas. Havia
a necessidade de se esconder os nomes reais de
mestres e substituí-los por personagens folclóricos. Isso
acontece porque no passado os mestres corriam risco
real de serem mortos por serem defensores da
derrubada da Dinastia Ching. Outra versão, mais
científica, é a história documental, os fatos
comprovados e ordenados cronologicamente que nos
ajudam a entender como uma arte se desenvolveu de
acordo com as demandas de seu tempo, os
acontecimentos políticos e culturais. A melhor forma de
entender mais profundamente uma arte marcial chinesa
em sua origem é chocar a tradição oral com o que há de
documentação a respeito, tendências e mesmo
modismo de outros estilos praticados na mesma época,
intercâmbios, mudanças tecnológicas, etc. Isso porque
há uma dificuldade de se estudar arte marcial chinesa
pela falta de elementos que comprovem elementos
passados na tradição oral de muitos estilos. As pessoas
tendem a desprezar a tradição oral hoje em dia. Mas se
é verdade que quem conta um conto "aumenta um
ponto", também é verdade que toda mentira tem um
fundo de verdade. Isso, no ocidente é o equivalente a
importância de se ler romances. E, não é um romance
um compilado de mentiras? Mas os grandes romances
nos dão a perspectiva de ver a vida sob o olhar de
histórias contadas por outras pessoas, muitas vezes
baseados em experiências e fatos reais, e com a
experiência artística de poesia e beleza. Arte marcial
chinesa também é assim. Segundo a tradição oral o
Wing Chun teria surgido a partir das observações de
uma monja, chamada Ng Mui (ela mesma, uma dos
Cinco Anciãos remanescentes da destruição do Templo
16
Shaolin), sobre uma luta entre um grou e uma serpente.
Ela saia regularmente do templo da Garça Branca e
descia a montanha para comprar tofu com Yim Yee, que
seria um ex-discípulo do templo e tinha uma filha
adolescente chamada Yim Wing Chun. Em certa
ocasião um bandido chamado Wong teria tentado forçar
o pai de Yim Wing Chun a ceder sua filha para que se
casasse com ele. Acontece que sua filha já havia sido
prometida em casamento a outro jovem, como mandava
a tradição da época. Ng Mui, ao saber da história,
propôs-se a ensinar a jovem a lutar. Na data em que
Wong prometera voltar para desposar a moça à força,
Yim Wing Chun desafiou e derrotou Wong, casando-se
com Leung Bok Tao, tendo este nomeado
posteriormente o estilo de "Wing Chun Kuen" em
homenagem à sua esposa. No que temos de origem
histórica real do Wing Chun, sabemos que "Wing Chun"
(Canção da Privamera) é de fato uma leve corruptela do
nome Weng Chun (Eterna Primavera), o nome da
cidade onde o estilo surgiu, provavelmente dividindo
uma origem em comum com o estilo da Garça Branca.
Repare a repetição das referências. No estilo da Garça
Branca a tradição oral também relata uma monja, só
que de nome Fang, que teria ensinado a uma moça que
observa a luta entre dois animais (garça versus garça,
neste caso) e cria um estilo para vingar a morte do pai.
Esta história chegou ao Japão no século XIX, está
relatada no Bubishi e tem relação com a origem do que
é hoje o Karatê Do. Em 2009, um historiador americano
chamado Stanley Henning encontrou a primeira
referência documental de que realmente existiu uma
mulher, casada com um comerciante local, que tinha
uma escola com vinte e quatro discípulos na cidade de
17
Weng Chun, chamada "Ding Número Sete". Seu nome
estava anotado num anuário geográfico que data ainda
do começo para meados do século XVII, muito antes do
estabelecimento formal da maioria dos estilos modernos
mais famosos do sul da China. Suspeita-se que embora
o Wing Chun tenha semelhanças com a Garça Branca
(inclusive em trechos de formas antigas) em algum
momento posterior o estilo da garça se fundiu com um
estilo de serpente, dando origem ao que chamamos
Wing Chun moderno, com características próprias,
durante o período em que o estilo foi preservado por
uma trupe artistas de Teatro de Ópera Cantonesa que
usava para seu deslocamento nos rios os juncos
(barcos) pintados de vermelho, os Hung Suen.”
18
culturais que se perpetuam no tempo. Muitos dos
praticantes de estilos sulistas, entretanto, tinham em
seu coração o desejo de restaurar a dinastia Ming,
destronando os manchus e reconduzindo a etnia Han de
volta ao poder. Para isso muitos destes estilos tomaram
parte, direta ou indiretamente, em sociedades secretas
com o objetivo de fomentar rebeliões, utilizando para
isso seu conhecimento marcial. É tido que praticantes
de Choy Lee Fut e Wing Chun estabelecidos nos Hung
Suen (Barcos Vermelhos) teriam tomado parte na
rebelião de Tai Ping (1854), o que teria levado o
governo manchu e desmontar e proibir a Companhia de
Ópera de funcionar, tendo muitos de seus integrantes
se radicando em Foshan, que seria o berço dos estilos
modernos de Hung Gar, Wing Chun e Choy Lee Fut. O
Wing Chun tem uma lógica de funcionamento bem
objetiva; seu soco em alguns estilos (Ip Man e
aparentados) acabou se adaptando e especializando
nos contragolpes na curta distância, o que o deixou de
certa forma limitado no ataque e, assim sendo, para
competições de alto rendimento. Assim sendo, olhando
sobre o prisma de nosso tempo e comparando com
outras lutas modernas, o Wing Chun pode sim ser
definido como mais propenso à defesa pessoal, bem
focado nos primeiros e muitas vezes decisivos
movimentos. O Wing Chun se especializou naquilo que
chamamos nos estilos do sul de "Kiu Sao" (Mãos em
Ponte), onde o exercício Chi Sao é o ápice da
sofisticação metodológica. Falando em linguagem de
gente, o Wing Chun é muito bom nos bloqueios, usando
basicamente variações de três movimentos, governados
por três conceitos que dão origem a todo o seu
repertório técnico. Ao contrário de lutas esportivas onde
19
subjugar o outro é importante, no Wing Chun estamos
tão interessados não tanto em bater, mas em não
sermos atingidos. Isso não quer dizer contudo que o
Wing Chun não tenha a sua combatividade, seu
emprego em brigas e desafios no passado é bem
conhecido e relativamente bem documentado. Em
termos meramente conceituais, contudo, se você é um
lutador de Wing Chun e se envolveu numa briga contra
a sua vontade, significa que falhou em sua estratégia.
Não estamos interessados em lutar, mas interessados
em vencer. É um mindset totalmente diferente.”
20
poucos para copiar os gestos mais humanos, aqueles
que fazemos no dia a dia. Assim, quando tomamos uma
técnica como “Bong” (Asa), o nome enquanto
substantivo é o membro do animal, mas, enquanto
verbo, quer dizer "amarrar", "juntar". Para tornar os
movimentos mais naturais e aplicáveis, os mestres
estimulam os alunos
a procurarem
semelhanças entre o
gesto técnico
propriamente dito e
ações biomecânicas
semelhantes. Assim,
uma continência, o
gesto de jogar uma
braçada de nado
"crawl", uma criança
que coça os olhos
com as costas de
sua mãozinha ao
acordar, o Wing
Chun copia estes
gestos naturais para
usar o "Bong" de
acordo com cada
situação. Essa é a
visão de meu mestre
atual, Sifu Gorden Lu. Aproximar o estilo de práticas do
dia a dia torna cada gesto corriqueiro num gesto de
treino. A psicomotricidade do Wing Chun moderno não
separa a vida comum da vida marcial, elas são espelhos
uma da outra. Entender o passado é muito importante
para entender o que se faz hoje; todavia essa ideia de
21
que tudo que é antigo e necessariamente melhor que o
atual é algo muito usado para se ganhar dinheiro em
cima do perfil erudito e intelectual do praticante do Wing
Chun. É preciso entender que muito do que não é mais
feito hoje foi jogado fora pelos mestres do passado, e
isso certamente tem um motivo, não foi à toa. Estilos de
luta se influenciam mutuamente todo o tempo, com
maior ou menor velocidade, naturalmente, de acordo
com as necessidades exigidas pelo ambiente e
preferências de seus mestres. Achar que estilos
melhores são estilos "puros" é um erro, embora bem-
intencionado, porque não acompanha a história real do
desenvolvimento das artes marciais.”
22
adaptar e mesmo misturar os mesmos elementos
defensivos a partir de ângulos e situações diferentes.
Numa luta esportiva é muito importante que tenhamos
poucos movimentos também, mas eles estão
estritamente em função daquele ambiente, regras e
igualdade de meios. A defesa pessoal pode envolver
sim, a luta em ritmo esportivo e o praticante deve estar
preparado, mas as pessoas se enganam ao julgar todas
as artes marciais apenas por esta lente. As situações de
defesa pessoal irrestrita têm um espectro muito maior
de potenciais agressores e gravidade de ferimentos:
pode envolver, por exemplo, desviar de um objeto que
vem em sua direção por acidente, um soco desferido de
surpresa por um oportunista, um golpe de bastão ou
faca totalmente inesperados, uma luta em um ambiente
confinado, evitar ambientes cheio de gente sem nada a
perder, ao invés de imaginar que para ser bom deve-se
lutar com todos e vencer. Infelizmente, temos recebido
notícias de muitos atletas multi campeões que perderam
sua vida em situações de defesa pessoal que poderiam
ter sido evitadas porque eles têm a falsa impressão de
que sua capacitação para ser bem-sucedidos na
competição lhes dá um salvo conduto de
invulnerabilidade, mas quando saímos de um ambiente
controlado entram fatores inimagináveis que somente o
jeito de pensar de um sistema de arte marcial lhe dá
mais amplas condições de adaptação. Assim sendo,
mentalmente falando, o movimento mais característico
do Wing Chun é antecipar uma situação de perigo, e
não remediar um problema. Só assim é possível
"defender e atacar simultaneamente", característica
mais marcante não só do Wing Chun como de outros
estilos do sul.”
23
As facas borboleta (imagem da página 14) são
praticamente um símbolo do Wing Chun, quais outras
armas chinesas há no estilo?
24
Chun adaptou a arma a seu próprio repertório técnico e
conceitos combativos, de forma que atualmente seu uso
se parece demais com o uso das mãos livres, embora
obviamente seja muito mais decisiva e letal. No Wing
Chun, temos além das Baat Jam Dao (Facas de Oito
Cortes, nome que Ip Man deu à sua forma de facas
borboleta) há um bastão "rabo de rato" (por ser longo e
afinado na ponta como um bastão de bilhar) chamado
de Luk Dim Boon Kwan (Bastão de Seis Pontos e Meio),
que dividimos historicamente com o estilo Hung Gar,
embora no Wing Chun essa forma seja muito mais
simplificada, seguindo os preceitos de praticidade do
estilo. Em outros estilos de Wing Chun fora de Ip Man
este bastão é mais curto e tem um maior grau de
especialização, sendo a arma principal. O bastão longo
do Wing Chun diz a tradição oral ser originalmente uma
arma de campo, uma lança. Uma vez que para derrotar
um homem com o bastão longo é preciso que se vença
uma grande distância, o treinamento de facas versus
bastão teria favorecido o estudo de bases triangulares
associadas às facas e a ideia o bastão fornecido a ideia
de manutenção da "Linha Central" presente no estilo de
Ip Man.”
25
aquele sentimento legítimo de que somente a prática
conduz à perfeição, simbolizado por aquele ator solitário
que, nos filmes, continua a praticar sozinho mesmo
quando não há mais ninguém por perto. A realidade é
que a maior parte das pessoas não tem nem bons
bonecos para a
prática, acha que
qualquer similar
basta, o que leva a
erros de execução
grosseiros,
tampouco sabem
para que serve este
aparelho, como usá-
lo para refinar suas
habilidades, por
vezes passando
anos de suas vidas
praticando algo que
não as levará a lugar
algum. As pessoas
acham que ao
praticar com o
boneco tem-se à sua
frente um adversário
de frente para você,
que você está a lutar
com seu adversário.
No entanto este
implemento é usado para treinar gestos das três
primeiras formas do sistema Wing Chun de forma
dinâmica, imitando o posicionamento de defesas não
mais em relação a você mesmo, mas em relação ao
26
adversário de qualquer posição e o modo correto de
transacionar entre estas defesas seguindo os princípios
de aprendizado do sistema Wing Chun. Isso estimula o
praticante variar entre as posições de forma criativa e
segura, mas ainda simbólica, ainda como num Tao Lu
(Kuen To, Kati, forma). Assim sendo, dentro do sistema
Wing Chun, o boneco de madeira não é um conteúdo
técnico, mas cultural, de refino do sistema depois que
se domina a fase de mãos livres. Por isso se chama
informalmente de "108 Muk Yam Jong", os cento e oito
movimentos representam as trinta e seis técnicas de
cada uma das três formas fundamentais. Assim sendo,
o boneco é sim importante, mas não imprescindível,
uma vez que você já conhecia as técnicas. Como
qualquer outra forma, não lhe deixa melhor em luta, mas
aumenta sua memória muscular na transição entre os
movimentos e lhe dá condições de criar no calor do
momento (somente a quem já treina e está habituado a
combates e sparrings), fator de adaptação importante
para situações irrestritas ou de rua, onde as coisas
normalmente acontecem de modo repentino e caótico.
Sem estas condições prévias o uso do boneco é quase
que inútil, uma vez que ninguém ficará com os braços
estáticos na sua frente para você se defender.”
27
Embora já fizesse um tremendo sucesso na Ásia no
comecinho da década de setenta, foi quando o filme
Enter The Dragon (Operação Dragão) tornou-se um
estouro de bilheteria nos EUA que as pessoas quiseram
treinar Kung Fu e o estilo de Bruce Lee aqui no
ocidente. Sua morte precoce justamente na época do
lançamento deste filme levou as pessoas, perplexas
com suas habilidades, a procurar pelo Jeet Kune Do,
estilo que ele havia criado alguns anos antes. Na falta
deste estilo ainda muito incipiente, as pessoas
procuravam o Wing Chun, uma vez que Lee havia sido
aluno de Ip Man, a única pessoa a quem se referiu
como sendo seu mestre em vida. Por mais que o Jeet
Kune Do guardasse muitos dos princípios originais do
Wing Chun, Bruce Lee era deveras crítico dos sistemas
tradicionais. Isso criou um problema: o Wing Chun, um
estilo tradicional, nos deu Bruce Lee e este por sua vez
popularizou nosso estilo, mas Bruce Lee era aquilo que
as pessoas queriam se tornar para manter viva a sua
memória. O Wing Chun era apenas um meio de ter a
bagagem de base de Bruce, e assim quem sabe um dia
ser como ele, ou encontrar alguém que ensinasse o
Jeet Kune Do para facilitar o processo. À medida que
essas pessoas começaram a treinar Wing Chun com
outros estudantes de Ip Man, muitas delas se
apaixonaram pelo Wing Chun pelo que a arte é, não
mais pela ideia de ser Bruce um dia; entenderam sua
mensagem e estudaram com afinco por décadas. Mas
até que saísse o filme Ip Man (O Grande Mestre, 2008)
com Donnie Yen no papel principal, não havia a vontade
por parte do grande público de treinar Wing Chun por
aquilo que é o Wing Chun, ou seja, o Wing Chun não
era "pop", a verdade é que ninguém sabia o que era.
28
Agora, em qualquer mesa de bar você pode topar com
alguém que tenha assistido ao menos um filme original
da franquia, mesmo que nunca tenha treinado nada.
Donnie Yen não é uma apoteose muscular, uma
espécie de semideus da genética como fora Bruce Lee.
Ip Man, cuja personalidade e temperamento foram
melhor retratados por Yen, era o sujeito pacato que de
uma situação confortável ficou pobre, passou
dificuldades, mas manteve a dignidade. O Ip Man do
filme usou sua arte não apenas para se defender, mas
para restaurar o orgulho de seu povo, numa época de
humilhação. Assim sendo, passou-se a ideia que o Ip
Man, o da vida real, tanto defendia: que o Kung Fu é
morto até que alguém o traga à vida. E, Ip Man trouxe,
tanto em vida quanto depois de morto; como pessoa
real e depois como personagem. Qualquer pessoa pode
ser um Ip Man se batalhar muito, se tiver Kung Fu, já
que este termo pode ser traduzido como "trabalho duro".
Pouquíssimas serão Bruce Lee, não importa o quanto
se esforcem.”
29
sujeito armado. Ter o tapete puxado por alguém que
você ama e confia. Em Wing Chun não se trata do
quanto você pode aprender ou render fisicamente, mas
o quanto você faz com aquilo que você tem, o quanto
pode antecipar e evitar problemas e, caso não consiga,
se adaptar à situação adversa. Já supomos de saída
uma posição de desvantagem. Por termos em nossa
origem simbólica a ideia de que a luta fora criada por
uma mulher, as defesas usam ângulos e contrapesos
tirados da física para que nossas defesas suportem
ataques de alguém maior e mais forte. Quebramos o
ritmo para parar um adversário veloz. Usamos
alavancas biomecânicas para gerar mais força e
procuramos objetividade no contra ataque. Eis aí um
resumo da teoria do sistema. Mas não pense que isso
tudo é muito diferente de outras artes marciais; todas
elas fazem a mesma coisa de modo levemente
diferente, com outras ferramentas. No Wing Chun,
entretanto, o foco dentro de sua proposta faz com que,
por exemplo, um homem baixinho e gordo não tenha de
chutar na altura da cabeça, por exemplo, mas no joelho.
As aplicações práticas favorecem o relaxamento e uso
adequado da força em espaço curto de tempo ao invés
da resistência, que perdemos mais rápido com a idade.
Se eu chuto sua canela e você olha para baixo, eu pego
você com minha mão dianteira. Eu faço você olhar para
minha mão enquanto lhe chuto a barriga. Isso faz
parecer que sou rápido, mas na verdade eu apenas usei
um truque. Segundo Sifu Gorden Lu estes truques são
mecânicos, distrativos, psicológicos, etc. Nós usamos
golpes na região genital. Mas qualquer idiota com um
pouco de malícia também pode fazer isso. Como o Wing
Chun conduz naturalmente suas partes contundentes
30
para as partes frágeis do adversário, isso a maior parte
dos mestres não sabe explicar. Na minha escola já tive
alunas (aprendem mais rápido no geral pelo fato do
estilo ser muito intuitivo), idosos (tenho atualmente o
Ivan, que quando começou tinha minha idade atual e
hoje tem setenta anos) e mesmo um praticante com
nanismo. Tenho o professor de música e designer
Lucas, que veio por indicação médica (tem toda a
coluna fixada por parafusos). Todas estas pessoas são
potenciais vítimas de agressores mais fortes. Mas seria
idiotice tentar fazê-las render fisicamente além de suas
capacidades, ou achar que lutar em situação de
desvantagem resolverá algo. Eu as treino para superar
suas dificuldades, para serem pessoas melhores hoje
do que foram ontem. Para serem mais atentas e
evitarem conflitos. É para isso que serve o Kung Fu.
Para tornar a sua vida melhor. No Kung Fu tradicional a
luta é método, não fim. Kung Fu é a expressão
psicomotora do pensamento clássico chinês.”
31
treinamento de estudantes e na preservação das
tradições chinesas. A internet nos dá ferramentas para
checar isso. Usem-nas. Por outro lado, há praticantes
seguindo mestres legítimos porém em escolas com
posturas anti éticas, arrogantes e por vezes alienantes,
com características de "seita". Muitas vezes estes
mestres usam a vontade dos alunos de se formarem e
os exploram financeiramente por anos, para apresentar
em contrapartida um resultado pífio. Hoje eu vejo
professores bem intencionados formados por pilantras
ou seguindo mestres chineses apenas por serem
chineses, quando muitas vezes têm perto deles mestres
que tem uma vida de experiência e igual legitimidade.
Se você quer se aproximar do Wing Chun tem de saber
que não será um lutador esportivo famoso apenas
lutando Wing Chun, que o sucesso não vem de derrotar
seu inimigo com golpes espetaculares, mas passar
longe de brigas e conflitos desnecessários. Que suas
pequenas vitórias na academia devem se refletir na sua
vida. Paradoxalmente entretanto, àqueles que tem perfil
mais erudito e que tanto amam a cultura do sistema,
digo-lhes que uma arte que somente é praticada, mas
não lutada, é vazia de espírito. Este tem sido o principal
problema do sistema Wing Chun. Para que a teoria
tenha sentido é preciso chocá-la com seu teste na
realidade do combate livre, mesmo que com pouco
contato. Para ter noção de distância, saber dosar
energia para não fatigar, noção de equilíbrio, saber das
próprias potencialidades e limitações, não há outro
caminho, é preciso arriscar minimamente. Se o seu
mestre não lhe conduz ao combate em sua escola, por
mais que o objetivo final não seja esse, dê o fora, não
importa ou quão legítimo este mestre seja. Sua ambição
32
por se formar, treinar
em uma boa escola
é legítima, mas ela
não deve ser
superior a viver algo
em sua plenitude.
Para o domínio do
Wing Chun, a noção
de tempo correto,
timing, é algo
imprescindível. Não
perca seu tempo
com quem não vale
a pena. Tempo é
algo precioso
demais para ser
jogado fora.”
O Sanda da China
33
Bate Papo com o
Professor Marcelo Alexandrino
Discípulo do Sifu Wong Jan Yum, representante da
Associação Pugilística Ancestral de Choy Lee Fut de Xinhui
no Brasil, ensina Kung Fu Wushu para quem quiser
aprender, o nosso convidado para o Bate Papo é o
Professor Marcelo Alexandrino (à esquerda na foto acima).
34
Professor, muito obrigado por aceitar o nosso convite, é
uma honra contar com a sua participação na nossa
revista digital. Gostaria de começar lhe perguntando
como, quando e por que o Kung Fu Wushu entrou na
sua vida?
35
Você treinou ChoyLayFut há muitos anos, depois
praticou outras artes marciais, mas você voltou a treinar
o estilo ChoyLayFut há alguns anos e continua até hoje.
O que te fez escolher o ChoyLayFut como a sua arte
marcial?
36
relaxada e, sobretudo, a organicidade do Choy Le Fut
da Escola Ancestral. Enfim, fiquei encantado com
aquela abordagem da arte marcial chinesa e, desde
então, minha vida e o Choy Lee Fut se mesclaram
definitivamente.”
37
apenas no início da pandemia que finalmente concordou
em dar aulas fechadas para mim e meus alunos.
Também é importante mencionar o mestre Germán
Bermudez, com quem tenho aprendido, desde 2018, o
sistema de cultivo interno do Choy Lee Fut da Escola
Ancestral, denominado Lohon Heigung (Luohan
Qigong), que é composto de cinco formas (rotinas) e
uma diversidade enorme de exercícios. Como já dá para
imaginar, é uma oportunidade ímpar de aprender
diretamente de mestres que conhecem o Choy Lee Fut
tradicional em essência e profundidade e que sempre se
mostram empolgados para nos transmitir os
fundamentos mais profundos e os detalhes mais
diminutos, que distinguem a nossa modalidade das
demais artes marciais.”
38
(Chan Jeong Git Sigung), atual Presidente da
Associação Pugilística Ancestral de Choy Lee Fut de
San Wui (em mandarim, Xinhui) não cansa de
esclarecer que “Choy Lee Fut é uma família aberta”. Por
esse motivo, tive a honra de treinar com grandes
mestres de nossa mesma “linhagem” aqui e no exterior,
como Angelo Cornejo, Carlos San Teófilo, Javier Ortiz,
Jason Wong e Germán Bermudez, e também com
mestres como Lee Chi Wai, da tradicional escola Hung
Sing Choy Lee Fut de Futsan (não confundir com o
estilo que se apresenta com esse mesmo nome no
Brasil); Chon Chang, da escola Hong Luck; Terry Ho, da
escola Buk Sing; Giovanni Antonieta, da escola Nam
Tien Men/Poon Sing; Tony Rey Garcia, da escola Nam
Pai/Wong Yi Man, além de ter praticado por um bom
tempo com o saudoso mestre Paul Fraga, discípulo do
legendário Lee Koon Hung. Muitas podem ser as razões
pessoais para que um professor de Choy Lee Fut proíba
seus alunos de interagir com professores e praticantes
de outras escolas. Só não podemos admitir que os que
têm essa conduta afirmem que a restrição tem
fundamento na “tradição”, simplesmente porque tal
afirmação estaria muito longe de ser verdadeira.
Novamente: Choy Lee Fut é uma família aberta – esta,
sim, é a nossa tradição, e graças às frequentes
interações entre os praticantes, nossa modalidade está
em constante evolução.”
39
“É mais do que excelente. Meu condomínio é cercado
por uma floresta e possui espaço reservado e equipado
para a prática de artes marciais. Ali temos não só o
Choy Lee Fut, mas também Muay Thai e Judô. Ou seja,
tenho espaço, estrutura e principalmente privacidade
para ensinar somente a quem me inspire confiança e
tenha disposição para suportar o treinamento
tradicional.”
40
Professor, o ChoyLayFut que você pratica e ensina vem
da Família Ancestral de Xinhui, que é a linhagem que
descende diretamente do mestre Chan Heung, o criador
do estilo. Qual é a importância de aprender e transmitir
tais conhecimentos?
41
“Na verdade, eu não sei como a modalidade é ensinada
no Brasil. O que sei é que é nítida a diferença entre o
nosso modo de expressar o Choy Lee Fut e o que
vemos em grande parte dos vídeos publicados nas
redes sociais. Isto se deve a alguns fatores. Em primeiro
lugar, vem o fator histórico: Chan Heung Sijo criou o
Choy Lee Fut em uma época muito conturbada. Grande
parte de seus discípulos deixou San Wui com poucos
anos de prática. O próprio Chan Heung aliou-se à
Revolução de Taiping e, com a queda de Nanjing,
refugiou-se por anos no sudeste asiático e nos Estados
Unidos, certamente elevando o Choy Lee Fut a um nível
mais alto nesse período. Também na época da
Revolução Cultural, muitos praticantes emigraram para
outros países. Mesmo a bisneta de Chan Heung, Chan
Kit Fong Sitaipo – com quem estive pessoalmente em
2016 – refugiou-se em Hong Kong, onde fundou a
Associação Memorial de Chan Heung, de onde enviou
recursos para manutenção da Escola Ancestral, que
entrou em declínio até a intervenção de Chan Jeung Git
Sigung, já nos anos 2000. O segundo fator é
consequência direta dessa diáspora: longe da Escola-
Mãe, professores desenvolveram seus próprios
métodos, muitas vezes mesclando o Choy Lee Fut com
outros estilos, como Fut Gar, Hung Gar e, até mesmo,
Bak Siulam (Shaolin do Norte). Como resultado, não
apenas as rotinas (formas) das diferentes ramificações
são completamente diferentes, como, em grande parte
delas, os fundamentos do Choy Lee Fut foram perdidos
ou substituídos por fundamentos de outras
modalidades. O terceiro fator é a McDonaldização do
Choy Lay Fut. Cada vez mais, é comum a padronização
42
do ensino e implantação de um sistema de faixas que
comporta exercícios inócuos e técnicas de “defesa
pessoal” que beiram a má-fé. Junto com isso, formas
inteiras são oferecidas em seminários que duram, no
máximo, três dias, transformando o toulou (taolu, rotina),
de método de treinamento em coreografia sem
propósito. Mesmo entre os competidores que
costumamos ver nos pódios, não raro os movimentos
são incompletos, os deslocamentos são desenraizados,
a geração de força subverte a cadeia cinética, enfim, os
fundamentos do Choy Lee Fut parecem lhes ser
desconhecidos. Esses três fatores são muito claros e
talvez influenciem o modo como o Choy Lee Fut é
ensinado, mas, novamente, não sei o que se passa nas
academias do Brasil.”
43
obstinada para encontrar professores que saibam e
queiram transmitir esse Kung Fu que ainda honra a
história e a eficiência da arte marcial chinesa. E veja:
tradição vem de “traditio”, vocábulo latino que significa
“entrega”. Não se trata de estar preso ao passado, mas
de contribuir para a preservação do Choy Lee Fut,
passando adiante ensinamentos devidamente
adaptados ao tempo e ao meio em que vivemos.”
44
voluntariamente trabalharmos para mantê-lo sob
controle, como bem aponta Jordan Peterson, um dos
grandes pensadores da atualidade. Mas como alguém
pode alimentar e domar esse monstro ao mesmo
tempo? Adquirindo competências fundamentais e
conhecimentos incomuns; sendo disciplinado, mesmo
na ausência de motivação; falando e escrevendo bem;
lembrando-se de ser um bom ouvinte e cuidando de
ampliar sua percepção; comportando-se eticamente,
não por medo, mas porque é certo fazer a coisa certa;
construindo pontes sem descuidar de estabelecer
limites; selecionando friamente as pessoas com quem
anda; respeitando e exigindo respeito; cuidando do
corpo, que é o templo em que habita a alma: é assim
que o artista marcial se torna um exemplo para todos
que o cercam. É com esse espírito que praticamos o
Choy Lee Fut da Escola Ancestral e é esta a mensagem
que gostaríamos de deixar para todos os leitores que
nos acompanharam até aqui.”
45
Templo Shaolin
Uma Breve História
Localizado no monte Shaoshi, na cordilheira Song, na
província de Henan, na República Popular da China, o
Templo Shaolin é um dos mosteiros budistas mais
conhecido do mundo.
46
Acredita-se que o Templo Shaolin foi construído em
aproximadamente 495 d.C.
47
Por nove anos Bodhidharma meditou em uma caverna atrás
do mosteiro e logo quando chegou percebeu que os
monges chineses não eram fortes fisicamente para aguentar
as longas horas de meditação.
48
E, assim, teriam surgido os estilos de Kung Fu Wushu
Shaolin que conhecemos hoje em dia.
49
Em 2010, o Templo Shaolin foi declarado patrimônio
mundial pela UNESCO como parte dos monumentos
históricos de Dengfeng.
22 Bases do Kung Fu
50
Fim desta Edição!
Participe do nosso grupo no
Telegram para receber as
próximas edições: CLIQUE
AQUI.
Até a próxima!
51