Técnicas em TCC

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

AULA 2

TÉCNICAS DA TERAPIA
COGNITIVO -
COMPORTAMENTAL

Profª Michelle L. Correia da Silva


INTRODUÇÃO

Olá, bem-vindos à segunda aula de Técnicas da TCC. Nossa aula está


estruturada na lógica um “passo a passo”, trazendo os elementos que estão dentro
do processo de estruturação das sessões de terapia, segundo o modelo cognitivo-
comportamental. Iniciaremos com orientações sobre o processo de avaliação
dentro do modelo da TCC. Depois, trataremos da formulação de caso clínico,
seguindo o raciocínio do “passo a passo”, com a conceitualização cognitiva de
caso e como é a estruturação de uma sessão de terapia no modelo da TCC.
Ao final da aula, aprofundaremos um modelo de formulação de caso clínico
integrado.
Leia, ao longo da disciplina, os termos TCC como Terapia Cognitivo-
Comportamental, TC como Terapia Cognitiva, e RPD como Registro de
Pensamentos Disfuncionais.

TEMA 1 – AVALIAÇÃO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DENTRO DO


PROCESSO TERAPÊUTICO

No que se refere ao processo de avaliação dentro da modalidade da terapia


cognitivo-comportamental, vamos abordar alguns pontos importantes que devem
ser considerados. A avaliação em um contexto geral tem como função obter
informações a respeito das demandas e necessidades do indivíduo, e por que
motivos ele buscou tratamento. O primeiro ponto que iremos apresentar é como
se apresenta a proposta de avaliação pela TC no modelo cognitivo de Aaron Beck.
Assim como vimos brevemente em relação aos métodos e pressupostos, o
modelo cognitivo irá propor objetivos em relação à avaliação:

o comportamento e as emoções são influenciados pela interpretação


que o indivíduo te, dos ventos, sendo esta a principal premissa da terapia
cognitiva [...] a terapia cognitiva busca identificar e modificar
pensamentos disfuncionais e, nesse sentido, a avaliação cognitiva é
fundamental no início e durante todo o processo terapêutico. (Andretta;
Oliveira, 2011, p. 135)

Uma sessão de avaliação no modelo cognitivo tem como fundamento


principal um diagnóstico provisório e o desenvolvimento de objetivos iniciais de
tratamento. Busca-se moldar as expectativas do paciente para o tratamento, a
partir de uma conceituação inicial. “Uma terapia cognitivo-comportamental efetiva
requer que você avalie o paciente inteiramente, de forma a poder formular o caso

2
de forma adequada, conceituar aquele paciente e planejar o tratamento” (Beck,
2013, p 66). As orientações gerais na sessão de avaliação no modelo da TCC
são:

formular caso e criar uma conceitualização cognitiva inicial do paciente;


definir de você é o terapeuta adequado; definir se você pode oferecer a
“dose” apropriada de terapia (p. ex., se você só pode oferecer terapia
semanal, mas o paciente precisa de um programa diário); definir se há
indicação de tratamentos concomitantes (como medicação); dar início a
aliança terapêutica com o paciente (e com familiares, se for relevante);
começar a familiarizar o paciente na estrutura e no processo da terapia;
identificar problemas importantes e definir objetivos amplos. (Beck,
2013, p. 67)

Aspectos como variações de humor, como o indivíduo interage, como é seu


funcionamento nas várias áreas da vida (pessoal, familiar, escola, trabalho,
social), como ele passa o tempo livre, se tem hobbies, por quais situações ele vem
passando, e como reage a elas, também devem ser consideradas. Em um modelo
de entrevista inicial, dados relevantes da história de vida individual de cada
paciente podem ser usados no processo de avaliação do caso clínico. Judith Beck
(2013, p. 69) sequencia esses componentes:

Dados pessoais, queixas principais e problemas atuais; história da


doença atual e eventos desencadeantes; estratégias de enfrentamento
(adaptativas e desadaptativas) atuais e passadas; história psiquiátrica
incluindo tipos de tratamento psicossocial (e opinião sobre a validade
desses tratamentos); hospitalizações; medicação; tentativas de suicídio
e situação atual; história de abuso de substancias e atual; história
médica e atual; história psiquiátrica familiar e atual; história de
desenvolvimento; história geral familiar e atual; história social e atual;
história educacional e atual; história vocacional e atual; história
religiosa/espiritual e atual; pontos fortes; valores e estratégias de
enfrentamento adaptativas.

Sendo assim, os objetivos da avaliação em TCC terão como foco o quadro


clínico do paciente, identificando problemas relacionados à cognição,
comportamentos, emoções, além das interpretações feitas por esse sujeito diante
de tais processos. O uso de uma técnica e de métodos é direcionado pelo
processo de avaliação, e isso definirá o método de intervenção a ser usado. Por
exemplo: com um paciente que apresente queixas relacionadas a tristeza e apatia,
indica-se o uso de instrumentos para avaliar o humor. Outro ponto a ser
considerado, além do modelo cognitivo de avaliação, é o uso de medidas
psicrométricas, como o DSM -%, em que a classificação e o diagnóstico de
transtornos mentais são especificados em sinais e sintomas.
O uso do DSM-5 como complemento na avaliação em TCC não substitui
entrevistas, questionários e até mesmo a formulação e a conceitualização do caso

3
clínico, pois os “diagnósticos num geral são ateóricos, oferecendo descrições e
não explicações sobre o quadro clínico” (Andretta; Oliveira, 2011, p 165). É
importante pontuar que a avaliação inicial de um caso clínico em TCC precisa ser
constantemente formulada, pois dela dependerá a estruturação e o progresso no
tratamento (Andretta; Oliveira, 2011). Trataremos do uso da conceitualização
cognitiva na formulação do caso mais para frente.
Ao final do processo de avaliação do quadro clínico do paciente, você
poderá levantar algumas hipóteses, como: Quais eventos negativos levaram o
paciente ao desenvolvimento desse transtorno? Quais crenças nucleares e
centrais esse paciente desenvolveu? Como esse paciente faz as interpretações
do que acontece com ele? Como o pensamento e o comportamento do paciente
contribuem para a manutenção do transtorno? (Beck, 2013).
Dentro do modelo da TCC, o próximo passo no processo de tratamento é
a formulação do caso clínico.

Saiba mais

Instrumentos de avaliação em saúde mental, validados e padronizados


para o público brasileiro, com o objetivo de avaliar vários contextos do
comportamento humano, podem ser aprofundados nas seguintes obras. Observar
sempre, antes do uso de escalas ou inventários, a sua validação pelo Conselho
Federal de Psicologia.

• ANDRETTA, I.; OLIVEIRA, M. da S. (Org.). Manual prático de terapia


cognitivo-comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. cap. 8.
• GORENSTEIN, C.; PANG WANG, Y. Instrumentos de Avaliação em
Saúde Mental. Porto Alegre: Artmed, 2016.

TEMA 2 – FORMULAÇÃO DE CASO CLÍNICO

Após termos reunido informações sobre a história de vida do indivíduo,


suas queixas e sintomas, o próximo passo será a construção de algumas
hipóteses diagnósticas. Esses aspectos, juntos, irão determinar quais norteadores
e fatores devem ser monitorados e durante o tratamento. Assim começa o
processo de formulação de caso clínico, atuando como “guia para a escolha do
plano de tratamento para um caso específico [...]. A formulação pode ser
entendida como a soma de avaliação, diagnóstico, tratamento e plano de
tratamento” (Andretta; Oliveira, 2011, p. 163-164, grifos nossos).
4
As informações colhidas para a formulação de caso devem seguir sete
domínios: diagnóstico e sintomas; contribuições das experiências da infância e
outras influências do desenvolvimento; questões situacionais e interpessoais;
fatores médicos, biológicos e genéticos; pontos fortes e qualidades; padrões
típicos de pensamentos automáticos, emoções e comportamentos; esquemas
subjacentes. Além dos fatores que predispõem ao transtorno, é preciso considerar
fatores precipitantes, fatores perpetuadores, de proteção, quais pensamentos
estão relacionados a quais situações, e quais são as reações emocionais dos
indivíduos, bem como quais reações comportamentais e fisiológicas (Andretta;
Oliveira, 2011). A conceitualização cognitiva também faz parte do processo de
formulação do caso clínico, porém será detalhada em separado. Voltando à
formulação, ela

servirá, então, para que o terapeuta utilize os como um constructos


cognitivo-comportamentais para avaliar a combinação de sintomas,
problemas, e recursos de seu paciente e desenvolva a sua hipótese de
trabalho e o plano de tratamento, estando estes também incluídos na
formulação. (Andretta; Oliveira 2011, p. 164)

Um último ponto sobre a formulação: ela terá um plano de tratamento que


dirá quando e como as intervenções serão feitas, proporcionando empirismo
colaborativo entre terapeuta e paciente, e alicerçando a busca por soluções de
problemas e por intervenções mais efetivas (Andretta; Oliveira, 2011). Passemos
agora a um modelo de formulação de caso, considerando que há muitos
protocolos que descrevem modelos.
O modelo de formulação de caso clínico é referenciado por Andretta e
Oliveira (2011, p. 171-174):

Samuel, tem 27 anos e formou-se há três em Ciências da Computação.


Ele busca atendimento encaminhado pela psicóloga de uma consultoria
de recursos humanos em que participou de um processo seletivo, em
consequência da intensa ansiedade que apresentara durante entrevista
com ela [...] Samuel destaca-se na execução de seu trabalho e não tem
conseguido passar nas seleções em consequência de sua ansiedade [...]
refere que essa ansiedade lhe é comum em situações em que se sente
avaliado, como entrevistas de emprego, provas de concursos, eventos
em que deve apresentar seu trabalho para algum público ou locais com
muitas pessoas que não o conhecem e que, segundo ele, o “olham de
cima em baixo” [...] tais sintomas o atrapalharam muito ao longo da
faculdade e atrasam em alguns anos, a conclusão do curso, [...] não
conseguiu comparecer nas avaliações, em consequência da ansiedade
antecipatória que sentia [...] relata ter poucos amigos, com quem tem
algum contato, seus amigos de infância. Samuel refere que nos últimos
anos tem evitando, inclusive, o contato com esses amigos, visto que
eles, em sua maioria, já estão bem empregados e até casados, enquanto
ele se sente “tentando começar a vida, mas fracassando em tudo o que
faz”. Quando questionado sobre sua história, conta que nasceu com
suspeita de problemas cardíacos, em consequência disso, permaneceu
5
internado no hospital, em incubadora por trinta dias [...] É filho púnico de
um casal de classe alta de uma cidade do interior, e nasceu quando o
pai tinha 58 anos. Segundo Samuel, o pai sempre foi “um velho ranzinza”
com ele, bastante rígido em sua educação, sempre exigia silêncio e
excelente comportamento [...] Samuel apanhava do pai por ter falado
muito alto ou ter rido durante as refeições da família [...] quando o pai
sentia-se incomodado com seu comportamento, dizia-lhe que “ele não
tinha jeito”, “jamais teria concerto” ou “era uma vergonha”[...] a mãe era
submissa ao pai, tendo a responsabilidade de “manter a casa em ordem”
[...] eram raros os dias em que podia brincar com os colegas e amigos.
Quando questionado sobre transtornos mentais na família, ele refere que
nenhum dos familiares próximos buscou atendimento, portanto não
possuem diagnóstico de seu conhecimento, [...] levanta-se a suspeita de
que a mãe ter transtorno depressivo maior. Samuel lembra-se de ser
tímido, e acreditava que deveria ser muito educado, bom e agradável na
interação com todos, mas que, quando conseguia iniciar a interação com
outros, sentia que não conseguia atingir o mínimo que julgava ser
necessário, sentindo-se cada vez pior e diminuindo gradativamente as
tentativas de novos contatos. Hoje diz que se as pessoas o avaliarem,
verão que ele é diferente [...] “anormal” para definir-se. Percebe que esse
temor vem atrapalhando significativamente sua vida, diz-se motivado
para o tratamento, pois quer sentir-se “normal”. Entre os objetivos que
relata estão: conseguir um emprego, ter novos amigos e não temer sair
com eles”.

Vamos agora preencher a formulação do caso no Quadro 1 a partir dos


dados informados pelo caso clínico. Lembre-se de que a formulação de caso está
em constante atualização ao longo do tratamento, pois novas informações podem
ser acrescentadas à conceitualização e às hipóteses de trabalho, bem como ao
plano de tratamento. Faça o seguinte exercício antes de olhar para a formulação
preenchida: assista o vídeo da Aula 2, no Tema 2, onde explicarei melhor como
funcionam os componentes da formulação de caso clínico. Na sequência, releia o
caso clínico, e depois desse processo acompanhe o preenchimento desse modelo
de formulação no Quadro 1. O estudo teórico do modelo da formulação de casos
clínicos é um momento importante para se testar a aplicação de alguns conceitos
teóricos aprendidos no modelo da TCC.

6
Quadro 1 – Formulação de caso clínico

FORMULAÇÃO DE CASO COGNITIVO-COMPORTAMENTAL


1- Identificação do paciente
Nome: Samuel C. G. Idade: 27
Profissão: formado em ciências da Religião: católico
computação/desempregado
Estado civil: solteiro Grau de escolaridade: superior completo
Número de dependentes: 0
2- Lista de problemas:
1- intensa ansiedade social
2- desemprego
3- pouca interação social
4- critérios próprios de adequação do desempenho social bastante elevados

3- Diagnóstico

Eixo I: Fobia social


Eixo II: Nada consta
Eixo III: Nada consta
Eixo IV: problemas com o grupo primário de apoio, problemas relacionados ao ambiente social
e problemas ocupacionais
Eixo V: AGF 49

4- Conceitualização cognitiva
Dados relevantes da história

Internação em incubadora por trinta dias.


Educação rígida, bastante inibido em interações sociais na infância.
Pai o agredia física e psicologicamente.
Mãe com provável diagnóstico de transtorno depressivo maior.
Poucos amigos.

Tríade cognitiva
Visão de si Visão do mundo Visão de futuro
Incapaz. Povoado de pessoas melhores que Incerto.
Fracassado. eu.

Crenças centrais

Sou anormal.
Sou um fracasso.

Crenças intermediárias

Se não tenho as mesmas realizações que meus amigos, então sou um fracasso.
Se não sou bom, educado e agradável na interação com os outros, então fracassei.
Se me avaliarem, verão que sou anormal.

Estratégias compensatórias

Evitação da interação com os amigos.


Evitação de contato com desconhecidos.
Fuga de situações em que se possa ser avaliado.

Situação 1 Situação 2 Situação 3


Entrevista de emprego. Não conseguir ter uma vida assim. Eles não devem querer
alguém como eu.
Pensamentos automáticos Pensamentos automáticos Pensamentos
automáticos

7
Ela vai ver que sou um Não conseguirei ter uma vida assim. Eles não devem querer
fracasso. alguém como eu.
Emoções Emoções Emoções
Ansiedade. Tristeza. Ansiedade.
Comportamentos Comportamentos Comportamentos
Gagueira. Não retornar os contatos posteriores Não comparecer à
Sudorese. do amigo. seleção.
Dificuldades para falar de
forma clara.
5- Hipótese de trabalho

Situações precipitantes ou ativadoras: maior necessidade de interação social com estranhos


após conclusão do Ensino Fundamental.
Fatores predisponentes: inibição na infância, educação rígida, mãe possivelmente com
transtorno depressivo maior.
Fatores perpetuadores: critérios de adequação do desempenho social bastante elevados,
crenças de inadequação e valor.

Resumo da hipótese de trabalho:


Inibição e agressão na infância + Maior necessidade de Critérios de adequação do
predisposição genética interação social desempenho social
elevados.

Crenças de
inadequação e desvalor
Evitação de situações
sociais.
Pensamentos
relacionados ao
fracasso e inadequação humor ansioso
social

6- Pontos fortes e recursos:


Boa capacidade profissional, consciência dos problemas apresentados e motivação para o
tratamento.
7- Plano de tratamento:

Objetivos e metas: maior habilidade na interação social, ampliação da rede social, colocação
no mercado de trabalho adequado às suas capacidades profissionais.
Intervenções: familiarização com o modelo para possibilitar o trabalho para a reestruturação
cognitiva concomitante ao ensino de técnicas de manejo da ansiedade, após maior familiaridade
com o modelo, início do treino de habilidades sociais, posteriormente algum avanço no treino
de habilidades e na reestruturação cognitiva, início do treino de técnicas de exposição.
Obstáculos: severidade dos sintomas, rede de apoio insuficiente, atividade profissional com
baixa exigência de interação social.

Fonte: Andretta; Oliveira, 2011, p. 172-174.

Finalizamos este tema reforçando que a formulação de caso não pode ser
vista como uma verdade absoluta sobre o paciente, mas sim como hipóteses que
vão sendo levantadas sobre o seu perfil de funcionamento, que servirão, como já
dissemos, de guia para o processo de tratamento individualizado,
independentemente do protocolo de tratamento (Andretta; Oliveira, 2011).

8
TEMA 3 – CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA

Abordaremos agora apenas um conceito pontual, com o objetivo de


complementar e reforçar a importância da conceitualização cognitiva dentro da
formulação de caso clínico. Lembramos que a conceitualização cognitiva, também
conhecida como Diagrama de Conceituação Cognitiva, é uma das partes mais
importantes do processo de avaliação de caso. A confusão entre conceitualização
e formulação não é incomum, pois vários autores e materiais se referem à
formulação de caso como conceitualização de caso. Tratar os dois termos como
se fossem uma mesma coisa não está incorreto; o importante aqui é entender a
conceitualização cognitiva como parte da formulação de caso.
A conceitualização cognitiva é um retrato do processamento da informação
do paciente, exemplificado por situações no formato de um Registro de
Pensamentos Disfuncionais (RPD). Uma analogia que simplifica as diferenças
entre os termos seria que a formulação de caso clínico é específica de um
paciente e de seu perfil de problemas individuais, enquanto a conceitualização
cognitiva é um recorte de como as “cognições” desse paciente funcionam
(Andretta; Oliveira, 2011).

Cada indivíduo e cada transtorno psicológico exigem uma


conceitualização cognitiva específica e individual, pois se relacionam a
um conjunto determinado de PAs, crenças intermediárias e crenças
centrais. Dessa maneira, o plano de tratamento da TCC deve basear-
se na conceitualização cognitiva do cliente e no modelo cognitivo
específico de cada psicopatologia. (Neufeld; Cavenage, 2010, p. 12,
grifos nossos)

Encerrando os apontamentos sobre a conceitualização cognitiva, vamos


continuar nosso estudo seguindo o “passo a passo” no raciocínio teórico-clínico
do modelo cognitivo-comportamental, agora pensando na estruturação da sessão
de terapia em TCC.

TEMA 4 – ESTRUTURA DA SESSÃO DE TERAPIA SEGUNDO O MODELO


COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

A estruturação das sessões segundo o modelo cognitivo-comportamental


vai além de uma simples lista de objetivos, com começo, meio e fim. Para se
compreender melhor a estruturação de uma sessão, algumas perguntas ajudam
a desenvolver o entendimento sobre o “formato de uma sessão” na TCC. Logo,
vamos a algumas perguntas simples, que irão nos ajudar nesse processo
9
(Andretta; Oliveira, 2011). Primeiro: por que estruturar uma sessão? Segundo:
como é o padrão geral de uma sessão de terapia no modelo da TCC?. Terceiro:
quais são as diferenças entre as sessões inicias e as demais. Por último: quais
outras considerações são necessárias ao se estruturar uma sessão de terapia?
Dito isso, vamos à primeira parte.

4.1 Estruturar a sessão de terapia em TCC

O ponto principal que reforça a necessidade de se estruturar a sessão de


terapia é a ideia de que na TCC a terapia é orientada para a resolução de
problemas atuais do paciente. A terapia é educativa, e o paciente se torna o seu
próprio terapeuta. Logo, é importante que o paciente saiba o que ele pode esperar
do processo da terapia; com isso, garante-se a psicoeducação sobre o processo
de terapia em TCC, com referência ao transtorno apresentado, e com clareza
quanto à estrutura da sessão e ao papel de cada um, terapeuta e paciente
(Andretta, Oliveira, 2011). Assim, “estruturar a sessão facilita a compreensão do
que está acontecendo no decorrer da terapia, e de como os seus problemas serão
solucionados e os transtornos tratados, tornando a própria estruturação da
consulta psicoeducativa” (Andretta; Oliveira, 2011, p. 120).
Outras justificativas são importantes no objetivo de se estruturar as
sessões: torna a terapia mais eficiente na remissão dos sintomas e na resolução
de problemas; padroniza as sessões; aumenta-se a eficácia do processo
terapêutico; o estabelecimento de metas terapêuticas orienta o paciente na
resolução dos problemas; a estruturação da sessão por si já proporciona a
aprendizagem e mantém o tratamento organizado e focado nas metas
terapêuticas; estruturar as sessões traz segurança ao paciente, na medida em
que possibilita analisar a evolução dos sintomas e das queixas de uma sessão
para a outra. Por fim, otimizar o processo terapêutico é o principal objetivo de se
estruturar as sessões de terapia.
Esse “modelo de sessão” tem como meta final um plano terapêutico que
traga a diminuição de sofrimento emocional e a remissão de sintomas. Como
veremos na sequência, a avaliação de humor, a conexão com os acontecimentos
vivenciados pelo paciente (na semana de intervalo da sessão de terapia), além da
correlação desse ponto com as metas terapêuticas e com o feedback, são as
bases do modelo de uma sessão de terapia em TCC (Andretta; Oliveira, 2011).

10
4.2 Sessão de terapia

As sessões da TCC são estruturadas com foco em avaliação do humor,


discussão sobre assuntos relevantes relacionados às metas, tarefa de casa,
definição de novas tarefas de terapia, resumo da sessão, e por fim solicitação de
feedback da sessão. O Quadro 2 traz esses componentes.

Quadro 2 – Estrutura da sessão em TCC

1- Avaliar o humor;
2- Breve atualização (medicação, uso de drogas, sintomas do transtorno);
3- Realizar uma ponte com a sessão anterior;
4- Estabelecer a agenda;
5- Revisar a tarefa de casa;
6- Discutir tópicos da agenda e utilizar ferramentas terapêuticas;
7- Estabelecer nova tarefa de casa;
8- Resumir a sessão e dar e solicitar o feedback.

Fonte: Andretta; Oliveira, 2011, p. 121.

4.3 Primeira sessão no modelo da TCC

A primeira sessão de terapia no modelo da TCC vem depois do processo


de avaliação, quando foram definidos os aspectos diagnósticos, e da formulação
do caso clínico, quando foram definidos inicialmente a conceitualização cognitiva
do paciente e o plano de tratamento. Conforme já mencionamos, a estruturação
das sessões e a psicoeducação favorecem a aprendizagem do paciente ao
modelo cognitivo-comportamental.
Vejamos as metas que o terapeuta precisa definir para a primeira sessão
de terapia:

motivar o paciente a vir a sessão seguinte, dando-lhe esperança quanto


ao sucesso da terapia. Beck (1997) apresenta como metas [...] as
seguintes: estabelecer confiança e rapport; socializar o paciente à
terapia cognitiva; educar o paciente sobre o seu transtorno, modelo
cognitivo e processo de terapia; regularizar as dificuldades do paciente
e instaurar esperança; avaliar quais são as expectativas do paciente
quanto à terapia; coletar informações sobre dificuldades do paciente;
utilizar essas informações na lista de metas. (Andretta; Oliveira, 2011, p.
130)

Para se chegar a esses objetivos, Andretta e Oliveira (2011, p. 130)


orientam a estruturação da primeira sessão da seguinte forma:

avaliar o humor; estabelecer a agenda; revisar o problema e obter


atualização de avaliação; identificar problemas e estabelecer e metas;
educar o paciente sobre o modelo cognitivo; avaliar as expectativas do

11
paciente quanto a terapia; educar o paciente sobre o seu transtorno;
estabelecer tarefa de casa; e resumir a sessão e solicitar o feedback.
(Andretta; Olievira, 2011, p.130)

Os aspectos gerais da estruturação das sessões intermediárias e da fase


final do tratamento serão abordados no vídeo da aula. Vejamos, agora, a
formulação de caso. A ideia é trazer aprofundamentos em alguns tópicos de
grande importância dentro do processo psicoterapêutico.

TEMA 5 – RELEVANTES NA FORMULAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS NO MODELO


DA TCC

O processo de aprendizagem de novos conceitos e métodos dentro de uma


área de atuação teórico-clínica exige o cumprimento de etapas pré-estabelecidas
– ao aplicar todos os métodos, saberemos desenvolver um raciocínio clinico sobre
as demandas e queixas de um paciente. Assim será com os princípios básicos de
manejos teóricos e de técnicas na TCC. Nosso entendimento de todo o processo
psicoterapêutico do começo ao fim é o que determinará o quanto estamos aptos
e preparados para colocar em prática todo o conhecimento adquirido. Por isso,
colocamos os conceitos desta aula em sequência, para facilitar o entendimento
do trabalho psicoterapêutico dentro dos pressupostos da TCC.
Quando recebemos um paciente para psicoterapia, as queixas e sintomas
apresentados podem estar relacionados há inúmeros quadros clínicos, como
ansiedade ou depressão, transtornos de humor, transtornos de personalidade e
outras questões que envolvam o sofrimento humano. O desafio será aplicar todo
nosso conhecimento dentro do processo de psicoterapia cognitivo-
comportamental para ajudar os pacientes, de forma a diminuir seus sofrimentos,
para que possam ter formas mais realistas de interpretar suas experiências.
Os passos a serem seguidos dentro dos princípios básicos incluem
métodos teóricos da TCC, avaliação, formulação de caso e estruturação das
sessões de terapia; por fim, procede-se à aplicação de técnicas cognitivas e
comportamentais dentro dos protocolos de tratamentos propostos pela TCC.
Nessa parte final, vamos aprofundar conceitos da formulação de caso clínico, que
representa uma peça importante na aquisição de conhecimentos da TCC.
Bernard Rangé sugere uma proposta de formulação de caso clínico
baseada na sua experiência, com orientações para futuros psicoterapeutas em
TCC. Nessa “versão”, o autor estrutura e integra os modelos de Aaron Beck,

12
Pearson e Linehan, e mais recentemente de Young, Klosko e Weishaar, de 2008.
Essas propostas juntas são base para um método de conceitualização
colaborativa entre terapeuta e paciente:

Há diversos modelos de formulação de casos em Psicoterapia Cognitivo-


Comportamental. Todos eles são validos e tem peculiaridades
interessantes. Percebe-se que, com o desenvolvimento de novas
abordagens psicoterápicas e/ou novas teorias cognitivas da gênese e do
desenvolvimento da personalidade, surgem novos formatos de
conceitualização. Os psicoterapeutas, com o aprimoramento de suas
habilidades e de acordo com os tipos de pacientes (psicopatologias,
faixas etárias, etc.) que mais atendem, acabam por utilizar o formato que
tenha melhor coerência em suas práticas. São adequações praticas em
que o paciente e o maior beneficiário. (Rangé, et al, 2011, p. 121)

Os componentes da formulação cognitiva de caso para adultos, no Quadro


3, incluem elementos componentes já conhecidos no modelo de formulação.
Porém, em alguns itens, é possível ver um aprofundamento na descrição de outros
aspectos devem ser considerados quando estamos realizando o estudo do caso
clínico de um paciente.

Quadro 3 – Formulação de caso clínico para adultos

1. Dados de Identificação do Paciente:


a) Nome do Paciente; b) Idade; c) Escolaridade; d) Profissão e Ocupação;
e) Estado civil e com quem reside; f) Religião; g) Genetograma; h) Outros profissionais que
atendem o paciente (motivo); i) Tratamentos psicoterápicos anteriores.
2. Uso de Medicações
a) Uso de entorpecentes atuais; b) Medicações psiquiátricas atuais (com dose); c) Medicações
não psiquiátricas atuais; d) Toda as três classes acima, anteriormente utilizadas.
3. Motivo da Busca do Atendimento
4. Forma de Encaminhamento
5. Informações Históricas Relevantes
a) História familiar: pais e sua relação com eles; relacionamento com irmãos; fatos marcantes
da infância e da adolescência; possíveis traumas; b) História escolar: percepção geral;
amizades; desempenho acadêmico; situações traumáticas; c) História social: amizades; nível
de atividades sociais; interesses pessoais; d) História sexual: interesses e preferências; início
de atividade sexual (masturbação e relacionamentos); crenças vinculadas; possíveis traumas.
6. Lista de Problemas:
7. Diagnostico Ateórico (Multiaxial): a elaboração de hipóteses diagnósticas conforme os
manuais classificatórios (DSM-IV-TR e CID-10).
8. Diagnóstico Teórico
a) Tríade Cognitiva
i. Visão de Si
ii. Visão dos Outros/Mundo

13
iii. Visão do Futuro
b) Diagrama de Conceitualização Cognitiva.
c) Esquemas Iniciais Desadaptativos e Estilos de Enfrentamento (Young)
d) Pontos fortes e recursos
e) Crenças que podem interferir no atendimento
f) Aspectos ambientais relevantes
g) Aspectos familiares ou do estilo de vida que podem prejudicar a terapia.
9. Focos do Tratamento
10. Plano de Tratamento

Fonte: Rangé, 2011, p. 121-3.

Os aprofundamentos sobre esse modelo integrado serão complementados


na aula de vídeo. Ao finalizar este tema, exercite os conceitos da aula, escolhendo
um caso clínico que você considere pertinente. Tente exercitar os conceitos de
avaliação, formulação e conceitualização cognitiva. A ideia é desenvolver as
etapas de um caso nos moldes da TCC. A experiência clínica é resultado do
exercício gradativo de métodos e conceitos aprendidos, mantendo sempre o foco
no que é a “base” no modelo proposto. Dúvidas e inseguranças sempre vão existir,
então comece pelo básico e vá aprofundando seus conhecimentos aos poucos.
Até breve.

Leitura Complementar

GORENSTEIN, C.; PANG WANG, Y. Instrumentos de Avaliação em Saúde


Mental. Porto Alegre: Artmed, 2016.

14
REFERÊNCIAS

ANDRETTA, I.; OLIVEIRA, M. da S. (Org.). Manual prático de terapia cognitivo-


comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

BECK, J. S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2. ed. Porto


Alegre: Artmed, 2013.

NEUFELD, C. B.; CAVENAGE, C. C. Conceitualização cognitiva de caso: uma


proposta de sistematização a partir da prática clínica e da formação de terapeutas
cognitivo-comportamentais. Rev. bras. ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, dez.
2010.

RANGÉ, B. et al. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com


a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2011.

15

Você também pode gostar