Triagem Auditiva em Escolares de 5 A 10
Triagem Auditiva em Escolares de 5 A 10
Triagem Auditiva em Escolares de 5 A 10
RESUMO
Tabela 2 – Escolares dos grupos I, II e III, segundo os achados da Curva Timpanométrica (CT) nas
Orelhas Direita (OD) e Esquerda (OE)
OD OE
CT
GI GII G III Total GI G II G III Total
A 66% 79,35% 96,84% 80,5% 69% 77,1% 91,58% 79,10%
Ar 7% 4,35% 3,16% 4,88% 6% 6,52% 7,37% 6,63%
B 1% 0% 0% 0,35% 1% 0% 0% 0,34%
C 26% 16,3 % 0% 14,22% 24% 16,3% 1,05% 13,98%
Total N 100 92 95 287 100 92 95 287
% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Tabela 3 – Escolares dos grupos I, II e III, segundo os resultados obtidos na pesquisa do reflexo
acústico ipsilateral (RA IPSI) nas Orelhas Direita (OD) e Esquerda (OE)
OD OE
RA IPSI
GI GII G III Total GI G II G III Total
Presente 90% 80,43% 91,58% 87,45 74% 80,43% 88,42% 80,8%
Ausente 10% 19,57% 8,42% 12,54 26% 19,57% 11,58% 19,2%
TOTAL N 100 92 95 287 100 92 95 287
% 100 100 100 100 100 100 100 100
Tabela 4 – Resultados das Equações de Estimação Generalizada para comparação dos tipos de
curvas timpanométricas e reflexo acústico ipsilateral, considerando-se o sexo masculino e feminino,
o lado direito e esquerdo e os grupos I, II e III
Tabela 5 – Escolares dos grupos I, II e II, segundo as medidas de posição e dispersão calculadas para
os testes de localização sonora (LS) e memória sequencial para sons verbais (MSSV) e não verbais
(MSSNV)
Sexo/ Mínimo/
Teste N Média DP Mediana p-valor
Grupos Máximo
F 164 4,5 1,0 2/5 5,0 FxM
M 123 4,4 1,0 2/5 5,0 0,0364*
LS GI 100 4,1 1,2 2/5 4,0 GIxIIxIII
GII 92 4,5 1,0 2/5 5,0 <0,0001*
GIII 95 4,8 0,5 3/5 5,0
F 164 1,91 1,03 0/2 2,0 FxM
M 123 1,85 0,91 0/3 2,0 0,6419
MSSNV GI 100 1,86 1,03 0/3 2,0 GIxIIxIII
GII 92 1,82 0,91 0/3 2,0 0,4992
GIII 95 1,98 0,99 0/3 2,0
F 164 1,95 0,89 0/3 2,0 FxM
M 123 2,14 0,82 0/3 2,0 0,645
MSSV GI 100 1,94 0,83 0/3 2,0 GIxIIxIII
GII 92 1,99 0,85 0/3 2,0 0,1453
GIII 95 2,17 0,92 0/3 2,0
p-valor (GI x GII x GIII)= <0,0001* (GIII maior porcentagem de resultado PASSOU)
p-valor (FxM) = 0,5541
Figura 1 – Escolares dos grupos I, II e III, que passaram ou falharam na triagem auditiva, considerando-se
a imitanciometria
Figura 2 – Distribuição dos escolares dos grupos I, II e III, que passaram ou falharam na triagem
auditiva, considerando-se os testes de processamento auditivo
equipamentos sofisticados, para que pudessem casos de disfunção tubária 1,13,16. A timpanometria
ser aplicados no ambiente escolar. Para a aplica- é um teste objetivo, rápido e que tem sido ampla-
ção dos testes monóticos e dicóticos faz-se neces- mente utilizado nos programas de triagem auditiva,
sário audiômetro de dois canais acoplados a um principalmente para identificar alterações de orelha
compact disc, o que inviabilizou a seleção destes média. A sensibilidade e especificidade da timpa-
procedimentos. nometria na detecção de alteração de orelha estão
Os resultados obtidos neste estudo mostra- bem estabelecidas, em torno de 80% 17.
ram que aproximadamente 80% dos escolares Na pesquisa do reflexo acústico ipsilateral,
apresentaram curva do tipo A na timpanometria, a resposta esteve presente na OD, em 87,45%
o que revela função normal da orelha média. As (N=251/287) das crianças e em 80,8% (N=232/287)
curvas que revelaram comprometimento da orelha
na OE (Tabela 4).
média foram as do tipo Ar, B e C e foram encon-
tradas em 20% das crianças avaliadas (Tabela 2). Neste estudo, foi considerado que a criança
A curva do tipo Ar indica uma rigidez do sistema PASSOU na imitanciometria, quando apresentou
tímpano-ossicular e pode ser observada nos casos curva timpanométrica do tipo A e presença de refle-
de otosclerose, membrana timpânica espessada ou xos acústicos ipsilaterais. Assim sendo, 60,62%
maciçamente cicatrizada e em alguns casos de tim- (N=174/287) dos escolares passaram, ou seja,
panosclerose 1,16. A curva do tipo B é encontrada apresentaram condições de orelha média normais,
em casos de presença de líquido no espaço da ore- além de integridade de vias auditivas até o tronco
lha média, enquanto que a curva tipo C ocorre em encefálico.
Estudos da literatura mostram diferenças no média. A tuba auditiva infantil alcança o compri-
índice de Passa/falha que podem ser atribuídas a mento do adulto por volta dos sete anos de idade
diferentes metodologias utilizadas na triagem audi- e daí em diante sua maturidade está perto de ser
tiva, além da faixa etária estudada e os critérios de alcançada 4. A partir de uma revisão sistemática da
normalidade adotados. literatura, pesquisadores apontam o cuidado em
Estudo da literatura especializada mostra que creches como um dos fatores de risco ambientais
passaram na triagem auditiva apenas 53,8% das relacionados à otite média, além das infecções de
crianças, utilizando a timpanometria, audiometria vias aéreas superiores, sazonalidade, presença de
tonal liminar e otoscopia, para avaliar escolares de irmãos (tamanho da família), exposição passiva ao
três a quatro anos. Considerando cada teste iso- fumo, amamentação, nível socioeconômico e uso
ladamente e por orelha, encontraram 93%, 77% e de chupeta. Os fatores de risco não estão direta-
75% para otoscopia, audiometria tonal e timpano- mente relacionados à fisiopatologia da doença, mas
metria, respectivamente 18. Com metodologia seme- quando presentes representam risco aumentado da
lhante, pesquisadores verificaram que 89% e 91% doença, provavelmente por influenciar um ou mais
de crianças com idade média de cinco anos, pas- mecanismos causais. Comentam ainda, que a pre-
saram na audiometria tonal e timpanometria, res- valência de pressão negativa na orelha média e tim-
pectivamente 19. Outros autores encontraram falha panograma do tipo B é maior em crianças cuidadas
na timpanometria em 33% (194) das crianças com em creches, intermediária em crianças cuidadas
idade média de 37 meses 20. A triagem auditiva foi em casas de família com menos colegas e menor
estudada em crianças de três a cinco anos utilizando ainda em crianças cuidadas em casa 23.
a audiometria tonal liminar e a timpanometria. Pas- Acredita-se que os grupos I e II apresentaram
saram em ambos procedimentos, 82% das crianças um número maior de crianças que falharam na
estudadas. Considerando os testes isoladamente, triagem auditiva por situarem-se na faixa etária
88% das crianças passaram na audiometria tonal que coincide com o segundo maior pico de inci-
liminar e 87% na timpanometria 21. dência de otite média na infância, provavelmente
Na análise estatística, constatou-se que houve pela imaturidade da tuba auditiva, dentre outros
diferença estatisticamente significante entre a curva fatores. Assim sendo, a triagem auditiva torna-se
timpanométrica e os grupos estudados. A curva do imprescindível principalmente nas crianças até oito
tipo A foi mais frequente nas crianças maiores, do anos. No entanto, crianças maiores com risco para
grupo III. Além disso, o Grupo III apresentou maior alterações de orelha média ou dificuldade escolar
número de resposta presente para o reflexo acús- devem ser selecionadas para triagem. Os escola-
tico, sendo a diferença entre os grupos estudados res que falharam nesta etapa da triagem auditiva
estatisticamente significantes (Tabela 5). foram encaminhados para avaliação e conduta
A otite média é uma doença altamente preva- otorrinolaringológica, a fim de minimizar os efeitos
lente na infância, com maior pico de incidência entre das afecções da orelha média na saúde e desenvol-
seis e 24 meses de idade e com segundo pico de vimento da criança. Na análise dos testes especiais
incidência entre quatro e sete anos 4. Sua ocorrên- de processamento auditivo, verifica-se que a média
cia está relacionada a um desequilíbrio dos meca- de acertos obtida para os três grupos estudados no
nismos de proteção, aeração e drenagem da orelha Teste de Localização Sonora encontra-se dentro
média, ou seja as chamadas disfunções tubárias 4. dos padrões de normalidade, ou seja, acertar qua-
A tuba auditiva é um tubo ósteo-cartilaginoso que tro ou cinco posições. A análise estatística mostrou
comunica a orelha média com a nasofaringe e tem diferença estatística no desempenho entre meninos
três funções: ventilação e proteção da orelha média e meninas. Nesta tarefa, as meninas tiveram melhor
e clearance tubário (muscular e ciliar). Pequenas desempenho que os meninos. Com relação à faixa
obstruções da tuba auditiva que criem pressão etária, ocorreram diferenças estatisticamente signi-
negativa na orelha média podem levar a aspiração ficantes no desempenho das crianças. O GIII obteve
de secreções da rinofaringe para a cavidade timpâ- melhores resultados que os outros dois grupos e o
nica 22. Existem diferenças entre a tuba auditiva do desempenho das crianças do GII foi superior aos
adulto e da criança. Nas crianças, a inclinação da do grupo I. No entanto, no Teste de Memória para
tuba é de 10º em relação ao eixo horizontal e nos sons em sequência tanto para sons verbais, quanto
adultos essa inclinação é de 45º. Paralelamente, não verbais, foi encontrada média de acertos infe-
o comprimento da tuba é metade da dos adultos. rior ao esperado para a faixa etária das crianças
Esses dois fatores fazem com que nas crianças o dos grupos I e II principalmente. Não foi encontrada
refluxo das secreções da nasofaringe para a ore- diferença estatisticamente significante ao consi-
lha seja mais rápido e maior e assim, favorecem derar o sexo, os grupos estudados e a habilidade
problemas inflamatórios e infecciosos da orelha de memória para sons em sequência. Além disso,
ABSTRACT
Purpose: to analyze schoolchildren’s performance in hearing screening, considering male and female
genders and ages in groups I, II and III. Methods: two-hundred and eighty-seven male and female
schoolchildren, 5 to 10-year old, who attended the Child and Adolescent Program – University of
Campinas (Prodecad/Unicamp), were evaluated. Hearing screening was constituted by meatoscopy,
imitanciometry – tympanometry, and acoustic reflex research, in addition to tests which comprise the
simplified evaluation of hearing process. Results: considering imitanciometry, 60.6% of schoolchildren
presented normal median ear conditions, in addition to integrity of hearing tracts up to encephalic
trunk. Fifty-six percent of schoolchildren presented good results in the hearing screening process.
Groups I and II presented a larger number of children who failed in hearing screening, considering
either imitanciometry or hearing processing tests. Conclusion: hearing screening is an effective way
to determine the adequate conduct to be adopted with schoolchildren regarding peripheral hearing
loss and/or hearing abilities.
DOI: 10.1590/S1516-18462009005000037
RECEBIDO EM: 17/10/2008
ACEITO EM: 04/01/2009