STF Atual Fortalece Autonomias Regionais

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FEDERALISMO CENTRÍFUGO

STF atual fortalece autonomias


regionais, diz líder de procuradores
legislativos
Alex Tajra 3 de março de 2024, 9h45

Administrativo

Logo após a Constituição de 1988, prevalecia a ideia de um


“federalismo centrípeto”, modelo de organização política em que se
privilegia um poder central (no caso do Brasil, a União) em
detrimento dos poderes locais (estados e municípios). Hoje, todavia,
essa organização foi se tornando mais centrífuga, com
posicionamentos do Supremo Tribunal Federal garantindo que
questões regionais sejam levadas em consideração ao analisar
normas de cidades e estados. -30%

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A reflexão é do presidente da
Associação Nacional dos
Procuradores e Advogados do
Poder Legislativo (Anpal), APOIO
Ricardo Benetti Fernandes
Moça, procurador da
Assembleia Legislativa do
Espírito Santo. À revista
eletrônica Consultor Jurídico,
Moça afirma que a atual
composição do STF fortaleceu a
autonomia normativa regional,
respeitando as peculiaridades
dos entes na hora de legislar.
Segundo ele, esse movimento
“resulta na efetividade do
equilíbrio federativo”.

Perguntado sobre o trabalho de orientação em relação aos


parlamentares, que muitas vezes utilizam o expediente legislativo
apenas para fustigar atritos com outros poderes, como no caso da
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Moça afirma que há uma “tendência” nesse sentido, mas que a
posição dos procuradores não pode substituir a posição dos
deputados eleitos.

00:00/00:00

“Não há como o Direito ser separado da política, já que a lei, em


sentindo amplo, nada mais é do que o produto final da vontade das
maiorias eleitas. Porém, apesar das suas órbitas se cruzarem, o
papel das procuradorias, principalmente na assessoria e na
consultoria jurídica, é subordinado integralmente à Constituição da
República e aos princípios constitucionais e legais, dando um
tempero de tecnicismo a discussões legítimas que ocorrem no
Parlamento.”

Eleito no final de 2022 para a presidência da Anpal, Moça afirma que


a principal reivindicação da categoria é a inclusão dos procuradores
legislativos na Constituição. Hoje, a carreira não está expressa na
Carta e está delineada a partir de “construção doutrinária e
jurisprudencial”. “Mas amanhã pode deixar de ser, eis que as
instituições são compostas por pessoas.”

Sobre a discussão em torno dos pagamentos aos procuradores,


motivo de ação recente no Supremo (ADI 2.820), que definiu que
esses profissionais não podem ter equiparação automática aos
procuradores do Estado, Moça afirma que a decisão não foi um
obstáculo às pretensões da categoria.

“Isso não significa um óbice, dentro de uma escolha política para que
se fixem subsídios parelhos entre os procuradores estaduais e os
procuradores legislativos, desde que a determinação tenha caráter
instantâneo, iniciativa legiferante de cada poder e não alcance
reajustes automáticos posteriores.”

Leia a entrevista:

ConJur — Quais são, hoje, as principais angústias dos procuradores


legislativos?
Ricardo Fernandes Moça — A bandeira uníssona entre os
procuradores legislativos é a necessidade de inserir textualmente a
nossa carreira na Constituição, que já é realidade em relação às
procuradorias de Assembleias Legislativas na grande maioria das
Constituições estaduais pelo Brasil. Apesar de hoje a advocacia
pública do Poder Legislativo ser uma realidade nas duas casas do
Congresso Nacional por meio da Advocacia do Senado e da
Advocacia da Câmara dos Deputados e de estarmos presentes em 26

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estados e no Distrito Federal, a nossa existência acaba por ser fruto Login Cadastre-se
de uma construção doutrinária e jurisprudencial que hoje é pacífica e
consolidada, mas amanhã pode deixar de ser, eis que as instituições
são compostas por pessoas. Assim, levar a nossa essência para o
texto maior significa trazer segurança jurídica e reconhecer o
trabalho desempenhado por esses procuradores. E também
eliminaria essa angústia de um difícil, mas possível retrocesso
jurisprudencial.

ConJur — Como se concilia a atuação de procurador legislativo com


o atual momento da política partidária, em que os limites da
liberdade de expressão estão sendo testados a todo o momento?
Ricardo Fernandes Moça — Por mais que os limites da liberdade
de expressão estejam sendo testados, notadamente com o advento
das redes sociais, esses conflitos também evidenciaram ainda mais a
essência de uma advocacia pública do Poder Legislativo forte e bem
estruturada. Hoje, não existe procuradoria legislativa no Brasil que
não dê amparo técnico diariamente, seja através de pareceres ou de
atuações judiciais, objetivando o resguardo e o correto uso das
imunidades parlamentares.

ConJur — Há muitos questionamentos nos Tribunais de Justiça e


nos tribunais superiores sobre leis municipais e estaduais que
extrapolam as competências dos entes. Como é a atuação do
procurador nesse sentido?
Ricardo Fernandes Moça — Via de regra, assessoramos sob o
aspecto jurídico a mesa diretora ou a presidência nas informações
prestadas nos autos, buscando a defesa da constitucionalidade das
leis de iniciativa parlamentar que são impugnadas no controle
abstrato. Também somos responsáveis por auxiliar tecnicamente a
confecção das petições iniciais em sede de ADI, ADPF ou ADC, nos
casos em que a ação de controle concentrado é de iniciativa das
mesas diretoras.

Há previsões em diversas Constituições estaduais de que os


procuradores das Assembleias Legislativas são curadores da
constitucionalidade nos processos de controle concentrado que se
iniciam nos Tribunais de Justiça, o que já foi declarado
constitucional pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 119. Viabiliza-
se, nesse caso, a defesa da lei questionada pelos seus próprios
autores. É salutar e necessário que o Poder Legislativo mantenha o
seu espaço de fala nas ações de controle concentrado de
constitucionalidade, bem como que essa atuação se dê via assessoria
técnica dos procuradores legislativos.

ConJur — Como conciliar a atuação de procurador da Assembleia


Legislativa, que atua para defender os interesses daquele
parlamento, e o resguardo da Constituição Federal?
Ricardo Fernandes Moça — Em relação à criação das normas e à
atividade fiscalizatória do Poder Legislativo, não há como o Direito
ser separado da política, já que a lei, em sentindo amplo, nada mais é
do que o produto final da vontade das maiorias eleitas. Porém,
apesar das suas órbitas se cruzarem, o papel das procuradorias,
principalmente no assessoramento e consultoria jurídica, é

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subordinado integralmente à Constituição da República e aos Login Cadastre-se


princípios constitucionais e legais, dando um tempero de tecnicismo
a discussões legítimas que ocorrem no parlamento.

ConJur — O senhor acredita que estados e municípios extrapolam


seus limites em termos de legislação? Acha que há necessidade de
um trabalho mais intenso das procuradorias no sentido de orientar
os parlamentares?
Ricardo Fernandes Moça—Penso que, por muito tempo, prevaleceu
no Brasil pós-88 a ideia de um federalismo centrípeto, no que tange
a iniciativa para legislar dos entes federativos, concentrando as
principais temáticas na União. Essa linha interpretativa acabou
acarretando uma enxurrada de declarações de inconstitucionalidade
de normas estaduais e municipais. No entanto, a atual composição
do Supremo Tribunal Federal vem ajudando a fortalecer, dentro do
aspecto legiferante, a ideia de um federalismo centrífugo,
priorizando o fortalecimento das autonomias regionais e locais e o
respeito às suas diversidades como pontos observados na produção
de leis, o que, na minha visão, resulta na efetividade do equilíbrio
federativo.

Quanto à participação das Procuradorias e consultorias nesse


trabalho orientativo, tenho visto que se tornou uma tendência,
principalmente nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Mas devemos sempre ter em mente de que somos o meio, e não o
fim, além do que o nosso papel orientativo é o de trazer segurança
jurídica e resguardo legal aos atos praticados e editados pelo Poder
Legislativo, pelas suas comissões e pelos seus membros, mas jamais
de substituí-los, pois são os parlamentares os representantes eleitos.

ConJur — E qual o principal gargalo na atuação dos procuradores


legislativos?
Ricardo Fernandes Moça—Superar uma visão reducionista de que
a nossa legitimidade para representar o Poder Legislativo em juízo
deve necessariamente pressupor o litígio com outro Poder instituído.
Quando o saudoso ministro Victor Nunes Leal, na década de 50,
iniciou o estudo embrionário sobre a necessidade das Câmaras
Municipais defenderem sua autonomia e prerrogativas pela via
judicial, o caso concreto analisado, e que deu origem ao seu famoso
texto “Personalidade Judiciária das Câmaras Municipais”, dizia
respeito à ausência do repasse duodecimal do Poder Executivo ao
Poder Legislativo, ou seja, uma violação a independência e a
separação de poderes perpetrada pelo Executivo. Isso não quer dizer
que o Legislativo só possa estar em juízo quando litigar em face de
outro Poder.

Um exemplo prático: imaginemos uma ação popular, ajuizada por


um cidadão que pretende anular a eleição de membros de uma mesa
diretora de Assembleia Legislativa, assunto que é de ordem interna.
Parece-nos bem claro e evidente que o procedimento das eleições
internas do parlamento são matérias interna corporis, conectadas às
prerrogativas e autonomias das próprias casas de leis, não havendo,
nesse caso, qualquer interesse do estado federativo figurar no polo
passivo. Até porque, levando em conta o mesmo exemplo, se uma
ação com o mesmo objeto fosse movida pelo estado, ou fosse
proposta uma ADI por intermédio do governador, discutindo

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possibilidade de reeleições ilimitadas, dúvidas não existiriam que a Login Cadastre-se


representação judicial da Assembleia Legislativa seria realizada pelo
seu próprio órgão de advocacia.

Acreditamos, sobremaneira, que a nossa Corte Suprema vem


evoluindo para romper esse gargalo, o que ficou bem claro dos
fundamentos do acórdão firmado na ADI 2.820, em que ficou
definido que o critério de legitimidade da atuação da procuradoria da
Assembleia Legislativa diz respeito mais ao conteúdo e à finalidade
da atuação, ou seja, às causas, situações, demandas e feitos
relacionados à proteção, autonomia, independência e prerrogativas
do Legislativo.

ConJur — Como o senhor analisa a atual discussão sobre


equiparação salarial dos procuradores legislativos, como no caso da
ADI 2.820?
Ricardo Fernandes Moça — A interpretação que fiz do julgado é de
que o Supremo Tribunal Federal não permite (com razão) a
vinculação automática dos subsídios de procuradores estaduais com
os procuradores das Assembleias Legislativas, bem como ressalta a
exigência de lei específica para a fixação da remuneração de cada
uma das carreiras. Isso não significa um óbice, dentro de uma
escolha política para que se fixem subsídios parelhos entre os
procuradores estaduais e os procuradores legislativos, desde que a
determinação tenha caráter instantâneo, iniciativa legiferante de
cada Poder e não alcance reajustes automáticos posteriores.

Alex Tajra
é repórter da revista Consultor Jurídico.

Tags: administrativo ales assembleia legislativa competência Constituição

federalismo procurador legislativo

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