Direito Material Previdenciario

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DIREITO MATERIAL

PREVIDENCIÁRIO
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SUMÁRIO

1 Princípios da seguridade social ............................................................... 4

2 Tendências modernas das reformas da previdência social ................ 10

2.1 As reformas anteriores da previdência social brasileira ................... 11

2.2 Alguns elementos de análise ......................................................................... 14

3.1.2 A proteção concedida pelo Regime Geral de Previdência Social à


incapacidade laboral .......................................................................................................... 24

4.1 Classes de Dependentes do INSS ........................................................................ 38

4.1.2 Comprovação para acesso aos Benefícios ................................................... 39

4.1.5 Pensão por morte de acordo com a lei 13.183 de 2015...................... 41

4.1.6 A principal mudança ficou para o cônjuge ou companheiro (a) que: 42

5.1 Revisão dos benefícios concedidos e dos benefícios em manutenção


......................................................................................................................... 46

5.3 Direito adquirido ........................................................................................................... 56

5.4 Situações em que é possível a cumulação de benefícios .......................... 56

5.5 Regras adicionais ..................................................................................... 65

5.6 Cumulação de salário com benefício previdenciário ............................ 65


3

INTRODUÇÃO

Prezados alunos,

Esforçamos-nos para oferecer um material condizente com a graduação


daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências
atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso.

As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são
neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos
diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de
fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo
conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores.

Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos


colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que
nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão
acrescentar e melhorar nosso trabalho.

Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância,


vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se,
lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam
e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por
conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos.
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1 Princípios da seguridade social1

Fonte: cdn.jornalgrandebahia.com.br

O conceito de Seguridade Social institucionalizado na CRFB/88, no seu


Capítulo II, Título VII é inexistente na língua portuguesa, este termo é utilizado
desde 1935 nos Estados Unidos e desde a década de 1940 nos países
capitalistas da Europa, para designar um conjunto variável de programas e
serviços sociais sendo que o Constituinte brasileiro a conceituou resumidamente
como conjunto de ações que visam assegurar saúde, assistência e previdência
social. A saúde com caráter universal e gratuito independentemente de
contribuição e a previdência social com caráter contributivo e filiação obrigatória,
ou seja, diferem da previsão constitucional que objetiva organizar a seguridade
social com cobertura e atendimento com base no princípio da universalidade.
Contudo, resta reconhecer que a Seguridade Social, nos termos constitucionais,
reformou o padrão anterior de proteção social do país.
Seguridade social é um termo cujo uso se tornou corrente a partir dos anos
40, no mundo desenvolvido e particularmente na Europa, para exprimir a ideia
de superação do conceito de seguro social no que diz respeito à garantia de

1 Texto adaptado de Marluce Souza e Silva e Narana Souza Alves.


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segurança das pessoas em situações adversas. Significa que a sociedade se


solidariza com o indivíduo quando o mercado o coloca em dificuldades. Ou seja,
significa que o risco a que qualquer um, em princípio, está sujeito – de não
conseguir prover seu próprio sustento e cair na miséria – deixa de ser problema
meramente individual e passa a constituir uma responsabilidade social, pública.
Há de considerar que algumas características impedem que se tenha real
representação de seguridade social no Brasil, conforme previsão do constituinte.
A ideia de conjunto de variáveis de programas e serviços, como concebida na
Europa, tem pouca correspondência com a congregação de saúde, assistência
e previdência, principalmente, por estarem, individualmente, materializadas em
princípios diferentes. A saúde, mesmo com a garantia de universalidade
apresenta-se totalmente sucateada, portanto não universaliza serviços e nem
congrega a sociedade em torno de sua política; a assistência é política social
focalizada na extrema miserabilidade, escamoteando inclusive a pobreza; e a
previdência é contributiva, portanto, é seguro.
Vianna (2001) acrescenta que seguridade social significa solidariedade a
qualquer sujeito, não importando idade, sexo ou tempo de contribuição,
bastando que o mercado o coloque em dificuldades para que a responsabilidade
social pública se apresente. Considerando, que não há nesta concepção
nenhuma menção de critérios fica premente a incompatibilidade de Previdência
Social com a Seguridade Social brasileira.
Ainda que divergentes os conceitos e abrangências de Seguridade Social,
por cautela, avaliaremos outros elementos, inclusive, o contexto em que se deu
a promulgação da Carta Magna de 1988.
No Brasil o Constituinte insculpiu no texto constitucional, nos artigos 194
ao 204, imperativa ampliação e democratização do acesso às políticas acima
referidas e depositou na legislação a esperança de maior justiça social, bem-
estar e melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.
A Previdência Social passa a compor a Seguridade Social quando há um
consenso, quase generalizado, a respeito do princípio da universalização, ou
seja, do estabelecimento de um sistema amplo e público de seguridade social
(BOSCHETTI, 2006, p.155).
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Quando Boschetti diz “quase generalizado” aponta para a existência de


contradições, presentes nos trabalhos do Congresso Constituinte, relativas ao
que seria o pressuposto de universalização para a saúde, previdência e
assistência e chama atenção ao fato de que o princípio da universalidade não
tinha, na verdade, aceitação necessária à produção do consenso, pelo menos,
enquanto princípio norteador para saúde e previdência.
A Saúde passou a ser destinada a todos, independente de contribuições,
sendo, portanto, uma obrigação do Estado. A assistência Social, mesmo
dispondo de uma política nacional, se tornou direito social dos pobres (idosos) e
pessoas portadoras de deficiência e a Previdência Social manteve o caráter
contributivo, com desconto compulsório aos cofres da União. A universalidade,
nesse caso, significou a passagem do direito derivado do exercício de um
trabalho assalariado para o direito decorrente de uma contribuição efetuada.
Previdência Social, na Constituição Federal de 1988 significa benefício
restrito àqueles/as que podem contribuir, surgindo assim, a figura do contribuinte
individual e do segurado especial, nas quais se enquadram diversas categoriais
de trabalhadores, incluindo os rurais e até mesmo indivíduos não assalariados.
No entanto, somente com advento da Lei nº 8.213/91 o trabalhador rural, homem
ou mulher e demais integrantes do grupo familiar, teve garantido o direito a
aposentadoria, pois, o Decreto nº 83.080/79, que regulamentava a
aposentadoria do trabalhador rural, previa a concessão da aposentadoria para
homens e raramente para mulheres, quando arrimos ou chefes de família.
A Previdência Social, nos termos do artigo 201 da CRFB/88, deve ser
organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, nos termos da lei, persistindo, portanto, a figura do segurado, do seguro
social e da contributividade.
 Cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
 Proteção à maternidade, especialmente à gestante;
 Proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
 Salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados
de baixa renda;
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 Pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou


companheiros e dependentes.
A Constituição Federal de 1988 não prevê um projeto de Seguridade Social
como conjunto de ampla proteção social, apenas, a política de saúde é garantida
como direito de todos com acesso amparado nos princípios da igualdade e da
universalidade no atendimento.
A Assistência Social por sua vez, tendo como regra o princípio da
gratuidade da prestação e a proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência e à velhice, bem como aos deficientes e a reintegração ao mercado
de trabalho daqueles que necessitarem, vem garantindo programas de
subsistência às pessoas impossibilitadas, permanente ou temporariamente.
A Previdência Social, por sua vez, assegura aos seus
beneficiários/contribuintes meios indispensáveis de manutenção, por motivo de
incapacidade, idade avançada, tempo de serviço, desemprego involuntário,
encargos de família, reclusão ou morte, sendo que entre os princípios e diretrizes
da Previdência Social está presente o da universalidade, não significando, para
o Estado, universalidade de atendimento, mas de participação nos planos
previdenciários, mediante contribuição correspondente a uma das alíquotas
determinadas pelo sistema tributário sobre o valor da renda mensal do
trabalhador ou contribuinte.
[...] ela possui natureza de seguro e, como tal, cria um vínculo jurídico
especial entre o Estado e o segurado. Por isso, alguns lhe negam a característica
de universalidade. Isso pode ser uma realidade em países em que o sistema de
previdência é limitado a determinadas categorias profissionais ou econômicas.
Mas não no Brasil. Aqui existe um Regime Geral de Previdência que abrange
todas as categorias profissionais (excetuando os servidores efetivos dos entes
da Federação que possuírem sistema securitário próprio, sendo a filiação
possível até mesmo de forma facultativa para aqueles que não exerçam
atividade laboral). Sendo assim, o sistema de previdência no Brasil é universal.
A universalidade, além do aspecto subjetivo, também possui um viés objetivo e
serve como princípio: a organização das prestações de seguridade deve
procurar, na medida do possível, abranger ao máximo os riscos sociais.
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A Seguridade Social, embora não consintamos, traz em si dificuldades


conceituais complexas. Congregando as três políticas citadas e em prol do
interesse do capital, o Estado, desde sua promulgação aparta a Previdência
Social, apresentando frequentemente cálculos financeiros distorcidos e
manipulados, o que expõe a ausência de inovação da política previdenciária,
então implementada, e o precoce descompasso entre a expectativa diante da
sua instituição e sua materialização.
Assim, quase 20 (vinte) anos após sua instituição, há de reconhecer que a
Previdência Social nunca deixou de ser um seguro moldado com base nos
princípios prussianos de Bismarck.
A Previdência Social, mesmo inserida na Seguridade tem identidade com
o passado, fortalecendo a ideia de que a Carta Magna imprimiu caráter de
universalidade apenas à política de saúde, mantendo a previdência dentro da
lógica neoliberal, refém de um Estado reduzido e de um direito subordinado.
O contexto político e econômico, do período em que se instaurou o
Congresso Constituinte, poderia ter produzido um modelo de Seguridade Social
mais elevado e permeado de cidadania, pois o gasto social federal que em 81
correspondia a 10,04% do PIB reduz-se para 8,90% em 86 e em 90 volta aos
níveis do início da década 10,43%, quando os benefícios assegurados pela
Constituição não existiam, portanto, a questão da pouca universalidade
previdenciária não pode ser sustentada com alegações de dificuldades
financeiras.
Naquele contexto a previdência urbana era “superavitária”, tanto que
passou a suportar o peso financeiro da previdência rural, que não tem receita,
além da renda mensal vitalícia paga a idosos e inválidos – visto que sobravam
recursos criados pela Constituinte. A CUT apresentou documento elaborado pela
Comissão de Previdência e Saúde, que continha uma proposta de Seguridade
Social onde a saúde pedia um orçamento à parte e a Assistência Social não se
apresentava.
Quando o documento caracterizava a seguridade social, parecia claro que
se defendia um sistema amplo de proteção a todos os cidadãos, que cobrisse
tanto os principais riscos da existência como as situações de necessidade e
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dificuldade de subsistência. Mas como articulador de um sistema que deseja, ao


mesmo tempo, proteger os trabalhadores (nesse caso, financiado
majoritariamente por trabalhadores e empregadores) e suprir as necessidades
de toda a população, nesse caso financiado pelo Estado. [...]. A intenção do
documento apresentado era a de manter os direitos que eles já tinham adquirido
na previdência e avançar no estabelecimento de uma proteção social ampla a
todos os cidadãos.
As conquistas dos trabalhadores, em relação à Previdência Social,
inseridas no texto da CRFB/88 resultaram do processo descentralizado, o
quórum de maioria simples e da ausência de um projeto-base, o que possibilitou
um intenso jogo de pressões e contrapressões que incorporaram demandas
corporativas que mantiveram sua natureza híbrida, não rompendo
definitivamente com o conceito de previdência enquanto seguro nem eliminando,
nem mesmo no plano da lei, com as práticas atrasadas nele introjetadas, sendo
institucionalizada uma Previdência Social conservadora.
Considerando que a CRFB/88 incluiu proteção a categorias de
trabalhadores antes não assegurados e a regulamentação de um piso para as
aposentadorias, entendíamos que a Seguridade Social ampliaria constante e
permanentemente os direitos a ela relacionados, ante seu status de reforma, no
entanto, desde sua instituição é alvo de constantes contrarreformas que retiram,
até mesmo, a expectativa de cidadania criada pela Carta Magna.
Os princípios que animaram os setores progressistas da constituinte foram:
ampliação da cobertura para segmentos até então desprotegidos; eliminação
das diferenças de tratamento entre trabalhadores rurais e urbanos;
implementação da gestão descentralizada nas políticas de saúde e assistência;
participação dos setores interessados no processo decisório e no controle da
execução das políticas; definição de mecanismos de financiamento mais
seguros e estáveis; e garantia de um volume suficiente de recursos para a
implementação das políticas contempladas pela proteção social, entre outros
objetivos. No campo da previdência social, esses princípios resultaram
principalmente na criação de um piso de valor correspondente ao do salário
10

mínimo e na eliminação das diferenças entre trabalhadores rurais e urbanos


referentes aos tipos e valores de benefícios concedidos.
Considerando o real conceito de Seguridade Social, sua instituição no
ordenamento jurídico brasileiro, poderia ter albergado outras políticas sociais,
com atenção especial à educação e garantia de renda mínima a todos os
indivíduos em estado de necessidade, ante ao fato de que a renda mínima,
garantida através de programas sociais, instituídos por lei infraconstitucionais
não condizem com os direitos fundamentais e sociais previstos na considerada
Constituição Cidadã.

2 Tendências modernas das reformas da previdência social2

Fonte: sindprevba.org.br

Atualmente, a questão da previdência social brasileira vem sendo


polemizada e discutida por diversos pesquisadores e técnicos da área do
trabalho e das políticas sociais, com o propósito de compreender o significado
das “reformas” que esta política vem sofrendo nas últimas décadas, e suas
consequências para a classe trabalhadora.
Existe uma polêmica em torno de alternativas para a gestão do sistema
previdenciário brasileiro em meio a atual crise econômica (de caráter mundial).

2
Texto adaptado de Milena da Silva Santos.
11

Entendê-la nos remete à compreensão dos fundamentos do papel do Estado e


de sua relação com a sociedade no modo de produção capitalista, e o espaço
econômico e político destinado para a América Latina e o Brasil neste contexto.
Apesar do avanço conseguido com a Constituição Federal de 1988, no
Brasil a implementação da política neoliberal se inicia na década de 1990,
instaurando as chamadas “reformas estruturais” ou “ajustes estruturais” – estes
são termos utilizados em referência às propostas das agências financeiras
internacionais (ou multilaterais) para mudanças nas polí- ticas econômicas,
sociais e fiscais dos países periféricos com o objetivo de superar os
desequilíbrios macroeconômicos, financeiros e produtivos ocorridos em escala
internacional desde os anos 1970. Estas “reformas estruturais” trouxeram
mudanças significativas na gestão e organização das políticas sociais brasileiras
como um todo.
No que diz respeito particularmente à política de seguridade social de cariz
universal, salienta-se o aspecto de que ela passou a ser alvo das propaladas
“reformas”, as quais repercutiram, sobretudo, sobre a política de previdência
social. Estas “reformas” se mostram orientadas para o mercado, num contexto
em que os problemas engendrados no âmbito do Estado brasileiro
(principalmente no aspecto político) são apontados como causas centrais da
profunda crise econômica e social. Assim sendo, devemos analisar as
transformações significativas na base dessa relação economia/política para
compreender os fundamentos das políticas sociais, em particular a
previdenciária, tendo como referencial as influências propagadas pelas agências
multilaterais neste processo.

2.1 As reformas anteriores da previdência social brasileira

A política de previdência social no Brasil sofreu diversas alterações


significativas nas regras de contribuição e acesso aos seus benefícios desde sua
incorporação à Seguridade Social, por meio da Constituição Federal de 1988.
Assim, destacamos que as ações das agências multilaterais influenciam direta
ou indiretamente as reformas que a previdência social brasileira vem sofrendo
12

nos últimos 20 anos. Pois há evidências que as propostas de agências, tais como
Banco Mundial (BM) e Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas em seus
relatórios e documentos sobre a saúde financeira dos países periféricos e
condições das políticas sociais, tenham sido utilizadas como norteadoras de um
processo de enxugamento dos gastos públicos para geração de superávit
primário voltado ao pagamento de parte da dívida externa.
Observa-se que a “reforma da previdência” foi iniciada no governo
Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), por meio da EC 20/1998, salientando
assim um governo de base neoliberal. Contudo, o contexto ideopolítico que
marcou a eleição do presidente Lula (2003-2011) e de sua sucessora Dilma
Roussef (2011-2016) demonstrava, aparentemente, um aspecto de
descontinuidade dessas ações.
Destacamos que o primeiro desses governos foi liderado pelo Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), que, apesar de defender uma linha
“centro-esquerda”, implementou ações de cunho neoliberal, destacando-se as
privatizações de empresas estatais, o início de programas de transferência de
renda com características assistencialistas (Bolsa Escola, Auxílio Gás e Bolsa
Alimentação) e as “reformas” das políticas sociais.
Os dois últimos governos, do Partido dos Trabalhadores (PT), que mesmo
se desenvolvendo em meio a uma postura crítica ao reformismo dos partidos
políticos socialdemocratas, buscou atuar através do “novo desenvolvimentismo”
ou “neodesenvolvimentismo”, com um tipo de política econômica baseada em
meta de crescimento da produção industrial e da infraestrutura, com participação
ativa do Estado para ampliar o consumo. Porém, ambos os governos
reafirmaram o compromisso do Estado brasileiro com o neoliberalismo e as
“reformas estruturais” propostas pelas agências multilaterais citadas. Nos
mandatos de Lula, a principal medida implementada na previdência social se
materializou por meio da EC 40/2003. Já no Governo Dilma destacam-se as
Medidas Provisórias 664/2014 e 676/2015 que ainda vêm sendo debatidas
polemicamente entre os intelectuais da área.
Diante disso, observamos que o processo implícito em todo este novo
dimensionamento apresentado às políticas sociais, principalmente no que se
13

refere à previdência social, é muito mais amplo, havendo a necessidade do


aprofundamento dos estudos relacionados à como as transformações nas
políticas sociais se efetivaram na realidade, abordando ainda os aspectos
fundamentais da intervenção do Estado – por meio da atuação das agências
multilaterais – dentro da lógica de reestruturação do capital no processo de crise
estrutural. Isto pode possibilitar a compreensão de um movimento
contemporâneo que afeta diretamente a condição atual da classe trabalhadora
e a garantia da efetividade de seus direitos.
Nesta perspectiva, é necessário buscar evidenciar os fatores
determinantes das “reformas” na previdência social brasileira, que se operaram
mediante Emendas Constitucionais e Medidas Provisórias presidenciais.
Referindo-se à Emenda Constitucional nº 20, que alterou o Regime Geral
de Previdência Social (RGPS), em 1998; e à Emenda Constitucional nº 40, que
mudou o Regime Próprio da Previdência Social (RPPS) dos servidores públicos,
em 2003, Mota (2007) compara essas reformas da previdência a uma verdadeira
“crônica de uma morte anunciada” e demonstra que elas têm um caráter de
execução pelo Estado brasileiro das principais exigências do Fundo Monetário
Internacional e das orientações do Banco Mundial.
No interior desse desmantelamento da política previdenciária, salienta-se o
aspecto de que a previdência social vem sendo apontada como deficitária, em
crise, fomentadora de privilégios para os funcionários públicos etc. Este discurso
sobre a crise da previdência social brasileira foi responsável pela formação de
uma ideologia que divulgou conceitos e prognósticos sobre a inviabilidade de um
sistema de seguridade social público e universal, tal como o instituído na
Constituição de 1988. O aspecto refere-se ao prognóstico da inviabilidade
financeira e da impossibilidade de manutenção da previdência social pública,
nomeada jornalisticamente de “crise da previdência social”, como principal
argumento mobilizador da adesão dos trabalhadores às reformas da previdência
social no Brasil. Desta discussão, são suprimidas informações sobre a
fragmentação das fontes de financiamento da seguridade social, o uso indevido
dos recursos da previdência no saneamento das contas públicas, a sonegação
das contribuições à previdência e ao superávit primário.
14

2.2 Alguns elementos de análise

Para compreender este processo é necessária uma apreensão teórica do


movimento de transformação contemporânea da previdência social brasileira,
por intermédio das ações neoliberais promovidas pelo Estado, em seu auxílio ao
capital no período de crise, utilizando as influências econômicas e políticas das
agências multilaterais. Para tanto, será necessário analisar algumas categorias
implícitas à problemática estudada, tais como: capital; Estado; crises
econômicas; “questão social”; política social; reestruturação produtiva;
financeirização; neoliberalismo; “reformas estruturais”; agências multilaterais;
dentre outras. Assim sendo, podemos perceber que estas temáticas aparecem
como objeto de debates entre os intelectuais das mais diversas vertentes
teóricas.
De acordo com nossas análises, desde o momento em que as expressões
da “questão social” e a luta da classe trabalhadora por melhores condições de
vida e de trabalho passaram a ser uma ameaça à ordem capitalista estabelecida,
as manifestações da “questão social” se tornaram alvo de intervenção estatal,
minimamente durante a fase concorrencial do capitalismo, e de forma mais
sistemática por meio das políticas sociais em sua fase monopolista. Partimos do
pressuposto de que essa forma de intervenção foi consequência do
desenvolvimento do próprio capitalismo, o qual provocou alterações
significativas na dinâmica da sociedade burguesa, acirrando as contradições de
classes e expandindo as expressões da “questão social”.
Cabe destacar que não apenas a conjuntura de embate sociopolítico entre
as classes sociais fundamentais, como também o movimento do ciclo econômico
capitalista, entre as fases de recessão e expansão, são determinantes para a
forma de enfrentamento das refrações da “questão social”. Em decorrência da
crise econômica de 1929-33, o Estado ampliou sua intervenção na economia por
meio da política socialdemocrata de cunho keynesiano. Dentre as medidas
anticrise implementadas, houve a sistematização das políticas sociais que
estavam se ampliando nos países centrais com o denominado “Estado de Bem-
Estar Social” – que se efetivaram em alguns países da Europa e nos Estados
15

Unidos. Essa estratégia atrelada ao método fordista de produção, no período


após a segunda guerra mundial até finais dos anos 1960, permitiu tanto a
recuperação da crise econômica capitalista, como também um aumento da
produtividade, de forma que aquele período ficou conhecido como os “anos
dourados” do capitalismo. Entretanto, esse período áureo do capitalismo chegou
ao fim no início da década de 1970. A partir de então, o capital junto ao Estado
procuraram desenvolver estratégias para minimizar a crise.
Pode-se identificar que esta crise econômica no capitalismo
contemporâneo também é relacionada ao fim do Estado de Bem-Estar Social.
De acordo com Netto & Braz (2007), a crise de 1970 representou o esgotamento
da onda longa expansiva, fazendo a taxa de lucro declinar rapidamente,
principalmente nos países centrais, mas “[...] nenhum país capitalista conseguiu
manter as taxas do período anterior” (NETTO; BRAZ, 2007, p. 213). Destacam
que dois fatos foram decisivos naquele momento, entre 1971 e 1973: o colapso
do ordenamento financeiro mundial, com a decisão norte-americana de
desvincular o dólar do ouro (rompendo com os acordos de Bretton Woods, que
após a Segunda Guerra Mundial convencionaram o padrão-ouro como lastro
para o comércio internacional e a conversibilidade do dólar em ouro); e o choque
do petróleo, com a alta dos preços determinada pela Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep).
Na mesma perspectiva, Ernest Mandel (1982) admite o aspecto de que a
combinação sem freios do conjunto de variáreis que envolvem a obtenção de
superlucros está relacionada à existência das chamadas ondas longas de
aceleração e desaceleração, as quais são sucessivas em toda a história do
capitalismo.
No entanto, Mészáros (2009) percebe que esta crise é uma expressão
fenomênica de um quadro crítico mais complexo, exprimindo um significado mais
profundo, uma crise estrutural. E após vivenciar a era dos ciclos, o capitalismo
adentra em uma nova fase, inédita, de crise estrutural, marcada por um
continuum depressivo. Diferentemente das crises anteriores, esta se mostra
longeva e duradoura, sistêmica e estrutural.
16

Analisando desta forma, pode-se observar que, antes da crise atual, o


Estado desenvolvia algumas funções durante o período fordista/keynesiano, tais
como: a promoção de uma política expansiva e anticíclica, a articulação de um
aparato produtivo autônomo, a garantia dos serviços públicos, a dotação de
infraestrutura, a realização de alguma redistribuição de renda por meio das
prestações sociais na forma de direitos. Tudo isso estava fundado numa elevada
produtividade e rentabilidade do capital e dava suporte a um período de
crescimento econômico sustentado pelo pleno emprego e pelo alto consumo –
período do chamado Welfare State, conhecido como “Anos Dourados” do
capitalismo (de meados da década de 1940 a finais da década de 1960).
De acordo com Netto (2007), a crise de 1970 evidenciou a crise do
capitalismo democrático na sua acabada configuração: o Estado de Bem-Estar
Social. Notadamente, o exaurimento do Estado de Bem-Estar tem sido
apresentado, pelos representantes do capital, como uma problemática de
natureza administrativa, como ilustração da necessidade de redimensionar
políticas sociais, como fenômeno de caráter financeiro ou tributário, pois “não é
frequente colocar-se de manifesto que a crise do Welfare State explicita o
fracasso do único ordenamento sociopolítico que, na ordem do capital, visou
expressamente compatibilizar a dinâmica da acumulação e da valorização
capitalista com a garantia de direitos políticos e sociais mínimos”. (NETTO, 2007,
p. 66, grifos do autor).
Podemos observar os fundamentos do ordenamento econômico e político
no capitalismo, destacando a concepção de Marx sobre o Estado, o qual defende
que “há uma relação de dependência ontológica do Estado para com a
sociedade civil” (MARX, 2010, p. 20). Oposta à tese vigente do liberalismo, em
que o Estado é resultado de um pacto social; e à concepção hegeliana, em que
o Estado é o princípio superior de ordenamento da sociedade civil. Assim, Marx
afirma que “[...] o Estado tem a sua raiz no antagonismo das classes sociais que
compõem a sociedade civil” (MARX, 2010, p. 20). Então, para ele “o Estado e a
organização da sociedade não são, do ponto de vista político, duas coisas
diferentes. O Estado é o ordenamento da sociedade [...]” (MARX, 2010, p. 20).
Dessa forma, analisando a relação política/econômica, “a afirmação desta
17

dependência do Estado em relação à sociedade civil supõe a concepção de que


o ser social tem um ordenamento cuja matriz é a economia”. (MARX, 2010, p.
19).
Assim sendo, esta “crise do Estado de Bem-Estar Social” está relacionada
a uma expressão de algo muito mais fundamental: ao ciclo econômico do capital
– constituído de fases de ascensão e recessão da taxa de crescimento
econômico. Se o consenso sociopolítico objetivado no Welfare State se
sustentava nos ganhos possíveis com o auge do crescimento econômico
daquela época, com a recessão, a situação se reverte e o consenso se torna um
problema.
Como uma das tentativas de solução da crise global, o capital junto ao
Estado passa a desenvolver um conjunto de ações conhecidas como
Reestruturação do capital, identificadas por Netto (2007) como uma “ofensiva do
capital” que aparece por meio de três pilares, um na produção e dois na
circulação, sendo eles respectivamente: a reestruturação produtiva; a
financeirização ou mundialização do capital e a política neoliberal. A primeira,
que vem trazendo uma série de mudanças na produção, volta-se para a
demanda, flexibiliza as formas de contratação da força de trabalho e os direitos
trabalhistas, aprofunda as formas de extração da mais-valia com a polivalência
da força de trabalho, entre outras consequências. A segunda, que intensifica a
especulação financeira com a geração de capital fictício, aumentando o poder
do capital bancário e financeiro, por meio do gigantesco processo de
concentração de capitais que este proporciona. E a terceira, que implica
diretamente na forma da atuação econômica e política do Estado, que procura
auxiliar o capital com a retração dos gastos estatais na área social, incentivos a
financiamentos para empresas privadas com fundo público, privatizações de
empresas estatais, mediações e propostas políticas e econômicas capitaneadas
por algumas agências multilaterais, a exemplo do Fundo Monetário Internacional
(FMI) e do Banco Mundial (BM).
Para Netto (2007), a proposta neoliberal10 se direciona no sentido da
regressão que aponta para a barbarização em larga escala da vida social. E,
assim. Teixeira (1998) explica que o neoliberalismo se expressou como “uma
18

reação teórica e política ao modelo de desenvolvimento centrado na intervenção


do Estado, que passou a se constituir, desde então, na principal força
estruturadora do processo de acumulação de capital e de desenvolvimento
social” (TEIXEIRA, 1998, p. 195). Os neoliberais consideravam essa intervenção
como a principal causa da crise do sistema capitalista e “[...] passaram a atacar
qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado,
denunciando tal limitação como uma ameaça letal à liberdade econômica e
política” (TEIXEIRA, 1998, p. 195). Assim, a preocupação básica da teoria
neoliberal é revelar o mercado como um mecanismo insuperável para estruturar
e coordenar as decisões de produção e investimentos sociais, como também
mecanismo indispensável para solucionar os problemas de emprego e renda na
sociedade. Assim, para os defensores do neoliberalismo, o mercado é que
determina o espaço legítimo do Estado, se limitando a promover uma estrutura
para o mercado e ofertar serviços que o mercado não pode fornecer.
Com a hegemonia da política neoliberal, a Inglaterra e os EUA, como
países capitalistas centrais, foram os que lideraram sua implementação, nos
governos Thatcher (Inglaterra, 1979) e Reagan (EUA, 1980). Além destes, os
governos Khol (Alemanha, 1982) e Schlutter (Dinamarca, 1983) também se
destacaram. Contudo, o neoliberalismo “[...] não se restringiu a esses países e
quase todos os governos eleitos na Europa ocidental na década de 1980
implementaram programas seguindo suas diretivas”. (BEHRING; BOSCHETTI,
2007, p. 126).
Behring e Boschetti (2007), a partir das análises de Anderson (1995),
destacam que na Inglaterra foram observadas medidas neoliberais na sua forma
mais legítima, pois lá se contraiu a emissão monetária, elevaram-se as taxas de
juros, reduziram-se os impostos sobre altos rendimentos, aboliu-se o controle
sobre os fluxos financeiros, criaram-se níveis de desemprego maciço,
enfraqueceram-se as greves, aprovaram-se legislações antissindicais,
realizaram-se cortes nos gastos sociais e instituiu-se um amplo programa de
privatização. Com relação aos EUA, sua política neoliberal priorizou a
competição militar com a União Soviética, objetivando a “quebra” da economia
soviética e reindustrializar a América. Dessa forma reduziu impostos em favor
19

dos ricos, elevou as taxas de juros, enfraqueceu a única greve de trabalhadores


em sua gestão, eliminou os vários tipos de regulamentação do mercado por parte
do Estado, restabeleceu o dólar como moeda forte e de referência internacional
e criou déficit público ao entrar na corrida armamentista.
A partir de meados dos anos 1980, o ajuste neoliberal também atingiu os
países periféricos. Assim, na América Latina os efeitos da crise e também o
crescimento da dívida externa levaram à implementação de reformas estruturais
“recomendadas” pelas agências multilaterais, por meio do Consenso de
Washington, que foi um encontro convocado pelo Institute for Internacional
Economics na capital dos Estados Unidos, em 1989, com a participação de
funcionários do governo norte-americano e dos organismos financeiros
internacionais – Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Banco
Interamericano de Desenvolvimento − e especialistas em assuntos latino-
americanos. O objetivo desse encontro foi proceder uma avaliação das reformas
econômicas empreendidas nesses países, reafirmando a proposta neoliberal. A
partir desse encontro FMI e o Banco Mundial passaram a orientar as políticas
econômicas adotadas pelos Estados latino-americanos mediante a imposição da
adoção de programas de estabilização e de ajuste estrutural.
Partindo desta compreensão, destacamos as análises de Mandel (1982)
acerca do período contemporâneo do capitalismo, o qual considera o processo
de “supercapitalização” como ponto culminante da hipertrofia dos serviços no
chamado “capitalismo tardio”. Pois opera por meio da realocação de uma massa
de capital sem possibilidade de ser investido e revalorizado no setor produtivo,
devido à queda da taxa de lucro. Para Mandel, a saída possível para este capital
é viabilizar o lucro médio nas “atividades intermediárias”, entendidas como
atividades de serviços. E nisto o Estado busca resolver as dificuldades de
valorização do capital, ao menos em parte, “[...] proporcionando oportunidades
adicionais, numa escala sem precedentes, para investimentos ‘lucrativos’ deste
capital [...]”. (MANDEL, 1982, p. 340).
Isto se desenvolve em conjunção ao processo de financeirização que, nos
últimos trinta anos, fez com que as finanças passassem a constituir o “sistema
nervoso” do capitalismo. Por intermédio da financeirização foi possível ao capital
20

aumentar o poder dos países centrais em detrimento dos periféricos, pois, com
a dívida externa desses países, propuseram-se “ajustes” em suas economias
por meio das “reformas” recomendadas e monitoradas pelas agências
internacionais – que representam os interesses da “oligarquia das finanças”.
Observa-se que, nos últimos trinta anos, os países dependentes e periféricos
tornaram-se exportadores de capital para os países centrais, dando forma ao
processo de “expropriação contemporânea”, que rapina o fundo público
destinado às políticas sociais.
Estas “reformas” acabaram sendo aceitas em quase todos os países como
condicionalidades impostas para a concessão de empréstimos aos países
periféricos – centram-se na desregulamentação dos mercados, na abertura
comercial e financeira, na privatização do setor público e na redução do Estado
na área social. Além disso, o projeto neoliberal propôs a liberalização comercial
e financeira, que ao contrário das ações de protecionismo nos países centrais,
se reduz à implantação de políticas macroeconômicas, com o objetivo de
restabelecer a balança de pagamentos (pagamento de dívida externa e
importações) e controlar a inflação com medidas restritivas.
Observa-se que, junto a todas as tendências destacadas, há a expansão
de programas de transferência de renda. De acordo com Behring & Boschetti
(2007), essa modalidade de política social se propagou, principalmente a partir
de 1970, na Dinamarca, Reino Unido, Finlândia, Alemanha, Holanda, Áustria,
Bélgica, Irlanda, Suécia, Luxemburgo, França, Espanha, Portugal e Itália.
No que se refere particularmente ao Brasil, salientamos o fato de que este
país conseguiu pôr em prática muitas das propostas neoliberais, a exemplo dos
programas de combate à pobreza, viabilizados por meio dos programas de
transferência de renda, como o Bolsa Família. Além desses programas, houve a
implementação de diversas “reformas”, como a da previdência social. O núcleo
central dessas “reformas” prioriza a (re) introdução de políticas liberalizantes,
privatistas e de mercado, acompanhadas de mudanças na estrutura institucional
organizativa e de atuação do Estado.
No que diz respeito particularmente às “reformas” vigentes no âmbito da
previdência social brasileira, salientamos o aspecto que elas se verificaram,
21

sobretudo no primeiro mandato do presidente FHC (1995-1998), sendo


prosseguidas ao longo da gestão do presidente Lula (2003-2006). Nessa
perspectiva, têm destaque as discussões e propostas das duas reformas
aprovadas nas gestões desses governos, as quais foram a EC 20, que alterou o
Regime Geral de Previdência Social (RGPS), nos anos 1990; e a EC 40, que
mudou o Regime Próprio da Previdência Social (RPPS) dos servidores públicos,
em 2003. De maneira geral, essas duas reformas revelaram que estes governos
conseguiram transformar os princípios que determinavam a previdência social
como política de proteção social, transformando-a numa modalidade de seguro
social. Essa reversão permitiu que as necessidades do grande capital
prevalecessem sobre as dos trabalhadores.
No entanto, essa reforma teve continuidade através de outras Emendas
Constitucionais, a exemplo das 41/2003 e 47/2005, a primeira que complementa
em detalhes a EC 20/1998, voltando-se para a especificação do tempo de
contribuição para a concessão de aposentadorias para determinados
cargos/função do contribuinte; já a segunda, legisla sobre a previdência de
servidores públicos, acrescentando itens às emendas anteriores. De maneira
geral, elas legislam sobre as regras de transição, o teto e o subteto salarial, a
contribuição de inativos portadores de deficiência ou doença incapacitante, a
paridade dos reajustes dos ativos e inativos, os novos mecanismos de controle
e o senso previdenciário quinquenal. Mas, identifica-se como principal ponto
dessas emendas a abertura de um largo espaço para a implementação legal da
Previdência Complementar Privada, tanto para os trabalhadores da rede privada
como para os servidores públicos, aumentando assim a mercantilização desta
política social.
Já no governo Dilma Rousseff, podemos também citar aqui as Medidas
Provisórias 664/2014 e 676/2015. A primeira tem como objetivo realizar ajustes
necessários nos benefícios da pensão por morte e auxílio-doença para Regime
dos Servidores Públicos Civis da União. Já a segunda trata de mudanças no
cálculo para aposentadoria por tempo de contribuição, podendo, a depender do
caso, não ser aplicado o Fator Previdenciário.
22

Estas medidas são justificadas pela divulgação de várias pesquisas, dentre


elas as relacionadas ao envelhecimento populacional brasileiro (aumento da
expectativa de vida). Pois, “Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) mostram que a população idosa, em 1992, era de
aproximadamente 11,5 milhões, 16,2 milhões em 2002 e alcançou 24,5 milhões
em 2012 [...]. Essa evolução mostra um crescimento de mais de 113% em vinte
anos” (SANTOS; BARBOSA, p. 04, 2014). O envelhecimento é reflexo do mais
baixo crescimento populacional aliado a menores taxas de natalidade e
fecundidade. Outras pesquisas se referem ao aumento da população idosa
economicamente ativa, a exemplo:

Em relação à população economicamente ativa, verifica-se para


a PEA (População Economicamente Ativa) total crescimento de 24,1%,
no período 1992-2002, e 14,1%, no período 2002-2012, ou seja, a PEA
total cresceu, mas esse crescimento se deu a uma taxa menor do que
a verificada para a PEA idosa que nos períodos correspondentes
cresceu 23,2% e 32,8%. (SANTOS; BARBOSA, p. 05, 2014).

Já com relação à diminuição da arrecadação previdenciária devido ao


aumento da taxa de desemprego e do trabalho informal, segundo pesquisas
realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o nível de
desemprego tem aumentado nos últimos anos, sendo em 2015 mais latente.
Pode-se destacar a pesquisa divulgada em agosto de 2015, o desemprego
cresceu de 4,9% em jul./2014, para 7,6% em ago./2015. (IBGE, 2015).
Diante da divulgação de tantos dados de “inconsistência” e “inviabilidade”
de permanência das regras atuais da previdência social, devido às mudanças do
cenário populacional brasileiro, ainda no governo atual de Michel Temer (2016),
foi publicizada a mais nova Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de nº
287, a qual – além de alterar diversos artigos ainda inclui novos incisos sobre
formas de concessão de benefícios – propõe fixar a idade mínima para
aposentadoria de homens e mulheres em 65 anos, para os trabalhadores tanto
do setor privado, quanto público; e tendo direito a aposentadoria integral o
trabalhador que contribuir por no mínimo 49 anos. Tudo isto com a justificativa
de que o governo brasileiro poderá deixar de gastar em torno de R$ 740 bilhões,
23

em 10 anos, quantia que poderá servir ao grande capital como parte do


pagamento da dívida externa.

3. Normas gerais de previdência da lei nº. 8.213/91.


3.1 A previdência social como subsistema da seguridade social

A Constituição brasileira instituiu um sistema de proteção social


denominado seguridade social, o qual, nos termos do art. 194, compreende um
conjunto de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas
a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Embora seja um sistema, os três direitos integrantes apresentam características
específicas.
Como já mencionado, a previdência social é dirigida aos trabalhadores e
seus dependentes e tem por objetivo garantir recursos nas situações em que o
trabalhador está incapacitado, efetiva ou presumidamente, para o exercício de
suas atividades laborais.
Assim, o subsistema previdenciário substitui os rendimentos do trabalho,
tendo como objetivo a manutenção do nível de vida do trabalhador. Portanto,
tem como pressuposto o exercício de atividade remunerada e, diferente dos
outros dois subsistemas componentes da seguridade social, exige a
contraprestação direta do segurado para que ele e/ou seus dependentes façam
jus às prestações previdenciárias.
A previdência brasileira divide-se em proteção obrigatória e proteção
complementar. A obrigatória protege até um determinado limite e subdivide-se
em Regime Geral de Previdência Social (dirigido a todos os trabalhadores exceto
os servidores públicos) e Regime Próprios dos Servidores Públicos (dirigidos aos
servidores públicos titulares de cargos efetivos). O regime financeiro, de ambos
os regimes da previdência obrigatória, é de repartição simples.
O limite máximo de proteção do Regime Geral de Previdência Social para
o ano de 2016 é de R$ 5.189,82. Em relação aos Regimes dos Servidores, até
a Emenda à Constituição nº 41/2003, os benefícios por eles pagos
correspondiam à última remuneração integral do servidor quando em atividade.
24

A partir de então, os entes federativos podem adotar o mesmo teto de proteção


do Regime Geral de Previdência Social, desde que criem previdência
complementar aos seus servidores. Isso já ocorreu, por exemplo, no âmbito da
União e em alguns Estados, como o de São Paulo.
Os Regimes dos Servidores Públicos são criados pelos respectivos entes
federativos para proteger seus servidores titulares de cargos efetivos, nos
termos do art. 40 da Constituição, ao passo que o Regime Geral é de
responsabilidade da União. Registre-se que o Brasil é uma república federativa,
a qual possui como entes federativos a União, os Estados (26), o Distrito Federal
(Brasília) e os Municípios (mais de 5.500).
Dos referidos entes federativos, a União, todos os Estados, o Distrito
Federal e aproximadamente 40% dos Municípios instituíram Regimes Próprios.
Os servidores dos 60% dos Municípios que não instituíram regimes de
previdência estão vinculados ao Regime Geral.
Assim, o Regime Geral de Previdência Social inclui todos os trabalhadores,
exceto os servidores públicos que estão vinculados à proteção previdenciária
criada pelo respectivo ente federativo. Os servidores militares, tanto da União,
quanto dos Estados, também não estão incluídos no Regime Geral de
Previdência Social. A eles foi instituída uma proteção social diversa dos demais
servidores públicos.
A previdência complementar visa proteger os trabalhadores que recebem
acima do teto de proteção da previdência obrigatória. Entretanto, ela é
facultativa.

3.1.2 A proteção concedida pelo Regime Geral de Previdência Social à


incapacidade laboral

Como referido acima, a previdência social brasileira é obrigatória para


aqueles que exercem atividade remunerada, estando os trabalhadores
vinculados ao Regime Geral ou, nos casos dos servidores públicos titulares de
cargos efetivos, aos Regimes Próprios.
25

3.1.3 O Regime Geral de Previdência Social


As regras constitucionais aplicáveis ao Regime Geral encontram-se no art.
201, que inclui todos trabalhadores, exceto os servidores públicos protegidos
pelos Regimes dos Servidores, conforme mencionado acima, e os militares, para
os quais há proteção específica estabelecida no ordenamento
infraconstitucional.
O art. 201, assim determina:
A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados
de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou
companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.
As Leis 8.212 e 8.213, ambas de 1991, estabelecem as normas aplicáveis
ao Regime Geral de Previdência Social, respectivamente, ao custeio e aos
benefícios.
A responsabilidade pelo Regime Geral da Previdência Social, conforme
mencionado acima, é da União, a qual criou uma autarquia federal (Instituto
Nacional do Seguro Social – INSS) para administrar os benefícios. Já as
contribuições previdenciárias são arrecadadas pela Receita Federal do Brasil.
Inicialmente, o INSS administrava os benefícios e arrecadava as contribuições.
Entretanto, com a edição da Lei 11.457/2007 a Receita Federal passou a
arrecadar e fiscalizar as contribuições.
Conforme já referido, todos os trabalhadores são protegidos pelo Regime
Geral de Previdência Social brasileiro, exceto os servidores públicos titulares de
cargos efetivos dos entes federativos que instituíram proteção previdenciária e
os militares.
26

Com isso, o Regime Geral abrange todos os trabalhadores da iniciativa


privada (com vínculo empregatício, empregados domésticos, trabalhadores
avulsos, trabalhadores que exercem suas atividades por conta própria,
servidores públicos que não sejam titulares de cargos efetivos - cargos em
comissão, temporários, etc) e os servidores titulares de cargos efetivos dos entes
federativos que não instituíram Regimes Próprios.
A legislação brasileira denomina os trabalhadores como “segurados
obrigatórios”, os quais estão subdivididos em cinco espécies: empregados,
empregados domésticos, trabalhadores avulsos, contribuintes individuais (como
por exemplo, os trabalhadores autônomos e os empresários que exercem
atividade na empresa) e segurados especiais (pequenos agricultores e
pescadores artesanais que exercem suas atividades em regime de economia
familiar).
Portanto, todos aqueles que exercem atividade remunerada são incluídos
em uma das espécies mencionadas, exceto, conforme já mencionado os
servidores civis titulares de cargos efetivos e os militares.
Entretanto, embora todas as espécies se refiram a segurados obrigatórios,
a legislação estabelece, em algumas situações, obrigações e prestações
diferentes. Exemplo disso são as alíquotas das contribuições devidas pelos
segurados, pois enquanto aos empregados, aos domésticos e aos avulsos
aplicam-se 8, 9 ou 11% sobre a remuneração, aos contribuintes individuais
aplica-se 20%, podendo ser de 5 ou 11%, em algumas situações. Já a do
segurado especial é de 2,1% sobre o resultado da comercialização. Portanto,
neste último caso, além da alíquota ser diversa, a base de cálculo também o é.
No que tange à proteção, também o sistema apresenta algumas diferenças.
Considerando o objeto do presente trabalho, por exemplo, nem todas as
espécies de segurados têm acesso ao auxílio-acidente. Em relação às outras
duas prestações devidas em razão da incapacidade, todos os segurados têm
direito ao auxílio-doença e à aposentadoria por invalidez. Entretanto, há algumas
diferenças, como, por exemplo, no valor da prestação e na data do início do
benefício.
27

Além dos segurados obrigatórios (trabalhadores), a legislação brasileira


admite que aqueles que não exerçam atividade remunerada possam contribuir
para a previdência social e passem a receber a proteção correspondente, na
condição de segurados facultativos. A legislação brasileira não exige qualquer
pré-requisito para o acesso na condição de segurado facultativo, exceto que
tenha mais de 16 anos e contribua para o Regime Geral de Previdência Social.
A legislação também não faz qualquer restrição ao acesso a benefícios,
concedendo aos segurados facultativos os mesmos direitos concedidos aos
contribuintes individuais (segurados obrigatórios).
Feitas as considerações acima, na sequência será abordado o objeto do
presente trabalho: a proteção concedida pelo Regime Geral de Previdência
Social à incapacidade laboral.

3.1.4 A proteção concedida à incapacidade pelo Regime Geral de


Previdência Social
A Constituição Federal, ao estabelecer as regras estruturais do sistema
previdenciário, impôs que ele “atenderá, nos termos da lei,” (art. 201, caput) “a
cobertura dos eventos de doenças, invalidez, (...)” – inciso I, entre outros.
Seguindo as disposições constitucionais, a lei que instituiu o Regime Geral
de Previdência Social (Lei 8.213/91) preceitua que tais contingências (doença e
invalidez) estariam protegidas por três benefícios, que são: auxílio-doença,
aposentadoria por invalidez e auxílio-acidente.
Para definir o âmbito de incidência de cada um dos referidos benefícios, o
legislador se vale basicamente de duas variantes: o grau de incapacidade (total
ou parcial) e o tempo da incapacidade (definitiva ou temporária).
É conjugando esses dois elementos (incapacidade total ou parcial –
incapacidade definitiva ou temporária) que o legislador definiu cada um dos
benefícios e, em consequência, apontou qual deles é o devido para tutelar o
segurado: incapacidade total e definitiva = aposentadoria por invalidez;
incapacidade total e temporária = auxílio-doença; incapacidade parcial e
definitiva = auxílio-acidente.
28

Ressalta-se que a variante considerada na definição dos citados


benefícios é a incapacidade laboral e não a doença. Isso se dá porque o sistema
não protege a doença em si, mas a incapacidade, ou seja, a contingência social
coberta pelo sistema previdenciário é a “incapacidade laboral”. A contingência
“doença” também tem proteção, mas não do subsistema previdenciário, e sim no
subsistema de saúde.
Essa distinção é relevante, pois é a partir daí (existência da incapacidade
e não da mera doença) que será possível verificar se a proteção previdenciária
será ou não devida. Isso porque se a incapacidade (e não a doença) for
preexistente, não será devida proteção.
Nesse sentido, registre-se que não será devida a proteção previdenciária
quando o segurado se filiar ao sistema já incapacitado, salvo se a incapacidade
resultar do agravamento ou progressão da lesão (não faria sentido, pela lógica
do sistema previdenciário, que alguém integre a relação quando já concretizado
o sinistro).
A comprovação da incapacidade fica a cargo do INSS. Assim, é a própria
Autarquia quem realiza a perícia médica (quando é feita por outras entidades
conveniadas, o INSS procede a homologação). O segurado submete-se a citada
perícia, não apenas para a obtenção dos benefícios por incapacidade, como
também para a sua manutenção. Além disso, ele está obrigado a participar do
processo de reabilitação profissional e de tratamentos médicos gratuitos, exceto
transfusão de sangue e intervenção cirúrgica (artigo 101, Lei 8.213/91).

3.1.5 - Auxílio-doença
A incapacidade total e temporária é protegida pelo benefício denominado
“auxílio-doença”.
A citada denominação, ante ao que foi observado acima, é inadequada,
porque não se protege a doença, mas a incapacidade dela decorrente. Além
disso, a incapacidade pode decorrer de acidente e não apenas de doença. A
denominação, certamente, é fruto da redação dada pelo art. 201, I, da
Constituição, que utilizou o termo “doença” e não incapacidade.
29

A referida inadequação também foi destacada por Fábio Zambitte Ibrahim,


para ele “o risco coberto é a incapacidade para o trabalho, oriunda de doenças
ou mesmo acidentes (o nome da prestação induz a erro)”. Ainda, segundo o
autor, “a doença, por si só, não garante o benefício – o evento deflagrador é a
incapacidade. Pode um segurado ter uma doença, como miopia, mas nem por
isso ser incapacitado”.
A denominação é a mesma, tanto se a causa for uma doença ou um
acidente, quer do trabalho, quer do exercício de atividades não relacionadas ao
trabalho, ou mesmo de doenças profissional ou do trabalho.
A Lei de Benefícios (Lei 8.213/91) trata do auxílio-doença em seus artigos
59 a 62. Será devido ao segurado que “ficar incapacitado para o seu trabalho ou
para a sua atividade habitual” (art. 59) de forma temporária, por mais de 15 dias.
São necessários o preenchimento de três requisitos para a concessão do
benefício: (1) carência: a regra geral é que o benefício só será devido ao
segurado que tenha mais de 12 contribuições mensais (art. 25, I) ou 4
contribuições (art. 24, parágrafo único) em caso de reingresso do trabalhador
que tenha perdido sua condição de segurado. Excepcionalmente, dispensa-se o
requisito carência para as hipóteses de acidente de qualquer natureza, doença
profissional ou do trabalho e doenças graves listadas pelo Ministério da Saúde e
da Previdência (art. 26, inciso II); (2) incapacidade para o trabalho habitual por
mais de 15 dias: só faz jus ao benefício o segurado que se encontre incapacitado
por mais de quinze dias. Incapacidades menores a este período não são
tuteladas pelo sistema; (3) condição de segurado: tendo em vista que o sistema
previdenciário tem justamente o objetivo de substituir os rendimentos do
segurado incapacitado, não faz sentido o deferimento do benefício àquele que já
não mais exerce atividade laboral, tampouco se encontra dentro do período de
extensão de proteção deferido pelo sistema (período de graça – art. 15 da Lei
8.213/91).
No que diz respeito à definição da incapacidade total para fins de obtenção
do auxílio-doença, destaca-se que o legislador define e distingue expressamente
a incapacidade autorizadora do auxílio-doença daquela da aposentadoria por
invalidez. Assim, o auxílio-doença será devido àquele “que ficar incapacitado
30

para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual” – art. 59 (leia-se


incapacidade apenas para a atividade que exerce no momento); ao passo que a
aposentadoria por invalidez será devida ao segurado que “for considerado
incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe
garanta a subsistência” – art. 42 (leia-se incapacidade para qualquer atividade
que lhe garanta subsistência). Justamente por isso que, caso o prognóstico seja
de recuperação para a atividade habitual ou mesmo para outra atividade, o
benefício a ser concedido é o auxílio-doença e não a aposentadoria por invalidez.
Ainda, no que tange à definição de incapacidade, registre-se que, pela
própria definição trazida pelo legislador, sua conceituação deve ser jurídica e
não puramente biológica, pois está atrelada sempre à possibilidade ou não de
reabilitação para outras atividades laborais. É justamente por isso que a
jurisprudência tem ampliado a definição, agregando elementos de ordem social
e econômica na definição de invalidez, como por exemplo, idade, grau de
instrução, habilidade profissional, mercado de trabalho etc.
Todos os segurados fazem jus ao auxílio-doença, independente da
categoria em que esteja enquadrado. Inclusive o segurado facultativo.
O termo inicial do benefício para os segurados empregados é o 16º (décimo
sexto) dia do afastamento da atividade. Os primeiros quinze dias consecutivos
ao do afastamento são de responsabilidade da empresa. Para os demais
segurados (nesse rol incluem-se também os empregados domésticos), o termo
inicial é estabelecido a partir do início da incapacidade. No entanto, para que o
benefício seja fixado a partir do 16º dia (segurado empregado) ou do início da
incapacidade (demais segurados), o requerimento deve ser feito em até 30
(trinta) dias do afastamento. Caso feito após, o termo inicial será o da data de
entrada do requerimento.
O termo final do benefício é fixado: no desaparecimento da incapacidade;
quando da consolidação da lesão (que dará ensejo à transformação do benefício
em aposentadoria por invalidez ou auxílio-acidente); ou com a morte do
segurado (que ensejará a pensão por morte, na hipótese de existência de
dependentes).
31

O coeficiente de cálculo do benefício corresponde a 91% (noventa e um


por cento) do salário de benefício, o que, para alguns tipos de segurado
representa um valor superior àquele recebido se estivesse trabalhando. Isso
porque, se estivesse trabalhando recolheria contribuição em alíquota superior a
9%.
Além disso, para se apurar o valor do salário de benefício, os salários de
contribuição são todos corrigidos, no mínimo, pela inflação. Assim, num período
de recessão em que a remuneração do trabalho não é corrigida, o benefício
previdenciário acaba sendo mais vantajoso do que a remuneração do trabalho,
violando, com isso, a base da ordem social, preceituada no art. 193 da
Constituição – primado do trabalho.

3.1.6 Aposentadoria por Invalidez


A aposentadoria por invalidez está regulamentada nos arts. 42 a 47 da Lei
de Benefícios (Lei 8.213/91).
Segundo Russomano, a “aposentadoria por invalidez é o benefício
decorrente da incapacidade do segurado para o trabalho, sem perspectiva de
reabilitação para o exercício de atividade capaz de lhe assegurar a subsistência”.
Faz jus ao referido benefício àquele que for considerado incapaz “para o
exercício de atividade que lhe garanta a subsistência”.
Tendo em vista que muitas das características abordadas, quando da
análise do auxílio-doença, também se aplicam à aposentadoria por invalidez,
apenas cita-se (de forma sucinta) aquilo que já foi mencionado no item anterior,
deixando para uma abordagem específica apenas o que for peculiar à
aposentadoria por invalidez.
Nesse sentido, no que tange aos requisitos para a concessão da
aposentadoria por invalidez, aplicam-se as mesmas regras de carência
exigências para o auxílio-doença, acima mencionadas e, também, é exigida a
qualidade de segurado, quando do início de incapacidade, não sendo concedido
o benefício na hipótese de a pessoa filiar-se ao sistema ou a ele retornar quando
já incapacitado para o trabalho.
32

Todas as espécies de segurados fazem jus à aposentadoria por invalidez,


uma vez preenchidos os demais requisitos.
Quanto à incapacidade, para a aposentadoria por invalidez, ela deve ser
total e permanente (insusceptível de reabilitação, nos termos do art. 42 da Lei
8.213/91). Portanto, diferente do auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez
exige a perda da capacidade laboral para toda e qualquer atividade profissional,
exigindo um prognóstico desfavorável à recuperação.
Quanto ao termo inicial do benefício, como regra, é o dia imediato a
cessação do auxílio-doença, já que normalmente a aposentadoria por invalidez
é precedida do auxílio-doença. Entretanto, na hipótese de a perícia inicial
concluir pela incapacidade total e definitiva para o trabalho, aplicam-se as
mesmas regras do auxílio-doença (para o segurado empregado, a partir do 16ª
dia do afastamento, para os demais a contar do início da incapacidade, salvo se
requerida após o 30º dia do afastamento da atividade). No que tange ao termo
final, é a morte do segurado ou a recuperação da capacidade.
A aposentadoria por invalidez, assim como o auxílio-doença, não pode ser
cumulada com qualquer outra aposentadoria ou auxílio-doença (inciso I e II, art.
124, da Lei de Benefícios), salário-maternidade, auxílio-reclusão ou seguro-
desemprego.
A renda mensal da aposentadoria por invalidez corresponde a 100% do
salário de benefício, o que corresponde ao benefício mais vantajoso do sistema
previdenciário, salvo o salário-maternidade. Isso porque à aposentadoria por
tempo de contribuição aplica-se o fator previdenciário, o que acaba reduzindo o
valor a ser recebido pelo segurado. Também é mais vantajosa que a
aposentadoria por idade, pois o percentual nela aplicado é de 70% do salário de
benefício, mais 1% a cada ano de contribuição. Assim, apenas na hipótese de o
segurado ter contribuído por 30 anos, ele fará jus a 100%.
Em vista disso, e da ausência de qualquer restrição em relação aos
segurados facultativos, a legislação referente à aposentadoria por invalidez
acaba estimulando comportamentos que não encontram fundamento de validade
no ordenamento jurídico.
33

Por fim, registra-se que é acrescido, ao valor da aposentadoria, 25% nas


situações em que o segurado necessitar de assistência permanente de outra
pessoa (artigo 45, da Lei de Benefícios). O valor do benefício fixado em razão
do acréscimo não fica limitado ao teto máximo dos benefícios da previdência.

3.1.7Auxílio-acidente
O auxílio-acidente é benefício previdenciário previsto no artigo 86, da Lei
8.213/91 e é deferido ao segurado que, em razão de acidente de qualquer
natureza, apresente sequelas que reduzam sua capacidade para o trabalho que
habitualmente exercia. Trata-se de perda ou redução na capacidade (seja ela
qualitativa ou quantitativa) sem levar à incapacidade permanente para todo e
qualquer trabalho (pois isso autorizaria a concessão da aposentadoria por
invalidez).
Até a Lei 9.032/95, o auxílio-acidente era genuinamente acidentário, pois
só fariam jus ao benefício os segurados que sofressem “acidente do trabalho”.
Com a Lei 9.032/95 a proteção foi ampliada, admitindo-se seu deferimento para
“acidente de qualquer natureza”, ou seja, ainda que não guarde relação com a
atividade laboral, qualquer acidente que cause a incapacidade parcial e
permanente para o trabalho pode ensejar a concessão do benefício.
Tendo em vista que o sistema previdenciário protege a incapacidade
laboral em si e não a doença, só se falará na concessão do auxílio-acidente
quando houver danos funcionais que repercutam na capacidade laborativa.
Ao contrário dos dois benefícios anteriores, o auxílio-acidente possui
natureza indenizatória e não substitutiva da remuneração do trabalho.
Como observam Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari
“não há por que confundi-lo com o auxílio-doença: este somente é devido
enquanto o segurado se encontra incapaz, temporariamente, para o trabalho; o
auxílio-acidente, por seu turno, é devido após a consolidação das lesões ou
perturbações funcionais que foi vítima o acidentado, ou seja, após a alta médica,
não sendo percebido juntamente com o auxílio-doença, mas somente após a
cessação deste último – Lei do RGPS, art. 86, §2º)
34

São requisitos para a obtenção do auxílio-acidente: a condição de segurado


e a incapacidade parcial e definitiva para a atividade habitual.
Ao contrário do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, o
auxílioa-cidente não possui carência (art. 26, II, da Lei 8.213/91).
Nos termos do artigo 18, §1º, da Lei 8.213/91, fazem jus ao auxílio-acidente
apenas as seguintes categorias de segurados: empregado (urbano e rural),
inclusive o doméstico, trabalhador avulso e o segurado especial11. Assim, ficam
excluídos o contribuinte individual e o segurado facultativo.
A renda mensal do benefício corresponde a 50% (cinquenta por cento) do
salário de benefício.
O termo inicial do benefício é a data em que ficar constatada a consolidação
da lesão decorrente de acidente de qualquer natureza que, nos casos de
concessão anterior do auxílio-doença, será a partir do dia seguinte ao da
cessação do citado benefício.
O termo final do auxílio-acidente é a data do óbito ou do início de
recebimento de qualquer aposentadoria.

3.1.8 Natureza acidentária e/ou natureza previdenciária


Os benefícios referidos nos itens anteriores (auxílio-doença, aposentadoria
por invalidez e auxílio-doença) podem apresentar natureza distinta, dependendo
da origem do infortúnio podem ser previdenciário ou acidentário.
Para que ostente a natureza acidentária, o infortúnio deve estar
caracterizado dentro das hipóteses dos denominados “acidentes do trabalho”,
conforme definição dada pelos artigos 19 (acidente típico), 20 (doença
profissional/doença típica – inciso I e doença do trabalho/atípica – inciso II) e 21
(definição por extensão), da Lei 8.213/91. Não estando dentro dessas hipóteses,
o benefício possui natureza previdenciária.
Até a Lei 9.032/97, a diferenciação entre benefícios acidentários e
previdenciários era importante, uma vez que aqueles eram mais vantajosos que
os previdenciários. Exemplo disso era o salário de benefício e as alíquotas
aplicáveis ao auxílio-doença e à aposentadoria por invalidez.
35

Com as Leis 9.032/95 e 9.528/97 as referidas diferenças foram eliminadas.


Porém, ainda existem algumas distinções entre os benefícios acidentários e os
previdenciários, as quais têm natureza mais trabalhista do que previdenciária:
estabilidade no emprego (art. 118, da Lei 8.213/91); competência jurisdicional
(art. 109, inciso I, “parte final”, da Constituição Federal); recolhimento do FGTS
(art. 15, §5º, da Lei nº 8.036/90). Apenas uma diferença tem natureza
previdenciária, que é a ausência de carência para a obtenção de aposentadoria
por invalidez e auxílio-doença.
Entretanto, não se pode atribuir apenas natureza acidentária a referida
dispensa de carência. Isso porque, além da hipótese da dispensa, em razão de
acidente do trabalho e das doenças profissionais e do trabalho (equiparadas a
acidente do trabalho), também há dispensa na hipótese de acidente de qualquer
natureza, bem como das doenças previstas na lista interministerial, mencionada
na parte final do inciso II do art. 26 da Lei 8.213/91. Portanto, não se pode utilizar
a dispensa de carência para justificar a diferença de tratamento entre benefícios
“acidentários” e “previdenciários”.

4. Beneficiários (segurados e dependentes)

Fonte: 115lqk3vlebn6gizjawsxs1l-wpengine.netdna-ssl.com
36

Todo trabalhador que contribui mensalmente para a Previdência Social é


chamado de segurado e tem direito aos benefícios e serviços oferecidos pelo
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), como a aposentadoria, a pensão por
morte, o salário-maternidade, o auxílio-doença, entre outros.
Há seis modalidades de segurados:
1. Na categoria Empregados estão todos os trabalhadores que têm
carteira assinada e que prestam serviço constante na empresa e recebem
salário.
2. Empregados Domésticos: são os trabalhadores com carteira
assinada e prestam seu serviço na casa de uma pessoa ou família, que não
desenvolvem atividade lucrativa. Nessa categoria estão os domésticos,
governantas, jardineiro, caseiro, motoristas, mordomos, etc.
3. Trabalhadores Avulsos: são aqueles que prestam serviços a
diversas empresas, sem vínculo de emprego, e que são contratados por
sindicatos e órgãos gestores de mão de obra, como estivador, amarrador
de embarcações, ensacador de cacau, etc.
4. Contribuintes Individuais: as pessoas que trabalham por conta
própria como empresário, autônomo, comerciante ambulante, feirante, etc.
e que não têm vínculo de emprego.
5. Segurados Especiais: são os trabalhadores rurais e os pescadores
artesanais que produzem individualmente ou em regime de economia
familiar, e não utilizam empregados para essas atividades.
6. Segurados Facultativos: todos aqueles que, maiores de 16 anos,
não exercem atividade remunerada, mas decidem contribuir para a
Previdência Social, como as donas-de-casa, estudantes, síndicos
de condomínios não remunerados, etc.
Como se tornar segurado:
Como empregado, basta estar trabalhando e ter a Carteira de Trabalho
assinada, assim como para o empregado doméstico, que deve estar inscrito
junto à Previdência Social.
37

O trabalhador avulso tem que possuir cadastro e registro no sindicato ou


órgão gestor de mão de obra e, o contribuinte individual, precisa,
obrigatoriamente, se inscrever e pagar mensalmente as contribuições.
Ao segurado especial é exigida a comprovação do exercício de atividade
rural. Já o segurado facultativo deve se inscrever e pagar mensalmente as
contribuições por meio da GPS.
Os contribuintes da Previdência Social têm direito à aposentadoria por
invalidez, por idade e por tempo de contribuição, além do auxílio-doença e a
integrar o programa de reabilitação profissional. Já a aposentadoria por tempo
de contribuição para o segurado especial só pode ser requerida se ele tiver pago
o INSS por escolha própria.
Os que optarem pelo Plano Simplificado de Inclusão Previdenciária –
também têm direito a todos os benefícios, exceto a aposentadoria por tempo de
contribuição. O Plano Simplificado permite a contribuição sobre o salário
mínimo ao contribuinte individual que trabalha por conta própria e não seja
prestador de serviço à empresa ou equiparada, o segurado facultativo e o
empresário ou sócio de empresa, cuja receita do ano anterior seja de até R$ 81
mil.
Para ter direito à aposentadoria especial, o trabalhador deverá comprovar,
além do tempo de trabalho, a efetiva exposição aos agentes físicos, químicos,
biológicos ou associação de agentes prejudiciais pelo período exigido para a
concessão do benefício. Podem requerê-la, o empregado com carteira assinada,
inclusive o doméstico, o trabalhador avulso e o contribuinte individual, quando
cooperado filiado à Cooperativa de Trabalho ou de produção.
Os dependentes do segurado - que venha a ser preso - têm direito ao
auxílio-reclusão, e, em caso de morte, à pensão. O auxílio-acidente é devido ao
empregado (inclusive o doméstico), ao trabalhador avulso e ao segurado
especial. Todas as seguradas, e deste junho inclusive as desempregadas, têm
direito ao salário-maternidade.
Têm direito a receber o salário-família, referente a cada filho menor de 14
anos ou inválido, o empregado (inclusive o doméstico), o trabalhador avulso, o
aposentado por invalidez e o aposentado por idade que tenha renda menor ao
38

valor definido anualmente pelo Ministério da Previdência Social. Caso a mãe e o


pai sejam segurados, ambos podem receber o benefício.
Dependentes são as pessoas que, embora não estejam contribuindo para
a Seguridade Social, mas tenham vínculo familiar com o segurado, a lei
determina que tenham direito:
 Pensão por morte;
 Auxílio-reclusão;
 Serviço Social;
 Reabilitação Profissional.

4.1 Classes de Dependentes do INSS

Os dependentes são divididos em três classes, de acordo com os


parâmetros previstos no art. 16 da lei n. 8.213/1991, com redação atual dada
pela Lei n. 13.146, de 06/07/2015:
 Classe I – O Cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido ou que
tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;
 Classe II – Os pais;
 Classe III – O irmão não emancipado, de qualquer condição, menor
de 21 anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou
deficiência grave.
O atual Código Civil, Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, reduziu para
18 anos completos a idade que cessa a menoridade, ficando a pessoa habilitada
à prática de todos os atos da vida civil, e reduziu também a idade para a
emancipação para 16 anos completos.
São equiparados filhos o enteado e o menor que esteja sob tutela e não
possua bens suficientes para o próprio sustento.
39

4.1.2 Comprovação para acesso aos Benefícios


A Comprovação nestes casos é feita por escrito através de uma declaração
juntamente com a comprovação da dependência econômica, por exemplo,
através de comprovante de pagamentos:
 Escola
 Médico
 Remédios
 Mercado
Para fins comprobatórios vale lembrar que sempre é bom ter o depoimento
por escrito de pelo menos duas testemunhas.
É importante salientar que a falta de prova documental não é por si só
elementos que possam excluir um beneficiário, uma vez que haja elementos que
o Juiz possa aferi-la.

4.1.3 Medida Provisória 664/2014: pensões


O Ministério da Previdência Social articula suas falas com base no cenário
que descreve de um Brasil diferente e transformado. Segundo o documento que
esclarece o rol de novas mudanças, a justificativa para a implementação das
reformas tem fundamento nos seguintes aspectos: a) o aumento do emprego e
sua formalização: 15,5 milhões no setor privado de 2003 a 2013; b) o aumento
da base de segurados da previdência em 30 milhões entre 2003 e 2013; c) o
aumento real de 73% do salário mínimo (base para todo o sistema de proteção
social) entre 2003 e 2014; d) o aumento da sobrevida dos brasileiros (em média
4,4 anos) em 13 anos; e) o aumento da expectativa de vida do brasileiro em 12,4
anos, tendo passado de 62,5 anos para 74,9, entre 1980 e 2013.
Entretanto, não podemos deixar de considerar o aumento da
receita/arrecadação com a inserção de novos postos de trabalho e o
desempenho da economia, que, se mantido a longo prazo, poderia assegurar a
manutenção do sistema previdenciário anterior. Outro ponto polêmico seria a
contenção dos gastos públicos com a dívida (e juros), cujo pagamento pressiona
o corte em gastos de programas sociais.
40

Em termos práticos, em relação à pensão por morte, os critérios para sua


obtenção ficaram mais rigorosos e o valor por beneficiário foi reduzido. A
Previdência instituiu, com a MP, um novo prazo de carência para sua obtenção,
de 24 meses de contribuição do segurado (trabalhador com carteira assinada ou
contribuinte autônomo) para que o dependente obtenha os recursos.
Até o final de 2014, não havia exigência de tempo mínimo de contribuição
para que os dependentes tivessem direito ao benefício, mas era necessário que,
na data da morte, o segurado estivesse contribuindo.
Um cálculo novo apresentado pela medida provisória reduziu, também, o
valor da pensão, que antes tomava como base 100% do salário de benefício
para, atualmente, 50% mais 10% por dependente até o limite de 100%.
Outro aspecto trazido pelas reformas do Estado é que deixará de ter direito
a pensão o dependente condenado pela prática de crime que tenha resultado na
morte do segurado. Atualmente, o direito de herança já é proibido a quem comete
homicídio contra o segurado, mas não havia regra com relação à pensão por
morte.
Outra mudança considerável é em relação à vitaliciedade do benefício.
Pelas novas regras da reforma, o valor será vitalício para pessoas com até 35
anos de expectativa de vida – atualmente quem tem 44 anos ou mais. A partir
desse limite, a duração do benefício dependerá da expectativa de sobrevida.
Assim, o beneficiário que tiver entre 39 e 43 anos receberá pensão por 15
anos. Quem tiver idade entre 33 e 38 anos obterá o valor por 12 anos. O cônjuge
com 28 a 32 anos terá pensão por nove anos e com 22 e 27 anos receberá por
6 anos. E o cônjuge com 21 anos ou menos receberá a pensão por apenas três
anos.
Outras mudanças ocorreram em relação à concessão do auxílio-doença e
do seguro defeso. Atualmente, o valor é pago pelo Instituto Nacional de
Seguridade Social (INSS) ao trabalhador que ficar mais de 15 dias afastado das
atividades laborais. Com a reforma, o prazo de afastamento será de 30 dias.
Além disso, será estabelecido um teto para o valor do auxílio equivalente à média
das últimas 12 contribuições.
41

Assim, vê-se claramente que a alteração trazida pela medida provisória


664/2014, válida já em 2015, produz uma grande transformação no papel do
Estado e na rede de proteção social antes construída.

4.1.4 Novas regras da pensão por morte

Fonte: Ministério da Previdência Social

4.1.5 Pensão por morte de acordo com a lei 13.183 de 2015


A presidência da República por meio da Medida Provisória 664/2014,
objetivou diminuir os gastos de despesas públicas, trouxe algumas mudanças
na forma concessão da pensão por morte paga pelo INSS, não obstante a
referida MP converteu-se na Lei nº 13.135/2015.
Algumas das principais alterações que a nova lei trouxe foi a perda do
direito de receber a pensão por morte nas seguintes hipóteses:
42

 Para filho, pessoa a ele equiparada ou irmão, de ambos os sexos,


ao completar 21 (vinte e um) anos de idade, salvo se for inválido ou com
deficiência;
 Para filho ou irmão inválido, pela cessação da invalidez;
 Para filho ou irmão que tenha deficiência intelectual ou mental ou
deficiência grave, pelo afastamento da deficiência, nos termos do
regulamento;

4.1.6 A principal mudança ficou para o cônjuge ou companheiro (a) que:


a) Se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo
afastamento da deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes da
aplicação das alíneas b e c a seguir;
b) Se o segurado não cumprir carência de 18 (dezoito) contribuições
mensais ou o casamento/união estável tiverem sido iniciados em menos de 2
(dois) anos antes do óbito do segurado, receberá 4 meses de benefício;
c) Se o óbito ocorrer depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais
e pelo menos 2 (dois) anos após o início do casamento ou da união estável:
Também houve mudanças com relação a idade do dependente
cônjuge/companheiro (a) na data do falecimento do segurado, sendo este
referente ao período/tempo em receberá a pensão, sendo esta concedida da
seguinte forma:
a) Se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo
afastamento da deficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes da
aplicação das alíneas
b) Em 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha
vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o casamento ou a união
estável tiverem sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito do
segurado
c) Transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a
idade do beneficiário na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois
de vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois) anos após
o início do casamento ou da união estável:
43

 Menos de 21 (vinte e um) anos de idade – 3 anos de benefício


 Entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de idade – 6 anos
de benefício
 Entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos de idade – 10 anos
de benefício
 Entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de idade - 15 anos de
benefício
 Entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e três) anos de idade -
20 anos de benefício
 Com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade - a pensão
será vitalícia
Ainda de acordo com a lei a pensão por morte será devida aos
dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data do
óbito, quando requerida até noventa dias da referida data.
A nova lei também deu nova redação aos § 1º e 2º do artigo 74 da Lei de
benefícios nº 8.213/1991, deixa claro que a ocorrência da perda do direito à
pensão por morte, após o trânsito em julgado da sentença, o condenado pela
prática de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do segurado.
Também perde o direito à pensão por morte o cônjuge, o companheiro ou
a companheira sendo comprovado, a qualquer tempo, a simulação ou fraude
no casamento ou na união estável, ou mesmo a formalização desses institutos
com a finalidade exclusiva de constituir suposto direito a benefício
previdenciário, sendo estas apuradas em processo judicial de modo a
assegurar o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Estas são as principais mudanças realizadas pela Lei nº 13.135/2015, que
além de alterar a pensão por morte, também modificou as regras para
concessão do auxílio-doença dos segurados do INSS.
44

5. Prestações previdenciárias3

Fonte: saberprevidenciario.com.br
As prestações previdenciárias são divididas em dois
grupos: benefícios e serviços. Podemos afirmar que o benefício é a prestação
previdenciária com conteúdo pecuniário (por exemplo, uma aposentadoria),
enquanto o serviço não possui essa característica (por exemplo, o serviço
social).
A previdência social oferece, como serviços, a reabilitação profissional e
o serviço social, sendo ambos devidos a segurados e dependentes.
Quanto aos benefícios, podemos dividi-los, conforme o beneficiário, em:
 Benefícios devidos aos segurados (art. 18, II, da Lei n.
8.213/1991):
1. Aposentadoria por tempo de contribuição
2. Aposentadoria especial
3. Aposentadoria por idade
4. Aposentadoria por invalidez
5. Auxílio-doença

3 Texto adaptado de Leonardo Aguiar.


45

6. Auxílio-acidente
7. Salário-família
8. Salário-maternidade

 Benefícios devidos aos dependentes (art. 18, II, da Lei n.


8.213/1991):
1. Pensão por morte
2. Auxílio-reclusão
Importa salientar que não existem mais os benefícios chamados pecúlio,
auxílio-natalidade, auxílio-funeral e abono de permanência em serviço, bem
como as aposentadorias especiais do jornalista profissional, do jogador de
futebol profissional, do telefonista, do juiz classista e do aeronauta.
Mas há ainda o seguro-desemprego, eis que o art. 201, III, da CF/88
menciona expressamente a “proteção ao trabalhador em situação de
desemprego involuntário”, e assim esse benefício integra o rol dos benefícios
previdenciários (embora não esteja previsto no art. 9º, § 1º, da Lei n. 8.213/91).
Sua natureza jurídica é dada pela CF/1988, e a simples circunstância de ter
como pessoa jurídica responsável por sua concessão a Caixa Econômica
Federal, e não o Instituto Nacional do Seguro Social, em nada altera a definição
constitucional.
Ainda no ponto, note-se que alguns benefícios previstos em
leis especiais também são mantidos pelo INSS, como é o caso da aposentadoria
do ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, da aposentadoria ou pensão do
anistiado político, da pensão para as vítimas da Talidomida, da pensão dos
seringueiros, da pensão das vítimas da hemodiálise de Caruaru e da pensão das
vítimas da hanseníase.
O benefício assistencial de prestação continuada tem fundamento no art.
203, V, da CF/88 e, atualmente, encontra sua regulamentação na Lei n. 8.742/93.
Não obstante seja um benefício da assistência social, a pessoa jurídica
responsável por sua concessão, manutenção e fiscalização é o INSS.
Atenção: Até 1994/1995 existiam dois outros benefícios previdenciários: os
pecúlios e o abono de permanência em serviço.
46

Os pecúlios, previstos nos arts. 81 a 85 da Lei n. 8.213/1991, consistiam:


1. na devolução integral ao segurado das importâncias relativas às
contribuições do segurado que se incapacitava para o trabalho antes de ter
completado o período de carência;
2. na devolução integral ao segurado das importâncias relativas às
contribuições do segurado aposentado por idade ou por tempo de serviço
pelo Regime Geral de Previdência Social que voltava a exercer atividade
abrangida pelo mesmo, quando dela se afastava;
3. no pagamento ao segurado de quantia equivalente a 75% do limite
máximo do salário de contribuição em caso de invalidez decorrente de
acidente do trabalho;
4. no pagamento aos dependentes de quantia equivalente a 150% do
limite máximo do salário de contribuição em caso de morte do segurado que
fosse decorrente de acidente do trabalho.
Os pecúlios foram extintos pelas Leis n. 8.870/1994, 9.032/1995 e
9.129/1995.
Já o abono de permanência em serviço, que era previsto no art. 87 da lei
n. 8.213/1991, garantia ao segurado que, tendo direito à aposentadoria por
tempo de serviço, optasse pelo prosseguimento na atividade, o pagamento do
abono de permanência em serviço, mensal, correspondendo a 25% (vinte e cinco
por cento) dessa aposentadoria para o segurado com 35 (trinta e cinco) anos ou
mais de serviço e para a segurada com 30 (trinta) anos ou mais de serviço. O
abono de permanência em serviço era devido a contar da data de entrada do
requerimento, não variava de acordo com a evolução do salário de contribuição
do segurado, era reajustado na forma dos demais benefícios e não se
incorporava, para qualquer efeito, à aposentadoria ou à pensão. Este benefício
foi extinto pela Lei n. 8.870/1994.

5.1 Revisão dos benefícios concedidos e dos benefícios em manutenção


Em um sistema previdenciário de tamanho gigantesco como é o brasileiro,
é comum a ocorrência de diversos tipos de fraudes e impropriedades envolvendo
o pagamento de benefícios.
47

Para tentar minorar essa situação, o art. 69 da Lei n. 8.212/1991 determina


que o Ministério da Previdência Social e o Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS manterão programa permanente de revisão da concessão e da
manutenção dos benefícios da Previdência Social, a fim de apurar
irregularidades e falhas existentes.
No mesmo sentido, o art. 11 da Lei n.10.666/2003 determina que o
Ministério da Previdência Social e o INSS manterão programa permanente de
revisão da concessão e da manutenção dos benefícios da Previdência Social, a
fim de apurar irregularidades e falhas existentes.
Havendo indício de irregularidade na concessão ou na manutenção de
benefício, a Previdência Social deve notificar o beneficiário para apresentar
defesa, provas ou documentos de que dispuser, no prazo de trinta dias.
Esta notificação deve ser feita por via postal com aviso de recebimento e,
não comparecendo o beneficiário nem apresentando defesa, deve ser suspenso
o benefício, com notificação ao beneficiário por edital resumido publicado uma
vez em jornal de circulação na localidade.
Decorrido o prazo concedido pela notificação postal ou pelo edital, sem que
tenha havido resposta, ou caso seja considerada pela Previdência Social como
insuficiente ou improcedente a defesa apresentada, o benefício é cancelado,
dando-se conhecimento da decisão ao beneficiário.
O Ministério da Previdência Social e o Instituto Nacional do Seguro Social
– INSS são ainda obrigados a proceder, no mínimo a cada 5 (cinco) anos, ao
recenseamento previdenciário, abrangendo todos os aposentados e
pensionistas do regime geral de previdência social.
Observação: No Relatório de Auditoria Anual de Contas de 2016, realizado
pela Secretaria Federal de Controle Interno no INSS, por exemplo, ficou
constatado, durante cruzamento da folha de pagamento (Maciça) com o Sistema
de Controle de Óbitos do INSS (Sisobi), realizado entre janeiro a agosto de 2016,
a existência de 101.414 segurados que receberam em conta corrente, mesmo
registrados como falecidos na base de dados. Em média, cada benefício irregular
resultou em quatro pagamentos mensais. O prejuízo, se calculado o período de
oito meses analisado pelos auditores, foi da ordem de R$ 460 milhões.
48

Também foram identificados 1.256 segurados que constam do Sisobi como


falecidos em 2005 e que receberam benefícios previdenciários em 2016.
No mesmo Relatório ainda ficou constatado que o INSS encontrava
dificuldades para recuperar, junto às instituições financeiras, valores de
pagamentos realizados após o óbito dos beneficiários. No total, foram
identificados mais de R$ 1 bilhão referentes a 73.556 processos analisados em
2016 e encaminhados para cobrança administrativa. Apenas 12% (R$ 119
milhões) tinham sido devolvidos em razão da resistência dos bancos em atender
à solicitação de restituição, pois a Resolução n. 4.480/2016, do Conselho
Monetário Nacional (CMN), estabelece que o ressarcimento somente será
realizado por falha da própria instituição financeira. Em razão dessa situação a
CGU recomendou ao INSS que discutisse junto ao Banco Central do Brasil
(Bacen), ao CMN e à Casa Civil da Presidência da República a possibilidade de
alteração normativa e de criação de um novo produto específico para pagamento
de benefícios – e não apenas o modelo de depósito em conta corrente. Em
decorrência das tratativas que se sucederam foi publicada a Medida Provisória
n. 788, determinando que as instituições financeiras devem bloquear, de
imediato, os valores creditados em favor de pessoa falecida e ressarci-los ao
ente público no 45º dia após receber o requerimento.

5.2 Cumulação de prestações4


Atualmente, a Lei n. 8.213/91 trata das hipóteses de vedação ao
recebimento conjunto de benefícios previdenciários em seu art. 124.
Note-se que o dispositivo tem aplicabilidade apenas no âmbito do RGPS,
ou seja, veda apenas o recebimento conjunto de certos benefícios no mesmo
regime (o RGPS), não se aplicando em relação a benefícios oriundos de regimes
diversos.
Observação: No ponto, vale lembrar que, de uma maneira geral, é possível
a filiação simultânea a mais de um regime, bem como o recebimento
concomitante de benefícios previdenciários em mais de um regime.

4
Texto adaptado de Leonardo Aguiar.
49

De todo modo, temos então que a legislação previdenciária trata das


situações em que a acumulação de benefícios no RGPS é indevida, buscando
não deixar lacunas a tal respeito, como aconteceu no passado, evitando
cumulações de benefícios que poderiam prejudicar o equilíbrio financeiro e
atuarial do sistema (art. 201, caput, da Constituição Federal).
De acordo com o citado dispositivo legal, temos que, salvo no caso de
direito adquirido, não é permitido o recebimento conjunto dos seguintes
benefícios da previdência social, inclusive quando decorrentes de acidente do
trabalho:
1) Aposentadoria com auxílio-doença (art. 124, I):
O artigo 18, § 2º, da n. Lei 8.213/91 versa que “o aposentado pelo Regime
Geral da Previdência Social – RGPS que permanecer em atividade sujeita a este
Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social
em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à
reabilitação profissional, quando empregado”.
Desta forma, o aposentado pelo RGPS que volta a exercer atividade
remunerada, sendo então também segurado obrigatório, caso seja acometido de
doença que o incapacite temporariamente para essa atividade, não tem direito a
receber auxílio-doença em razão dela.
2) Mais de uma aposentadoria (art. 124, II):
A vedação à cumulação de aposentadorias está igualmente fundamentada
no art. 18, § 2º, da Lei n. 8.213/1991.
Desta forma, o aposentado pelo RGPS que volta a exercer atividade
remunerada, sendo então também segurado obrigatório, ainda que complete
todos os requisitos para outra aposentadoria, não terá direito à percepção dela.
Exemplo: Cleusa é segurada empregada do RGPS, beneficiária de
aposentadoria por tempo de contribuição há muitos anos. Ela se aposentou aos
48 anos de idade, mas permaneceu em atividade, contribuindo regularmente.
Hoje ela já está com 65 anos e pensa em, finalmente, parar de trabalhar. Apesar
de já ter mais de 180 contribuições vertidas após a concessão da aposentadoria
por tempo de contribuição e mais de 60 anos de idade, ela não tem direito a
50

requerer a aposentadoria por idade, pois a cumulação de mais de uma


aposentadoria é expressamente vedada pela legislação.
No ponto, vale voltar a frisar que não há óbice, em princípio, ao recebimento
de duas aposentadorias (ou quaisquer outros benefícios previdenciários) que
sejam oriundos de regimes diversos.
Exemplo: Um cidadão é servidor público, ocupando o cargo de Delegado
de Polícia, mas também é empregado de uma Faculdade particular, onde dá
aulas. Esta pessoa é segurada do RPPS (servidor público) e também do RGPS
(empregado), simultaneamente. Suponha-se que ela já completou a carência e
atingiu a idade mínima da aposentadoria por tempo de contribuição do RPPS, e
que também já completou a carência e atingiu a idade mínima da aposentadoria
por tempo de contribuição do RGPS. No caso, então, ela poderá receber uma
aposentadoria do RPPS e outra do RGPS, cumulativamente.
Nesse sentido foi a decisão da TNU por ocasião do julgamento do PEDILEF
200771580048250: “Não há óbice à percepção de duas aposentadorias em
regimes distintos, quando os tempos de serviços realizados em atividades
concomitantes sejam computados em regimes diferenciados, havendo a
respectiva contribuição para cada um deles”.
Aliás, diga-se que se admite até mesmo a averbação de tempo de
contribuição não utilizado num regime (como o RGPS) em outro regime (como o
RPPS, ou vice versa) para fins de aproveitamento para complementação da
carência, conforme consta expressamente do art. 130, §§ 10 e 11, do Decreto n.
3.048/1999, desde que não sejam concomitantes.
Nesse sentido foi a decisão da TNU no já citado
PEDILEF 200771580048250: “A pretensão de expedição de certidão de tempo
de contribuição de períodos não utilizados na aposentadoria junto ao RGPS para
fins de utilização na jubilação junto a regime próprio de previdência encontra
amparo no art. 130, §§ 10 e 11, do Decreto n. 3.048/1999, que admite a
expedição de certidão de período fracionado, com a indicação dos períodos a
serem aproveitados em regime diverso”.
Exemplo: Um cidadão tem 45 anos de contribuição no RGPS.
Completando a idade mínima, se aposenta por tempo de contribuição, utilizando-
51

se apenas de uma parte desse período, pois o tempo de contribuição necessário


é de 30 anos. Supondo-se que em seguida ele passe a ser servidor público, por
mais 15 anos, em tese ele pode averbar no RPPS aqueles 15 anos não utilizados
em sua aposentadoria do RGPS, e com isso somar o tempo de efetiva
contribuição do RPPS (15 anos) com o tempo averbado, oriundo do RGPS (15
anos não utilizados na aposentação do regime geral) e assim somar também 30
anos de contribuição no RPPS, podendo – em tese – pleitear aposentadoria
também no RPPS.
3) Salário-maternidade com auxílio-doença (art.124, IV):
O salário-maternidade não pode ser acumulado com benefício por
incapacidade. Quando ocorrer incapacidade em concomitância com o período
de pagamento do salário-maternidade, o benefício por incapacidade, conforme
o caso, deverá ser suspenso enquanto perdurar o referido pagamento, ou terá
sua data de início adiada para o primeiro dia seguinte ao término do período do
salário-maternidade (normalmente de 120 dias).
4) Mais de um auxílio-acidente (art. 124, V):
O auxílio-acidente é uma indenização que se paga ao segurado quando,
após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza,
resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que
habitualmente exercia. Esta indenização, atualmente, corresponde a uma
parcela mensal de 50% do salário de benefício, a qual perdura até a
aposentadoria ou o óbito do segurado.
Obviamente, não faz sentido poder cumular mais de um auxílio-acidente,
até porque a simples cumulação já faria o valor chegar a 100% do SB, o que
corresponde ao dispêndio financeiro de uma aposentadoria.
5) Mais de uma pensão deixada por cônjuge, companheiro ou
companheira (art. 124, VI):
É vedado a cumulação de pensões decorrentes do óbito do cônjuge ou
companheiro(a), mas nesse caso, faculta-se ao dependente o direito de optar
pela pensão mais vantajosa.
O inciso VI do art. 124 da Lei 8213/91 somente foi introduzido no
ordenamento jurídico pela Lei 9.032/95, que alterou a redação do art. 124. Desse
52

modo, considerando o disposto no caput quanto à hipótese de direito adquirido,


é possível a cumulação de duas pensões por morte de cônjuge ou companheiro
desde que concessão de ambos os benefícios tenha se dado antes da alteração
citada.
Atenção: A Lei n. 8.213/1991 também veda a cumulação de aposentadoria
com abono de permanência (art. 124, III), benefício extinto pela Lei n.
8.870/1994, que consista no pagamento, ao segurado que, tendo direito à
aposentadoria por tempo de serviço, optasse pelo prosseguimento na atividade.
Referido pagamento era mensal e correspondia a 25% (vinte e cinco por cento)
dessa aposentadoria para o segurado com 35 (trinta e cinco) anos ou mais de
serviço e para a segurada com 30 (trinta) anos ou mais de serviço. Obviamente,
após a aposentadoria o pagamento do abono de permanência era cessado.
O parágrafo único do art. 124 da Lei n. 8.213/91 dispõe que é vedado o
recebimento conjunto do seguro-desemprego com qualquer benefício de
prestação continuada da Previdência Social, exceto pensão por morte ou auxílio-
acidente.
Contudo a norma do art. 124 não esgota as situações em que é vedada a
percepção de mais de um benefício previdenciário. Além das hipóteses
previstas no art. 124, é vedada a percepção cumulada dos seguintes
benefícios, conforme disposições da Lei 8.213/91:
6) Auxílio-acidente com qualquer aposentadoria:
Até o advento da Medida Provisória n. 1.596-14, era plenamente possível
a acumulação desses dois benefícios. Inclusive, a legislação da época previa
expressamente o caráter vitalício do auxílio-acidente. Essa MP, ao mesmo
tempo em que passou a vedar a percepção conjunta dessas duas prestações,
determinou que o auxílio-acidente integra o salário de contribuição para fins de
cálculo do benefício de aposentadoria.
Vale dizer, com as alterações do art. 86, § 2º., da Lei n. 8.213/91,
promovidas pela MP n. 1.596-14/97, convertida na Lei n. 9.528/97, o auxílio-
acidente deixou de ser vitalício e passou a integrar o salário de contribuição para
fins de cálculo do salário de benefício de aposentadoria previdenciária, motivo
pelo qual o citado dispositivo trouxe em sua redação a proibição de acumulação
53

de benefício acidentário com qualquer espécie de aposentadoria do regime


geral.
Deve-se registrar que o regramento atual é mais harmonioso do ponto de
vista sistemático. Isto porque o auxílio-acidente tem como pressuposto para sua
concessão a redução da capacidade laborativa. O segurado, em virtude do
sinistro, teria uma redução em sua capacidade de trabalho, o que redundaria em
uma potencial redução salarial. Assim, o benefício acidentário teria por escopo
compensar pecuniariamente uma eventual redução salarial enquanto este
estiver em atividade.
Em suma, o pressuposto do benefício acidentário é a atividade. A
aposentadoria seja ela por idade, tempo de serviço, especial ou invalidez, tem
por finalidade a manutenção do segurado quando este se encontra em
inatividade. O pressuposto para a concessão da aposentadoria é a inatividade.
Ora, ou o segurado é considerado ativo, percebendo, portanto, o auxílio-
acidente, ou inativo, recebendo a aposentadoria. O segurado não pode ter
um status dúplice para a Previdência Social: não pode ser considerado ativo e
inativo ao mesmo tempo.
De toda forma, temos que a alteração do regime previdenciário caracterizou
dois sistemas:
1. até 10/11/1997 o auxílio-acidente e a aposentadoria coexistiam
sem qualquer regra de exclusão ou cômputo recíprocos;
2. após 11/11/1997, a superveniência de aposentadoria extingue o
auxílio-acidente, que por outro lado, passa a ser computado nos salários de
contribuição daquele benefício.
Não é demais ressaltar a impossibilidade de aplicação híbrida dos dois
regimes, seja para possibilitar o recebimento conjunto e o cômputo do auxílio-
acidente na aposentadoria, ou em sentido oposto, para vedar a cumulação e a
inclusão do benefício acidentário no cálculo da renda mensal inicial do
jubilamento.
De acordo com a jurisprudência majoritária, afasta-se a vedação à
cumulação de auxílio-acidente com aposentadoria se a lesão incapacitante,
geradora do auxílio-acidente, e a concessão da aposentadoria, qualquer que
54

seja, forem anteriores à vigência da Lei n. 9.528/97, em observância ao princípio


do tempus regit actum.
Nesse exato sentido é a Súmula 507 do STJ: “A acumulação de auxílio-
acidente com aposentadoria pressupõe que a lesão incapacitante e a
aposentadoria sejam anteriores a 11/11/1997, observado o critério do art. 23 da
Lei n. 8.213/1991 para definição do momento da lesão nos casos de doença
profissional ou do trabalho.”
A TNU, na sessão do dia 17/10/2012, ao julgar o PEDILEF
2008.71.60.002693-3 (Representativo de Controvérsia: Tema n. 85), apreciou a
questão referente a “saber se é possível cumulação de auxílio-acidente e de
aposentadoria por invalidez”, e firmou a tese de que “a cumulação de auxílio-
acidente com aposentadoria somente é possível quando a eclosão da lesão
incapacitante que ensejou aquele primeiro benefício e o início daquele segundo
tenham ocorrido antes da alteração do art. 86 da Lei n. 8.213/91 pela Lei n.
9.528/97”.
No mesmo sentido, cite-se ainda o PEDILEF 5000091-63.2014.4.04.7114.
A própria Advocacia-Geral da União (AGU) chegou a editar um enunciado
sobre a questão: “É permitida a cumulação do benefício de auxílio-acidente com
benefício de aposentadoria quando a consolidação das lesões decorrentes de
acidentes de qualquer natureza, que resulte em sequelas definitivas, nos termos
do art. 86 da Lei n. 8.213/91, tiver ocorrido até 10 de novembro de 1997,
inclusive, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória n.
1.596-14, convertida na Lei n. 9.528/97, que passou a vedar tal acumulação”.
Atenção: Em se tratando de aposentadoria por invalidez, sua acumulação
com o auxílio-acidente é indevida caso se trate de incapacidade decorrente da
mesma moléstia que deu origem a este último benefício, ainda que o surgimento
da lesão incapacitante tenha se dado anteriormente à Lei 9.528/97.
8) Auxílio-doença com auxílio-acidente, se decorrentes do mesmo fato
gerador (art. 86, §2º);
O auxílio-acidente começa a ser pago ao segurado a partir do momento em
que cessa o pagamento do auxílio-doença relativo ao evento que lhe causou as
55

sequelas. Assim, estes benefícios, quando decorrentes do mesmo fato gerador,


não são pagos simultaneamente.
Contudo, se o segurado que recebe auxílio-acidente ficar incapacitado
temporariamente para o trabalho por outro evento, o mesmo poderá cumular os
dois benefícios.
9) Aposentadoria ou auxílio-doença de segurado recluso com auxílio-
reclusão dos dependentes (art. 80);
O art. 80 da Lei n. 8.213/1991 determina que não será devido auxílio-
reclusão aos dependentes do segurado que estiver em gozo de auxílio-doença
ou de aposentadoria.
Há ainda vedações contidas em outros dispositivos legais e
esclarecidas em atos normativos.
10) LOAS com benefício previdenciário:
A Lei 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social) em seu art. 20 veda a
cumulação dos benefícios de amparo assistencial ao idoso ou ao deficiente com
benefício previdenciário.
11) A Instrução Normativa INSS PRES 45/2010, ato administrativo
normativo de observância no âmbito interno do INSS, também esclarece
algumas situações em que é vedada a percepção acumulada de benefícios,
a saber:
– Mais de um auxílio-doença, ainda que o segurado mantenha vínculos
concomitantes, hipótese em que o cálculo da renda mensal será feito com a
soma dos salários de contribuição, conforme o disposto na Instrução Normativa
INSS PRES 45/2010 (art. 282);
– Cumulação de renda mensal vitalícia (benefício assistencial extinto,
criado pela Lei 6.179/74, porém pago em razão de direito adquirido) com
qualquer outra espécie de benefício da Previdência Social (art.421, III).
– Mais de um auxílio-reclusão de instituidor cônjuge ou companheiro, para
evento ocorrido a partir de 29 de abril de 1995, data da publicação da Lei nº
9.032, de 1995, facultado o direito de opção pelo mais vantajoso (art. 421, XIII);
– Benefício assistencial com benefício da Previdência Social ou de
qualquer outro regime previdenciário, exceto a Pensão Especial Mensal aos
56

Dependentes das Vítimas da Hemodiálise em Caruaru prevista na Lei 9.422/96


(art. 421, XVI);
– Auxílio-suplementar com aposentadoria ou auxílio-doença (art. 421,
XVII).

5.3 Direito adquirido


Merece destaque a menção feita no caput do art. 124 da Lei n. 8.213/91 às
situações de direito adquirido. Isto porque, como é cediço, a concessão e
manutenção de benefícios previdenciários deve observar princípio tempus regit
actum, de modo que deverá ser respeitado o direito adquirido à acumulação, na
hipótese de o segurado ou dependente ter acumulado benefícios que,
posteriormente, passaram a não mais poder ser acumulados, devendo a
possibilidade ou não de acumulação ser verificada de acordo com as regras
vigentes à época de sua ocorrência.

5.4 Situações em que é possível a cumulação de benefícios


Vistas as situações em que não se admite a acumulação de benefícios,
passaremos agora à análise daquelas em que tal acumulação é possível.
No ponto, pode-se traçar uma regra geral segundo a qual na ausência de
vedação expressa ou implícita (decorrente dos princípios que norteiam o sistema
ou de incompatibilidade lógica) é possível a percepção cumulada de mais de um
benefício previdenciário pelo mesmo segurado ou dependente.
1) Aposentadoria e pensão por morte:
O benefício de aposentadoria, em qualquer de suas espécies, pode ser
cumulado com pensão por morte, se preenchidos os requisitos legais para
obtenção da pensão, eis que não há vedação legal à percepção cumulada de
tais benefícios.
A natureza dos benefícios é que permite a acumulação. Enquanto a
aposentadoria é concedida ao segurado que preencheu os requisitos legais para
o seu recebimento, a pensão por morte é deferida àquele que ostenta a
qualidade de dependente de segurado da Previdência Social, em razão de seu
óbito. São, portanto, fatos geradores distintos e situações diversas.
57

A possibilidade de acúmulo de aposentadoria e pensão por morte é uma


anomalia atual do sistema. Dessa forma, é possível que em breve seja revista,
de modo que sejam incluídos mecanismos que venham a restringir essa
possibilidade de acúmulo de aposentadoria e pensão por morte no futuro.
Segundo consta, a proporção de pensionistas que também recebem
aposentadoria triplicou entre 1992 e 2014. No início dos anos 1990, 9,9% das
pessoas que recebiam pensão eram aposentadas.
Dos 2,39 milhões de pessoas que recebem os dois benefícios, 1,67 milhão
ganham até dois salários mínimos por mês (R$ 1.760). Esse grupo custa à
Previdência R$ 31,4 bilhões por ano. Cerca de 10 mil pessoas, no entanto,
recebem mais de 20 salários mínimos (R$ 17.600) por mês acumulando os dois
benefícios, o que representa um custo anual superior a R$ 3 bilhões para a
Previdência.
Atualmente, um terço dos pensionistas está nessa situação, e 2,39 milhões
de pessoas passaram a acumular os dois benefícios.
Existem quatro propostas quanto ao tema:
1. estabelecer um teto para o valor dos dois benefícios;
2. impor a opção por um dos dois pagamentos;
3. determinar que um dos benefícios seja integral enquanto o outro se
limite a determinado percentual; ou
4. impedir o acesso à pensão para quem já recebe aposentadoria.
Essas quatro possibilidades se baseiam na experiência de outros países
que restringiram o acúmulo de benefícios.
No ponto, note-se que já houve vedação à percepção conjunta de
aposentadoria rural e pensão por morte rural, anteriormente prevista no art. 6º.,
§ 2º. da Lei Complementar n. 16/1973.
O mencionado dispositivo legal dispõe que “fica vedada a acumulação do
benefício da pensão com o da aposentadoria por velhice ou por invalidez de que
tratam os artigos 4º e 5º da Lei Complementar n. 11, de 25 de maio de 1971,
ressalvado ao novo chefe ou arrimo da unidade familiar o direito de optar pela
aposentadoria quando a ela fizer jus”.
58

Essa regra, contudo, não foi recepcionada pela CF/88, que elegeu como
um dos princípios da seguridade social a uniformidade e equivalência dos
benefícios e serviços às populações urbanas e rurais (art. 194, parágrafo único,
II), e também não se encontra em conformidade com a Lei n. 8.213/1991, que
não traz essa vedação em seu art. 124.
Assim, não se pode admitir como recepcionada a regra discriminatória
relativa aos benefícios rurais consubstanciada no art. 6º, § 2º, da LC 16/1073.
Este entendimento foi adotado no STJ por ocasião do julgamento do EREsp
168.522, e vem sendo mantido nos julgamentos seguintes, conforme se verifica
nos acórdãos do AgRg no REsp 1.420.241 e AgRg no REsp 1.123.232.
No âmbito da TNU, cite-se o PEDILEF 0007627-59.2011.4.03.6302, no
qual restou decidido que é possível a cumulação de aposentadoria rurícola com
pensão por morte – ainda que concedidos sob a égide da revogada LC 16/73 -,
pois eles possuem fatos geradores e pressupostos fáticos distintos.
No ponto, cite-se ainda a Súmula TNU n. 36: Não há vedação legal à
cumulação da pensão por morte de trabalhador rural com o benefício da
aposentadoria por invalidez, por apresentarem pressupostos fáticos e fatos
geradores distintos.
Porém deve ser observado o princípio tempus regit actum, da seguinte
forma: até a promulgação da CF/88 a vedação era válida, e assim caso ambos
fatos geradores (da aposentadoria e da pensão) sejam anteriores à nova ordem
constitucional, não é possível a acumulação. Contudo, se apenas um fato
gerador é anterior à CF (aponsentadoria, por exemplo), e o outro posterior (óbito
do cônjuge, por exemplo), então passa a ser lícita a acumulação.
2) Pensão por morte:
É possível cumular mais de uma pensão por morte, exceto quando forem
ambas decorrentes de falecimento de cônjuge ou companheiro.
Critica-se o legislador por não ter vedado a percepção cumulada de
qualquer pensão por morte, porque o referido benefício tem por escopo suprir a
ausência do instituidor no sustento de seus dependentes, e a permissão do
recebimento de mais de um benefício dessa natureza termina por implicar em
59

melhora da condição financeira do dependente que o receba em duplicidade, o


que certamente não é o escopo da proteção previdenciária.
Exemplo: É permitido o recebimento de duas pensões quando uma for
proveniente de falecimento de cônjuge ou companheiro e a outra de falecimento
de filho.
A questão, contudo, é complexa porque, por um lado, a dependência
econômica do cônjuge ou companheiro é presumida (art. 16, §4º da Lei 8213/91)
e, por outro lado, a dependência econômica com relação aos filhos deve ser
comprovada.
Pois bem, havendo recebimento de pensão de cônjuge ou companheiro
previamente, difícil se torna a comprovação da dependência em relação ao filho,
que não se resume a mero auxílio financeiro.
Porém, como a vedação legal é no sentido da percepção de mais de um
benefício de pensão por morte instituído por cônjuge ou companheiro, em tese
é possível a cumulação de pensão por morte decorrente do óbito de cônjuge com
outra instituída por filho.
Exemplo: Também é permitido o recebimento de duas pensões quando
elas forem decorrentes de falecimento dos pais (pai e mãe segurados) de filho
deficiente.
Nesta hipótese fica nítido que os benefícios, cumulados, vão além do
sustento do dependente, gerando nítida melhora da sua condição financeira.
No ponto, vale voltar a frisar que não há óbice, em princípio, ao recebimento
de duas pensões por morte, ambas decorrentes de falecimento de cônjuge ou
companheiro, desde que sejam oriundas de regimes diversos.
Exemplo: Um cidadão é servidor público mas também é empregado de uma
empresa privada. Esta pessoa é segurada do RPPS (servidor público) e também
do RGPS (empregado), simultaneamente. Em caso de morte, seu cônjuge terá
direito, a duas pensões: uma pelo RPPS e outra pelo RGPS, cumulativamente.
Assim, em síntese: só há vedação à cumulação de pensão por morte
deixadas por cônjuge ou companheiro. Fora disse, ainda que no mesmo regime
(RGPS), é possível a cumulação, ainda que uma delas seja por morte de cônjuge
ou companheiro. Tratando-se de regimes diversos, não há qualquer limitação.
60

Exemplo: Pais morrem em acidente de carro, sendo um servidor público


federal e outro empregado da iniciativa privada. O filho sobrevivente pode
receber as duas pensões, pois são de regimes diferentes. Se fossem do mesmo
regime, também poderia cumular. E ainda que fossem do mesmo instituidor (pai
era servidor público e também professor numa escola privada), também poderia
cumular, ainda que fossem do mesmo regime.
3) Salário-maternidade:
Caso a segurada mantenha vínculos de emprego concomitantes, é possível
a percepção cumulada do benefício de salário maternidade relativo a cada um
dos vínculos, conforme o disposto no art. 98 do Decreto 3.048/99.
4) Auxílio-acidente e outro benefício (exceto de aposentadoria):
O § 3º. do art. 86 da Lei n. 8.213/91 versa expressamente que a concessão
de outro benefício, exceto de aposentadoria, não prejudicará a continuidade do
recebimento do auxílio-acidente.
O auxílio-acidente é devido como indenização ao segurado, a partir do dia
seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer
remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado. Assim a concessão do
benefício pressupõe a cessação do auxílio-doença anteriormente recebido, e
conforme mencionado acima, é indevida a cumulação de auxílio-doença e
auxílio-acidente em razão de lesões decorrentes do mesmo fato gerador.
Porém, pode ocorrer que o segurado já em gozo de auxílio-acidente
venha a sofrer de mal incapacitante que enseje a concessão de auxílio-doença,
diverso daquele que deu origem ao auxílio-acidente, e nesse caso será possível
a acumulação dos dois benefícios.
5) Pensão especial para portadores da síndrome da Talidomida e
benefícios previstos no RGPS:
É possível, diante da natureza indenizatória do benefício, a cumulação da
pensão especial paga aos portadores da Síndrome da Talidomida, instituída pela
Lei n. 7.070/1982 com benefícios previstos no RGPS. Porém, o benefício em
comento é inacumulável com os benefícios assistenciais da Lei n. 8.742/1993 e
com a renda mensal vitalícia (Lei n. 6.179/1974), por se tratarem de benefícios
pagos com recursos da União.
61

6) Seguro desemprego e auxílio-reclusão:


O Decreto 3.048/99 inova ao permitir, em seu art. 167, § 2º., a acumulação
de seguro-desemprego com o auxílio-reclusão, hipótese não contida no
parágrafo único do art. 124.
7) Aposentadoria e salário-família:
O artigo 18, § 2º., da n. Lei 8.213/91 versa que “o aposentado pela Regime
Geral da Previdência Social – RGPS que permanecer em atividade sujeita a este
Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social
em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à
reabilitação profissional, quando empregado.”
Assim, é garantido ao segurado aposentado que retorna à atividade o
recebimento, enquanto exercer essa nova atividade remunerada, do salário-
família.
8) O benefício de pensão especial vitalícia aos ex-combatentes de que
trata o art. 53, II, do ADCT, com outro benefício no âmbito do RGPS:
Esta é a dicção que se extrai da leitura do art. 53, II, do ADCT, verbis: “Art.
53. Ao ex-combatente que tenha efetivamente participado de operações bélicas
durante a Segunda Guerra Mundial, nos termos da Lei nº 5.315, de 12 de
setembro de 1967, serão assegurados os seguintes direitos: (…) II – pensão
especial correspondente à deixada por segundo-tenente das Forças Armadas,
que poderá ser requerida a qualquer tempo, sendo inacumulável com quaisquer
rendimentos recebidos dos cofres públicos, exceto os benefícios previdenciários,
ressalvado o direito de opção”.
9) O benefício de pensão especial vitalícia de seringueiro “soldados
da borracha” de que trata o art. 54 do ADCT, com outro benefício no âmbito
do RGPS:
Ficaram conhecidos como os Soldados da Borracha os seringueiros que
foram trabalhar na Amazônia extraindo látex para a fabricação de pneumáticos
que seriam utilizados pelos ‘aliados’ na segunda guerra mundial.
No ponto, registre-se que muito embora os soldados da borracha tenham
contribuído decisivamente para o fornecimento de insumos de borracha a serem
utilizados no conflito mundial, tendo, inclusive, um histórico de mortes, por
62

doenças e outras intempéries daquela região inóspita à época, em maior escala


do que a dos ex-combatentes que foram para o front de batalha, as
compensações e honrarias pelo sacrifício foram, em escala inversamente
proporcional aos óbitos, bem inferiores em qualidade e quantidade às que foram
prestadas a título de reconhecimento aos ex-combatentes.
Note-se que em razão da deflagração do conflito armado o Japão, aliado
do Eixo, cortou o fornecimento de borracha para os Estados Unidos (integrante
dos Aliados). Dessa forma, as atenções do governo americano se voltaram para
a Amazônia. Para obter a borracha necessária à continuidade das operações
bélicas, as autoridades brasileiras e americanas assinaram acordo onde ficou
estabelecido que o governo americano faria investimentos na produção de
borracha amazônica e, em contrapartida, o governo brasileiro seria responsável
por encaminhar a mão de obra necessária aos seringais. Assim, entre 1943 e
1945 foram convocados cerca de 60 mil seringueiros (Decreto-Lei n. 5.813, de
14 de setembro de 1943), principalmente oriundos do Estado do Ceará, para a
extração da borracha da Amazônia. Esses trabalhadores ficaram conhecidos
como soldados da borracha e a operação passou a ser tratada como um heroico
esforço de guerra.
De outro lado, atuavam nas frentes de batalha na Itália cerca de 20 mil
soldados brasileiros, militares e civis convocados para compor o esforço da
segunda guerra mundial.
Ao terminarem as operações bélicas, os soldados que eram civis e os
soldados militares que se licenciaram do serviço ativo e retornaram à vida civil,
receberam a denominação de ex-combatentes.
Consta que cerca da metade dos 60 mil seringueiros enviados à Amazônia
pereceram de doenças como malária, das péssimas condições de alimentação
na selva e mesmo em face de assassinatos cometidos pelos próprios donos dos
seringais. De outro lado, entre os 20 mil soldados que foram enviados à Itália, as
mortes foram de 454 combatentes.
Registre-se que os seringueiros foram amparados pelo Decreto-Lei n.
9.882, de 16 de setembro de 1946.
63

Posteriormente, o art. 54 do ADCT assim dispôs: “Art. 54. Os seringueiros


recrutados nos termos do Decreto-Lei nº 5.813, de 14 de setembro de 1943, e
amparados pelo Decreto-Lei nº 9.882, de 16 de setembro de 1946, receberão,
quando carentes, pensão mensal vitalícia no valor de dois salários mínimos. § 1º
O benefício é estendido aos seringueiros que, atendendo a apelo do Governo
brasileiro, contribuíram para o esforço de guerra, trabalhando na produção de
borracha, na Região Amazônica, durante a Segunda Guerra Mundial. § 2º Os
benefícios estabelecidos neste artigo são transferíveis aos dependentes
reconhecidamente carentes. § 3º A concessão do benefício far-se-á conforme lei
a ser proposta pelo Poder Executivo dentro de cento e cinquenta dias da
promulgação da Constituição”.
Por sua vez, a Lei n. 7.986/1989 (conhecida como Lei do Seringueiro),
dando efetividade ao disposto no art. 54, do ADCT, assim dispôs: “Art. 1º É
assegurado aos seringueiros recrutados nos termos do Decreto-Lei n. 5.813, de
14 de setembro de 1943, que tenham trabalhado durante a Segunda Guerra
Mundial nos Seringais da Região Amazônica, amparados pelo Decreto-Lei n.
9.882, de 16 de setembro de 1946, e que não possuam meios para a sua
subsistência e da sua família, o pagamento de pensão mensal vitalícia
correspondente ao valor de 2 (dois) salários-mínimos vigentes no País.
Parágrafo único. O benefício a que se refere este artigo estende-se aos
seringueiros que, atendendo ao chamamento do governo brasileiro, trabalharam
na produção de borracha, na região Amazônica, contribuindo para o esforço de
guerra. Art. 2º O benefício de que trata esta Lei é transferível aos dependentes
que comprovem o estado de carência. (…) Art. 6º O Ministério da Previdência e
Assistência Social baixará as instruções necessárias à execução desta Lei, no
prazo de 60 (sessenta) dias”.
Regulamentando a lei, temos então – no ponto em que nos interessa – que
foi vedada a percepção cumulativa da pensão mensal vitalícia com qualquer
outro benefício de duração continuada mantido pela Previdência Social,
ressalvada a possibilidade de opção pelo benefício mais vantajoso, conforme art.
3º, § 2º, da Portaria MPAS n. 4.630, de 13/03/1990; e art. 617 e 6194, ambos da
Instrução Normativa n. 20 INSS/PRES, de 10 de outubro de 2007.
64

Ocorre, porém, que em matéria de compensação pelo sacrifício, observa-


se do histórico legislativo que o reconhecimento dos soldados da borracha foi
bem inferior ao dos ex-combatentes.
No ponto, observa-se que em relação ao ex-combatente o legislador
constituinte permitiu expressamente a cumulação conforme se infere da leitura
do art. 53, II, do ADCT.
Por outro lado, no que diz respeito ao soldado da borracha foram editados
os mencionados atos normativos infralegais que vedaram a percepção
cumulativa da pensão mensal vitalícia com qualquer outro benefício de duração
continuada mantido pela Previdência Social.
No julgamento do PEDILEF n. 0000449-57.2013.4.01.3000, a TNU decidiu
que esta postura normativa viola o direito jusfundamental da igualdade (no
sentido da isonomia material) na medida em que desequipara
desarrazoadamente situações fáticas quase que idênticas as do seringueiro com
a do ex-combatente, pois ambos atuaram na defesa da nação na 2ª Guerra
Mundial com mudança apenas do local de prestação do serviço militar.
Ademais, a TNU ainda decidiu que a restrição imposta pelo art. 3º, § 2º, da
Portaria MPAS nº 4.630, de 13/03/1990, padece do vício de ilegalidade na
medida em que restringiu direito não limitado pela lei reclamada pelo legislador
constituinte, no caso a Lei nº 7.986, de 28/12/1989.
Assim, concretamente, a TNU fixou a tese de que o benefício de pensão
especial vitalícia de seringueiro “soldados da borracha” de que trata o art. 54 do
ADCT, pode ser cumulado com outro benefício no âmbito do RGPS, ante a
inexistência de vedação legal.
No âmbito do STJ este entendimento também já foi adotado, como se pode
ver do julgamento do REsp 501.035: “Decidindo que não há vedação legal na
cumulação da pensão especial de seringueiro com a aposentadoria por idade,
não há reparo a fazer ao acórdão atacado, pois realmente não pode a
Administração, por meio de ato regulamentador, impor restrição não existente na
lei”.
65

5.5 Regras adicionais


Além das regras previstas no, ainda deve-se atentar para as seguintes
prescrições:
O segurado recluso, ainda que contribua na forma do § 6º do art. 116 da
Lei n. 8.213/91, não faz jus aos benefícios de auxílio-doença e de aposentadoria
durante a percepção, pelos dependentes, do auxílio-reclusão, permitida a opção,
desde que manifestada, também, pelos dependentes, pelo benefício mais
vantajoso.

5.6 Cumulação de salário com benefício previdenciário


É defeso (permitido) ao segurado cumular o recebimento de salários com
aposentadoria (art. 18, § 2º., da Lei n. 8.213/91), exceto por invalidez, e com
auxílio-acidente (art. 86, § 3º., da Lei n. 8.213/91). O recebimento de salários e
salário-família, por sua vez, faz parte da essência do instituto.
Por outro lado, é vedado o recebimento concomitante de salários e:
 Auxílio-doença;
 Auxílio-maternidade;
 Auxílio-reclusão; e
 Aposentadoria por invalidez.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, L. Direito previdenciário: curso completo/Leonardo Aguiar. Juiz


de fora. il. M, 2017. ISBN 978-1-365-78851-2.

BRASIL. LEI Nº 13.135, DE 17 DE JUNHO DE 2015. Altera as leis nº 8.213,


de 24 de julho de 1991, nº 10.876, de 2 de junho de 2004, nº 8.112, de 11 de
dezembro de 1990, e nº 10.666, de 8 de maio de 2003, e dá outras providências.
Casa civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13135.htm. Data
do acesso: 10/02/18

GIMENES, M. A. Incapacidade laboral e Benefício por auxílio-doença no


INSS. 2ª edição. LTR. 2015.
HELOANI, R. e PRONI, T.R. A “minirreforma previdenciária” e a redução da
proteção social no Brasil. Carta Social e do Trabalho, Campinas, n. 33, p. 69-
80, jan./jun. 2016.

LAZZARI, J. B. e CASTRO, A. P. de C. Manual de Direito Previdenciário.


Editora Forense, 19 edição, Brasil, 2016.

MARQUES, C.G.M. e PIERDONÁ, Z. L. A proteção concedida pela


previdência social brasileira à incapacidade laboral. Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Brasil. Cadernos de Dereito Actual Nº 5, 2017.

SILVA, F. A. e FERREIRA, J. N. O dependente maior inválido e a necessidade


de se adequar a legislação previdenciária aos princípios constitucionais.
IURISPRUDENTIA: Revista da Faculdade de Direito da Ajes - Juína/MT. Ano 5,
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SANTOS, M da S. As influências das agências multilaterais nas “reformas”


da previdência social brasileira. SER Social, Brasília, v. 19, n. 40, p. 13-30,
jan.-jun./2017.
67

SILVA, M.S. e ALVES, N.S. Previdência social: uma história de


contrarreformas e de reafirmação da lógica do seguro privado. Revista
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SOUZA, J. F. de. Seguridade e previdência social: avaliação crítica e


subsídios para um novo modelo, a partir da expansão dos fundos
de pensão. Synthesis. UERJ, 2015.

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