Farmacodermias
Farmacodermias
Farmacodermias
Introdução:
Reação adversa a droga, é qualquer efeito indesejável na estrutura ou função da pele, seus anexos
ou mucosas
A pele é o órgão acometido com mais frequência pelas reações medicamentosas (45%)
Estima-se que está presente em:
o 2% da população adulta
É mais comum no adulto, exemplo: eczantema no adulto é mais comum ser por
farmacodermias, já nas crianças é mais devido a alguma causa viral.
o 4% da população pediátrica
o 10-20% dos doentes hospitalizados
DIAGNÓSTICO:
O diagnóstico da droga envolvida na reação medicamentosa nem sempre é fácil
Não existem exames laboratoriais confirmatórios
o Biópsia vem bem inespecífico
É baseado na análise de dados clínicos, fatores cronológicos e pesquisa da literatura
O tempo decorrido entre o início da ingestão do agente e do quadro clínico é a chave para o
diagnóstico da droga.
*Procurar dados de laboratório farmacêutico e avaliar se tem estudos prevendo as reações por ser
um medicamento novo. Procurar na literatura se teve algum teste onde foi observado uma lesão
específica ou um quadro específico.
PARÂMETROS PARA DIAGNÓSTICO DA DROGA RESPONSÁVEL PELA ERUPÇÃO
CUTÂNEA MEDICAMENTOSA:
Características Clínicas Tipo de lesão primária, distribuição e número de lesões
Envolvimento mucoso
Sinais e sintomas: febre, prurido, linfadenomegalia e acometimento visceral
Fatores Cronológicos Documentação de todas as drogas ingeridas pelo doente com data de
introdução
Data do início da erupção
Tempo de intervalo entre a data de introdução e o início da reação
medicamentosa
Resposta à retirada da droga
Pesquisa na literatura Pesquisa bibliográfica; Drug Alert Regist
Dados do laboratório farmacêutico; Medicação recente no mercado , deve
ser feita analogia com a classe medicamentosa.
EXANTEMAS
Eritema generalizado agudo e de duração relativamente curta
Morbiliforme ou rubeoliforme – eritema entremeado com áreas de
pele sã
Escarlatiniforme – eritema generalizado homogêneo
*Pode ter maculapapulas, pápulas, micropápulas que dão aspecto de lixa
para a pele.
São denominados reações medicamentosas maculopapulares ou rashs por
drogas
Na infância: 10 a 20% dos exantemas são por drogas
Nos adultos: 50 a 70%
As principais drogas responsáveis são: penicilinas; sulfonamidas; cefalosporinas;
anticonvulsivantes; alopurinol → essas são as principais, servem para todas as classes de
farmacodermias.
QUADRO CLÍNICO:
Início do exantema 7 a 14 dias após a medicação
Início mais precoce na reexposição ao medicamento
Máculas eritematosas de distribuição simétrica, iniciando pelo tronco e MMSS com
progressão confluente
Raramente lesões mucosas
Prurido e febre baixa
o Uns tem prurido discreto que não precisa entrar com anti-histaminico e outros tem prurido
intenso.
Evolução com descamação e/ou hiperpigmentação residual
Desaparecimento em 1 a 2 semanas sem sequelas – assim que retira a causa, desaparece
Diagnóstico diferencial principal: exantemas virais
*Pode ter descamação.
*A medida que vai sumindo vai deixando um tom amarronzado na pele, um castanho mais escuro
que vai ficando mais claro até sumir.
TRATAMENTO:
Suspensão da droga
Tratamento sintomático – se necessário:
o Anti-histaminínicos
o Corticoides tópicos – se alguma lesão específica estiver incomodando mais
Corticóides sistêmicos geralmente não são utilizados – pois quando suspende a droga rapidinho
melhora
Pode significar fase inicial de erupções mais graves: DRESS, SSJ ou NET
o Avisar o paciente, se começar a ter ardência na pele, surgir lesões novas, sintomas se
modificarem retornar para reavaliação para ver se não está evoluindo para a forma grave
ERITEMA PIGMENTADO FIXO
As lesões desenvolvem-se de 1 a 2 semanas após a primeira exposição
Com exposições subsequentes, elas aparecem dentro de 24 horas
o Aparecem mais precocemente e podem se tornar permanente
o Quando primeira exposição, surgem as lesões e ao retirar o medicamento as lesões somem,
mas se persistir nesse medicamento a lesão pode ficar fixa.
Incidência variável: mais comum entre os 20 a 40 anos
As drogas mais relacionadas são: penicilinas; trimetropim; sulfametoxazol; tetraciclinas;
griseofulvina; ibuprofeno; barbitúricos – mais relacionada aos antibióticos, mas pode ser por
outros medicamentos também como dipirona
PATOGENIA é desconhecida:
Variante localizada da reação de Gell e Coombs tipo IV (reação de hipersensibilidade tardia)
Agressão tecidual localizada resultante da ligação do fármaco circulante a receptores celulares
específicos produzindo liberação de linfocinas e anticorpos lesivos à camada basal epidérmica
Existência de células T CD8+ nas lesões de EPF, que teriam importante papel no dano tecidual
localizado
QUADRO CLÍNICO:
Mácula eritematosa, eritêmato-edematosa ou
eritêmato-purpúrica arredondada ou ovalada,
podendo haver bolha central
Localização: qualquer local, incluindo mucosa oral e
genital
A pigmentação residual desaparece em semanas, porém pode ser permanente
após sucessivas exposições a droga desencadeante
DIAGNÓ STICO
Clínico, mas na dúvida, pode-se complementar com biópsia da lesão
o Normalmente biópsia é inespecífica, o que pode ajudar é que vem
é a presença de eosinofílico, em qualquer quadro de
farmacodermia pode ter infiltrado eosinofílico.
Diagnóstico diferencial: equimose.
TRATAMENTO
Retirada do medicamento suspeito, evitando a reexposição
URTICÁRIA
Aparecimento de urticas, as quais podem ser acompanhadas por angioedema
Edema da derme superficial (derme papilar) = urtica
Edema da derme profunda e do subcutâneo = angioedema
Urtica: placa eritemato-edematosa, pruriginosa, com a pele retornando ao seu aspecto normal no
período de 24 horas
Angioedema: edema súbito e acentuado em mucosas e extremidades. A dor é o sintoma mais
comum e pode durar até 72 horas
É a segunda reação medicamentosa mais comum
TRATAMENTO
Retirada da droga suspeita
Corticoides sistêmicos
Anti-histamínicos
Se angioedema com sinais de evolução para anafilaxia usar adrenalina SC, IM o EV
Urticária pode ser passageira? Durar 1 a 2 anos devido a determinado medicamento e depois melhorar?
Tem que ver se é urticária idiopática, como não achou a causa joga a culpa para algum medicamento.
Sabão em pó, amaciante, perfume, coisas que tem cheiro forte, corante de salgadinho – podem
desenvolver urticária. É difícil fazer associação, pois não consome sempre.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA:
Os principais grupos de medicamentos implicados são:
sulfonamidas, anticonvulsivantes e AINE.
Carbamazepina – mais frequente entre os anticonvulsivantes
Hidantoína é a causa mais comum em crianças
Fenobarbital, lamotrigina e ácido valproico são causas importantes
Alopurinol é a causa mais importante nos países desenvolvidos
Drogas anti-retrovirais como nevirapina e inibidores de protease
Antibióticos com risco relevante: cefalosporinas, tetraciclinas,
penicilinas, quinolonas e imidazólicos.
QUADRO CLÍNICO:
Lesões mucosas:
Podem preceder ou serem simultâneas ao acometimento cutâneo
A mucosa oral e os lábios são quase sempre acometidos, a conjuntiva e a
mucosa anogenital com menor frequência
Erosões muito dolorosas podem ocorrer dificultando a ingestão de alimentos;
os lábios podem apresentar crostas hemáticas
As lesões oculares necessitam de assistência oftalmológica devido ao risco de sequelas graves
o Se tem lesão ocular → encaminhar para oftalmo de urgência
Erosões urogenitais podem levar á retenção urinária e parafimose
Lesões cutâneas:
*Pode abrir um quadro grave com o exantema
Iniciam-se com sensação de ardor ou mesmo dor – principalmente ao tocar a pele
o Sinal que pode estar evoluindo para quadro grave
Geralmente iniciam-se na face e tronco superior podendo se estender por toda pele, predominando
no tronco e região proximal dos membros
Podem ter máculas eritematosas ou eritemato-purpúricas de tamanho e formas irregulares “alvos
atípicos” que se confluem e formam extensas áreas que podem evoluir para bolhas e descolamento
cutâneo eritema multiforme. Lesões em alvo.
NET
A falência aguda da pele se dá pela extensa necrose epidérmica, o que explica a gravidade e a
multiplicidade de falências orgânicas decorrentes da perda do manto cutâneo
Há alteração do balanço hidroeletrolítico, com perda de fluido 3 a 4 litros em doente com mais de
50% de pele acometida
o Devido não ter barreira cutânea
Fluidos, proteínas e eletrólitos diminuídos levam a hipovolemia e insuficiência renal
A destruição da barreira favorece as infecções que são a principal causa de óbito nesses doentes
Sintomas gerais:
o febre alta, acometimento do TGI com erosões esofágicas, disfagia e sangramento
o Envolvimento respiratório é preocupante com edema intersticial, 10-20% dos doentes
necessitando de ventilação artificial
o A insuficiência pré-renal e ou necrose tubular aguda podem estar presentes
o Anemia, linfopenia
Tratamento
Diagnóstico e retirada das drogas suspeitas de forma precoce
O doente deve ser tratado em UTI ou unidades de queimados
Corticóide – controverso, uns orientam uso e outros não
o Maioria não usa.
o Pode piorar o paciente, uma vez que ele já tem chance de fazer infecção secundária e ainda
irá imunossuprimir
Imunoglobulina: ação inibidora da morte celular por apoptose
o Nessa doença acontece a morte dos queratinócitos
o Cara, não tem na maioria dos hospitais
Terapêutica de suporte similar a dos grandes queimados
o Manter hidratação, controle de distúrbios hidroeletrolíticos, avaliar se
está evoluindo para outras situações
Principal causa de mortalidade:
o Septicemia por Staphilococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa
Retirada de drogas não essenciais
Isolamento do paciente – para não ter contato com bactérias e vírus do
ambiente
Monitorização em unidade de cuidados intensivos
Proteção gástrica e anti- coagulação para prevenir fenômenos
tromboembólicos
Manutenção do equilíbrio hidro-eletrolítico e aporte nutricional adequado
Cuidados locais com a pele
QUADRO CLÍNICO
Sintomas iniciais - inespecífico:
o Febre alta, mal-estar, linfadenomegalia cervical e faringite
o Erupção cutânea ocorre em 90% dos doentes, na maioria dos casos inicia com exantema
maculo-papular
Evolução: face-tronco-membros
Pode haver edema periorbitário – diferencia de outras situações de farmacodermias
A gravidade cutânea não reflete a gravidade do envolvimento dos órgãos internos
Pode haver envolvimento mucoso
Linfadenomegalia – local ou generalizada
Fígado: órgão interno mais acometido – 61% com hepatomegalia
o Pode variar de graus leves de elevação das transaminases até necrose hepática fulminante
o Se aumentar transaminase → corticoide em doses mais altas, controla alteração hepática
(principal) e renal
Renal: pode evoluir desde hematúria leve até glomerulonefrite com IRA
o Nefrite intersticial
Anormalidades hematológicas: eosinofilia e linfocitose atípica são comuns
Acometimento de outros órgãos: miocardite eosinofílica, pericardite, envolvimento do SNC –
síndrome hipereosinofílica
DIAGNÓ STICO
Critérios diagnósticos:
o Tem que haver 5 critérios presentes
1- Exantema máculo-papular após 3 sem de introdução da droga
2- Linfadenomegalia
3- Febre
4- Leucocitose
5- Eosinofilia – eosinófilo > 1.500 (eosinofilia importante)
6- Presença de linfócitos atípicos
7- Hepatite (transaminases >100U/L)
8- Reativação do HHV 6 – mais difícil de identificar, pois quando dá quadro no
adulto é bem discreto
Exames complementares: *sempre pesquisar fígado e rim
o Hemograma – com linfocitose com linfócitos atípicos e/ou eosinofilia (pode ou não ter)
o Elevação das transaminases
o Elevação das bilirrubinas
o Elevação da ureia e creatinina
Exames histopatológicos da pele e gânglios não são patognomônicos
Pode vir a óbito se não tratar a tempo. DRESS é mais comum do que a gente imagina.
TRATAMENTO:
Reconhecimento precoce da DRESS é muito importante
Retirada da droga
Tratamento de suporte ao órgão afetado
Corticoterapia sistêmica, diferente da SST e NET
A maioria dos doentes, mesmo com manifestações leves, deve ser hospitalizada para
monitoramento das funções hepática e renal e exclusão do acometimento de outros órgãos
A função tireoidiana deve ser monitorada por vários meses pelo risco aumentado de
desenvolvimento do hipotireoidismo.